29/11/2011

Falta de liquidez turbina alta do dólar no Brasil

Por Fernando Travaglini

À medida que se aproxima o fim do ano, a liquidez no mercado de câmbio tende a diminuir nos pregões diários. É uma regra básica das mesas de bancos e corretoras, não arriscar, no último mês, o resultado construído ao longo do ano. Mas esse movimento, que se repete todos os anos, tem se aprofundado ainda mais nas últimas semanas, com a escassez de recursos externos em meio ao aumento da aversão ao risco ao redor do globo.

Os tesoureiros já notaram uma redução substancial da oferta de moeda, tanto no mercado à vista (conhecido como câmbio spot), quanto nos contratos futuros negociados na BM&F. Mesmo em setembro, quando a moeda americana ganhou 18,14% contra o real, a entrada de recursos externos se manteve em patamar razoável.

O único volume mais expressivo visto nessa semana foi de hedge de empresas - que venderam contratos de dólar a termo na Cetip. A posição de exportadores aumentou US$ 1,6 bilhão entre quinta-feira e sexta-feira, segundo relato de operadores desse mercado.

Moeda subiu quase 6% aqui, contra 2% ao redor do mundo

O volume total dessas transações, que havia se aproximado de US$ 10 bilhões em setembro, em meio ao overshooting cambial, chegou a recuar para US$ 6 bilhões em outubro, com a melhora da cotação da moeda americana. Mas a nova puxada do dólar fez com que as companhias voltassem a procurar proteção para suas exposições.

O resultado dessa menor liquidez é um câmbio mais volátil e também mais depreciado. Na semana passada, o dólar ganhou 5,78% sobre o real - mesmo fechando em leve queda, de 0,32%, na sexta-feira, cotado a R$ 1,886. Outras moedas também perderam valor frente à americana, mas o tombo foi menor. A segunda colocada no ranking da desvalorização na semana foi a coroa sueca, com queda de 2,84%, menos da metade.

A desvalorização do real foi mais forte do que o esperado, segundo André Hübner, chefe de Global Market do HSBC. Mas ele pondera que também não esperava que situação internacional se deteriorasse tanto como ocorreu nos últimos dias - o mercado externo é hoje o principal determinante do preço do dólar no pregão doméstico.

Se o volume de entrada de divisas é baixo, o fluxo de saída de moedas deve ganhar algum vigor em dezembro, com a programação de remessa de lucros e dividendos das multinacionais e o pagamento de serviços da dívida de empresas e bancos no exterior.

Soma-se a isso uma situação internacional ainda bastante indefinida e a tendência, pelo menos no curto prazo, continua sendo de depreciação da moeda brasileira frente ao dólar, seguindo movimento que se repete em praticamente todos os países, decorrente da fuga dos ativos financeiros para a segurança do dólar.

O Brasil tem uma estrutura curiosa. A movimentação é baixa, mas os bancos estão com moeda disponível. O caixa em dólar, à vista, é da ordem de US$ 3 bilhões. Há, portanto, sobra de dólar no mercado spot. Um sinal disso é o valor do chamado cupom cambial - diferença entre o juro interno e externo, em dólar. Os contratos mais curtos estão perto de 2%, patamar bastante baixo.

A falta de liquidez, portanto, está mais acentuada no mercado futuro - onde o preço da moeda americana é formado no Brasil. "É curioso ver que o dólar está tão alto, com o cupom mostrando que não falta dólar à vista", diz Hübner. Segundo ele, esse é o sintoma da falta de vendedor de dólar no mercado derivativo, decorrente da tributação via IOF.

O tributo, como se sabe, afastou do mercado os chamados arbitradores, que buscam situações como a atual para ganhar com as diferenças de taxas, mas ao mesmo tempo dão liquidez para evitar oscilações mais pronunciadas como ocorreu com o real na semana. O único que pode atuar nessa posição é o Banco Central (BC), como fez em setembro.

Não por acaso, operadores já começam a especular quando o BC fará nova oferta de swap cambial - equivalente a venda de dólar no mercado futuro. Hübner pondera que o BC só vai atuar quando perceber que a moeda brasileira se descolou do restante do mercado internacional.

 

Vale lembrar que o sobe e desce não foi exclusividade do mercado de câmbio. Depois de abrir a semana com a certeza de um corte de 0,5 ponto percentual da Selic, na reunião do Copom que termina depois de amanhã, o mercado de juros viveu verdadeira euforia nos pregões de terça-feira e quarta-feira, precificando uma redução de 0,75 ponto, seguindo discursos do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e da presidente da República, Dilma Rousseff.

As especulações terminaram quando o presidente do BC, Alexandre Tombini, mesmo impedido de falar sobre o assunto, às vésperas do Copom, tomou novamente as rédeas do mercado e passou seu recado, de "ajustes moderados", no principal evento anual da Febraban, casa dos banqueiros.

Fernando Travaglini é repórter

E-mail fernando.travaglini@valor.com.br

 

 

 

 

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