07/11/2011

Investidor quer bolsa com risco de poupança

Por Daniele Camba

No meio de tanta confusão na economia internacional, fica cada vez mais difícil encontrar um mínimo de previsibilidade no comportamento dos mercados. Um dos efeitos disso é um vertiginoso aumento da aversão ao risco por parte dos investidores. A frase de um gestor de recursos ilustra bem esse momento de temor: "O investidor está com tanto medo que agora quer estar na bolsa, mas com risco de poupança ou de uma LFT (Letra Financeira do Tesouro)", diz ele.

Esse contrassenso tem provocado outras distorções. Uma delas é a busca por papéis considerados de baixo risco, independentemente de qual for o potencial de valorização desses ativos. "Com isso, vários desses papéis ficaram caros demais, enquanto outros com perfil mais arriscado estão praticamente largados", afirma o gestor.

Ações conservadoras já estão caras, mas ainda há demanda

Os indicadores - como a relação preço sobre lucro (P/L, que dá uma ideia de quantos anos deve demorar para o investidor ter de volta o quanto aplicou no papel) - desses dois grupos de ações (as mais e as menos arriscadas) são tão diferentes neste momento que fica difícil acreditar que ambos fazem parte da mesma bolsa de valores.

O gestor cita alguns exemplos dos dois extremos. No grupo das empresas seguras, ele lembra das ações da AmBev, negociadas a um P/L em torno de 20 vezes, e as do grupo Ultra, com um P/L de 21 vezes para o fim deste ano. Para se ter ideia de como esses números são salgados, o P/L histórico do Ibovespa varia entre 10 e 12 vezes e neste momento de crise está em torno de 9 vezes.

"Como a AmBev é voltada ao mercado interno e não sofre com os percalços na economia internacional e nem com as flutuações do câmbio, está sendo vista pelos investidores como o melhor dos mundos", explica o gestor. Mas tudo tem limite.

"Por mais verdadeira que seja essa tese, o papel já subiu muito e começa não valer mais a pena qualquer tipo de aposta nesse ativo", explica ele. As ações do grupo Ultra sofrem do mesmo mal, ou melhor, do mesmo bem, principalmente para os investidores que já compraram esses papéis.

 

Na ponta oposta, das ações consideradas de mais alto risco, estão papéis como Itaú Unibanco e Cemig, ambos com uma relação de preço/lucro entre 8 e 9 vezes, praticamente galinhas mortas. "Com medo de arriscar, os investidores não se dão conta de que estão perdendo boas oportunidades, já essas empresas têm bons fundamentos e as ações estão com preços altamente convidativos", completa o gestor.

O resumo dessa ópera toda é: se o investidor que está na bolsa quer risco de poupança, esse não é um sinal importante de que ele está no lugar errado?

Daniele Camba é repórter de Investimentos

E-mail daniele.camba@valor.com.br

 

 

 

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