19/07/2011

Brasil só fica atrás da China em expansão de investimento em dívida americana

Dados do Tesouro americano divulgados nesta segunda-feira mostram que
o Brasil foi o país que registrou o segundo maior aumento em
aplicações em títulos do governo dos Estados Unidos no último ano,
somente atrás da China.

O dado é divulgado em um momento em que cresce a tensão quanto ao
risco de calote por parte dos Estados Unidos, caso o Congresso não
chegue a um acordo para elevar o teto da dívida pública do país até o
prazo de 2 de agosto.

Em maio, último dado disponível, o Brasil tinha US$ 211,4 bilhões
(cerca de R$ 333 bilhões) aplicados em títulos do governo americano,
valor que representa crescimento de 30,89% em um ano e mantém o Brasil
como quinto maior credor externo dos Estados Unidos - atrás de China,
Japão, Grã-Bretanha e um grupo de países exportadores de petróleo.

Entre os 10 principais credores, o Brasil foi o que registrou o
segundo maior crescimento entre maio de 2010 e maio de 2011. No mesmo
período, a China aumentou em 33,6% sua compra de papéis do governo
americano, chegando a US$ 1,16 trilhão, mais de um terço de suas
reservas internacionais.

No caso do Brasil, o valor aplicado nesses títulos representa quase
dois terços das reservas internacionais, de US$ 340 bilhões.

O aumento das aplicações brasileiras em títulos do Tesouro americano
vem acompanhando o crescimento das reservas do país. Em dezembro de
2004, com as reservas brasileiras em US$ 50 bilhões, o país tinha um
total de US$ 15,2 bilhões em títulos da dívida americana. Em dezembro
de 2007, quando as reservas já chegavam a US$ 178 bilhões, as
aplicações em títulos estavam em US$ 129,9 bilhões.
Investimento seguro

Maio foi o segundo mês de aumento consecutivo no valor investido pelo
Brasil em títulos do Tesouro americano. De março a abril, o montante
já havia crescido de US$ 193,5 bilhões para US$ 206,9 bilhões.

A mesma tendência de crescimento foi registrada entre outros grandes
credores, como a China, apesar de o governo americano ter anunciado em
16 de maio que os Estados Unidos haviam atingido o limite legal de
endividamento público, de US$ 14,3 trilhões, e que, caso esse teto não
seja elevado até 2 de agosto, irão ultrapassar o limite e, pela
primeira vez, poderá deixar de cumprir seus compromissos financeiros.

Segundo analistas, essa tendência pode indicar que, apesar das
preocupações com um possível calote dos Estados Unidos - expressadas
não apenas pelo governo mas também pelo FMI (Fundo Monetário
Internacional) e por agências de classificação de risco, em meio às
dificuldades de um acordo entre democratas e republicanos no Congresso
para elevar o teto da dívida -, os papéis do Tesouro americano ainda
são considerados um investimento seguro.

"Os Estados Unidos não vão perder seu status de porto seguro por causa
de uma ultrapassagem de curto prazo do teto da dívida", disse à BBC
Brasil o economista Gregory Daco, da consultoria IHS Global Insight.
Risco

Assim como outros economistas, Daco aposta em um acordo antes de 2 de
agosto, evitando que os Estados Unidos deixem de cumprir seus
compromissos financeiros.

No entanto, o impasse no Congresso já levou as principais agências de
classificação de risco a alertarem sobre a possibilidade de
rebaixamento da nota dada aos Estados Unidos (atualmente é "AAA", a
mais alta existente), atestado de que um país tem grande capacidade de
cumprir seus compromissos financeiros.

A Standard & Poor's e a Moody's já haviam colocado a nota dos Estados
Unidos em revisão, com risco de rebaixamento caso o Congresso não
autorize o aumento do teto da dívida. Nesta segunda-feira foi a vez da
agência Fitch avisar que, "na hipótese pouco provável de o teto não
ser elevado antes de 2 de agosto", colocará a classificação do país em
observação negativa.

Diante dessa movimentação toda, a China já se manifestou na semana
passada, dizendo esperar que o governo americano adote "políticas
responsáveis" para garantir o interesse dos credores.

Segundo o economista da IHS, mesmo que o teto da dívida não seja
elevado a tempo e a classificação dos Estados Unidos realmente seja
rebaixada, é difícil calcular o efeito entre os credores, apesar do
impacto "muito negativo" na economia americana.

"Os investidores teriam de encontrar alternativas para aplicar seu
dinheiro", diz Daco. "No caso do Brasil, quinto maior credor, não
acredito que iria simplesmente retirar suas aplicações nos títulos do
Tesouro de uma hora para outra."

"Uma solução seria reorientar esses investimentos para ativos mais
seguros. Eu poderia citar investimento em ouro ou em títulos de outros
países, como a Alemanha", diz o analista.

No entanto, em um momento em que países europeus enfrentam uma crise
de dívida e de credibilidade, muitos deles com seus ratings já
rebaixados ou sob ameaça, torna-se mais difícil encontrar
alternativas.
Crescimento

O analista da IHS diz acreditar que, na hipótese "improvável" de o
teto da dívida não ser elevado até 2 de agosto, isso seria feito
imediatamente depois, resolvendo o problema no curto prazo.

E mesmo em meio às dúvidas e ao impasse no Congresso, Daco diz apostar
que os investimentos em títulos do Tesouro americano vão continuar a
registrar crescimento quando forem computados os dados de junho. "Em
julho, vamos ver o que acontece. Mas minha tendência é dizer que não
deve haver grande mudança."

Segundo o economista, o ritmo lento da recuperação da economia
americana após a crise mundial, aliado às recentes tensões em países
do Oriente Médio e do norte da África e à crise de dívida na Grécia e
em outras economias europeias, contribuíram para uma atmosfera de
incerteza no mercado financeiro. E em períodos assim, diz Daco,
títulos do Tesouro são considerados a alternativa mais segura.

"Isso tudo levou os investidores a buscarem segurança nos títulos do
Tesouro americano", afirma o analista.

"Neste momento, os investidores não estão preocupados com o teto da
dívida. Eles estão mais preocupados com o crescimento (da economia
americana)", diz.

Fonte: Uol

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