Por Vinícius Pinheiro | De São Paulo
Um sistema que deve reduzir parte da burocracia na liberação de indenizações de seguro de veículos financiados rendeu o primeiro produto criado pela Cetip em sinergia com a GRV após a aquisição da companhia, em dezembro passado. A plataforma eletrônica fará a liquidação financeira das operações realizadas entre bancos e seguradoras, uma das etapas mais delicadas desse processo, que costuma levar entre 30 e 60 dias.
A expectativa é que a ferramenta, batizada de Silag - sistema de liquidação automática de gravames - reduza pela metade o prazo para a liberação dos recursos para o segurado, disse ao Valor Roberto Dagnoni, ex-executivo da GRV e hoje diretor da unidade de negócios de crédito da Cetip.
Atualmente, o pagamento da indenização do seguro de um veículo financiado em caso de perda total depende da liberação do gravame - vínculo que impede a comercialização do veículo - pela instituição financeira. A baixa, contudo, só é feita quando ocorre a quitação do empréstimo. Apenas depois da solução desse impasse, que depende da apresentação de uma série de documentos para ambas as instituições, o cliente recebe a parte que lhe cabe do seguro.
"Em alguns casos, a demora pode levar ao aumento do saldo devedor, com a incidência dos juros", comenta Dagnoni. Como o segurado geralmente para de pagar o financiamento após a ocorrência do sinistro, a burocracia pode levá-lo ao cadastro de inadimplentes, segundo o executivo.
O Silag permitirá que a seguradora e a financeira "conversem" diretamente. Ao receber as informações sobre a quitação do financiamento de um lado e da baixa do gravame do outro, o sistema promove a liberação da restrição do veículo e realiza a transferência dos recursos entre as contas das instituições.
Toda a operação é garantida pela Cetip, nos moldes da liquidação financeira realizada pela companhia na negociação de títulos e valores mobiliários. "Percebemos que o processo entre as seguradoras e os bancos é muito semelhante aos serviços que já prestamos ao mercado", afirma o diretor comercial da Cetip, Carlos Ratto.
O Silag reduz ainda a possibilidade de fraudes. Uma das mais frequentes é a omissão, por parte do cliente, da informação de que o veículo possui seguro, na tentativa de obter um desconto maior na liquidação do financiamento e, depois, receber a indenização integral da seguradora.
A iniciativa para a criação do sistema partiu da CNSeg, entidade que reúne as empresas de seguros. "Essa é uma demanda antiga do setor, ainda do século passado", afirma Julio Avellar, superintendente-geral da CNSeg. Ele classifica o procedimento atual de liquidação das operações como "medieval". "Hoje já existe uma aproximação grande entre o mercado segurador e financeiro. Nada melhor, portanto, do que um sistema capaz de acelerar e dar conforto para as instituições e para o segurado", ressalta.
Avellar acredita que o sistema da Cetip deve ter a adesão de praticamente todas as empresas do setor. "A velocidade para a liberação de recursos é um importante instrumento de marketing para as seguradoras", diz. A CNSeg espera que o Silag beneficie cerca de 100 mil pessoas por ano.
O produto está em fase piloto em duas instituições de grande porte, cujos nomes não foram revelados. Os valores que serão cobrados ainda estão em negociação, diz o diretor comercial da Cetip. Além do Silag, outros produtos em conjunto com a GRV estão em estudo e alguns já estão em teste, como o projeto de gravames em contratos imobiliários, segundo Ratto. Para ajudar a identificar as potenciais sinergias entre as empresas, a Cetip contratou a consultoria americana Oliver Wyman.
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