Por Marina Falcão | De São Paulo
"Um acordo para enxugar o quadro de diretores e melhorar nossos níveis de eficiência." É assim que o presidente da Trisul, Jorge Cury, justificou ontem, ao Valor, a recente saída de dois dos principais executivos da companhia.
Segundo o executivo, Lincoln Carvalho de Castro, ex-diretor financeiro, e Marco Antônio Cattini Mattar, ex-relações com investidores, "abdicaram" de seus cargos em prol de um processo de reestruturação, que começou a ser implementado com a contratação da consultoria Grados, no segundo trimestre do ano.
Os dois executivos deixaram a empresa num momento em que a Trisul tentava fazer as pazes com o mercado depois de atrasar, por dois meses, a publicação do balanço de abril a junho. De janeiro pra cá, as ações caíram 60,6% e a companhia perdeu R$ 355,8 milhões em valor de mercado.
Cury assume que a Trisul não conseguiu entregar o demonstrativo em tempo hábil para que a Ernst & Young fizesse a checagem dos dados. O motivo do atraso foi uma revisão de custos de obras. Mas o executivo garante que o desligamento dos diretores, na semana passada, não tem relação com esse fato.
Essa versão - sustentada também por Mattar e Castro - contrasta com a que foi descrita por uma fonte próxima à Trisul, segundo a qual os executivos estariam sendo responsabilizados pela sucessão de deslizes da empresa neste ano.
Segundo Mattar, a consultoria Grados identificou que as informações da Trisul - tanto contábeis quanto técnicas - não estavam uniformizadas. "Reunir os dados em uma só pessoa melhorará este problema, além de reduzir custos." O gasto médio com a remuneração dos três diretores estatutários da Trisul em 2010 foi de R$ 703,1 mil, segundo a companhia.
Com uma fatia de 5,75% na construtora, Mattar permaneceu como membro do conselho de administração. Já Castro deixou a companhia com a possibilidade de ganhar uma vaga de conselheiro a partir do ano que vem.
Os cargos antes ocupados por eles ficaram reunidos em torno de um só executivo: Fernando Salomão, diretor administrativo, que acumulará agora três funções.
A revisão orçamentária custou um total de R$ 88,7 milhões ao resultado líquido da Trisul no primeiro semestre deste ano, período em que foi apurado um prejuízo de R$ 46,8 milhões.
Segundo notas explicativas do balanço assinado pela E&Y, o fenômeno ocorreu devido às renegociações e a novos aditivos de contratos com parceiros e subempreiteiros, à necessidade de refazimento de serviços que não estavam em conformidade com os controles de qualidade e à escassez e alta dos custos com mão de obra, insumos e locação de equipamentos.
Situação semelhante também afetou o desempenho de outras construtoras listadas na bolsa no segundo trimestre. É o caso de Cyrela, Gafisa, MRV e Camargo Corrêa Desenvolvimento Imobiliário. Apenas a Trisul, no entanto, atrasou a apresentação do balanço.
Pressionada pelos investidores, a companhia chegou a divulgar números não auditados em setembro, mesmo sem o aval do conselho fiscal, que se absteve de deliberar sobre o tema.
Constrangimentos desse tipo não devem se repetir com os números do terceiro trimestre. "A boa notícia é que não vamos atrasar. O balanço sai dia 15", garantiu Cury.
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