22/11/2011

Mercado ainda espera por pistas pré-Copom

 

Autor(es): Fernando Travaglini

Valor Econômico - 22/11/2011

 

A uma semana da reunião do Copom, o mercado tem poucas dúvidas de que o Banco Central manterá o ritmo de corte de juros, em 0,5 ponto percentual. Mas qualquer sinal, por menor que seja, pode alterar essa convicção. A agenda do presidente do BC, Alexandre Tombini, está carregada nos próximo dias e todos os operadores querem saber o que passa pela cabeça da autoridade.

Nos últimos discursos, Tombini manteve a sinalização de que cortes moderados (leia-se 0,5 ponto percentual) da Selic são condizentes com a convergência da inflação à meta em 2012. Esse caminho, no entanto, continua condicionado a um cenário externo adverso, com baixo crescimento econômico.

A piora recente das condições na Europa também já estava no cenário do BC, de acordo com as falas recentes da autoridade monetária. Somente um evento mais dramático poderia servir novamente de gatilho para uma aceleração dos cortes, segundo a leitura do mercado refletida nos contratos de juros futuros.

Por conta disso, o principal interesse do mercado hoje passou a ser o desenrolar da crise no exterior. Ontem, por exemplo, houve nova rodada de piora da aversão ao risco. As atenções novamente se voltaram para os Estados Unidos. Sem uma definição do "supercomitê", criado para definir a questão do déficit orçamentário, as bolsas caíram e o dólar voltou a se fortalecer - no Brasil fechou a R$ 1,8130, patamar mais alto em seis semanas.

Os mercados constataram algo que já parecia óbvio, que há um impasse político intransponível nos Estados Unidos, diz Luis Otávio de Souza Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil. Mas ele lembra que há uma tríade de problemas no exterior.

Quando não é a possível ruptura na Europa, os olhos se voltam para as dificuldades políticas enfrentadas por Obama e um Congresso que pode se tornar ainda mais hostil após as eleições do próximo ano. Completam o cenário as indefinições ligadas ao futuro do crescimento na China.

Para o gigante asiático, Leal não espera nenhum ajuste de política monetária até o fim de 2012, quando ocorre a mudança de comando do banco central daquele país. "Até lá, eles vão fazer o que for preciso para evitar problemas nessa transição de poder", avalia.

A cena externa é, portanto, bastante complexa. O mercado está ansioso para saber qual a leitura dos últimos eventos feita pela autoridade. Na semana passada, o diretor da área internacional, Luiz Awazu Pereira da Silva esteve na Europa e pode ter trazido novas impressões à diretoria colegiada a respeito de a quantas anda o problema da dívida soberana da região. Vale lembrar que foi depois da ida de Tombini ao encontro do Federal Reserve, em Jackson Hole, que o BC tomou a decisão de iniciar o atual ciclo de afrouxamento monetário.

Luiz Pereira, vindo do Banco Mundial, conhece bem o mercado internacional e os investidores locais estão bastante atentos ao que ele diz. Muitos lembram que foi dele, no seminário da BM&F, em Campos do Jordão, o último discurso antes da decisão de agosto, que cortou de forma surpreende a Selic. Na oportunidade ele afirmou que era preciso "analisar friamente e tempestivamente as circunstâncias excepcionais da economia global".

Sem novas pistas, o mercado operou ontem com baixa liquidez. Os contratos de juros futuros negociados na BM&F com vencimentos mais longos apontaram para cima, num claro ajuste depois de um processo de forte queda das taxas nas últimas semanas.

A chamada curva de juros, composta pelos diversos vencimentos dos contratos de DI, embute a expectativa de mais três corte de meio ponto percentual em novembro, janeiro e março, e uma grande chance de outra redução em abril, levando os juros para 9,75% ao ano.

O mercado incorporou o cenário do BC. E o alívio de parte das medidas macroprudenciais relembrou os investidores que esse BC não atua apenas com os instrumentos convencionais de política monetária. "Antes o mercado estava com a interpretação de que o BC atuava unicamente por meio dos juros", diz Sérgio Silva, responsável pela estratégia de juros na Quest Investimentos. "É bem difícil precificar mais cortes sem uma mudança de tom do BC", completa.

O BC teve bastante trabalho para trazer o mercado para o seu cenário. Mas a comunicação da autoridade com os agentes tem sido bem sucedida nos últimos meses, em parte graças à concretização de tudo o que Tombini disse que ocorreria. A reunião de novembro, portanto, a última do ano, pode cristalizar essa nova relação.

"Espero que ele esteja realmente preocupado com a comunicação, porque o mercado está muito atento a isso", diz um operador de juros. "Se tudo acontecer como está acontecendo, ele vai sair por cima nessa e com muita credibilidade", completa a fonte. Vamos ver o que diz o BC, às portas de mais uma reunião.

Fernando Travaglini é repórter

 

 

 

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