13/10/2011

Compra de ações não surte efeito

Por Simon Rabinovitch | Financial Times, de Pequim

Os investidores chineses não pretendem ser enganados duas vezes. Serão necessários mais de US$ 30 milhões e muita ajuda oficial para o governo fazer o abalado mercado de ações chinês reagir.

Quando a Central Huijin, o braço de investimentos domésticos do fundo soberano da China, disse na segunda-feira que iria comprar ações dos maiores bancos estatais chineses para restabelecer a confiança do mercado neles, a sensação foi de uma repetição do que aconteceu em 2008. Mas a reação dos investidores não poderia ter sido mais diferente.

Três anos atrás, com as ações patinando depois do colapso do Lehman Brothers, um anúncio quase idêntico da Huijin desencadeou um rali de dois dias em que os preços subiram 18% na Bolsa de Valores de Xangai. Mesmo assim, dois meses depois as ações haviam caído para níveis inferiores aos registrados antes da intervenção.

Só depois que o governo anunciou um plano de estímulo de quase US$ 600 bilhões e afrouxou a política monetária é que as perspectivas econômicas melhoraram, levando o mercado às alturas.

Corte rápido para o anúncio feito pela Huijin nesta semana e vê-se que a reação apática dos investidores chineses faz mais sentido. Segundo analistas, os investidores precisam ver um relaxamento amplo da política monetária, e não apenas a Huijin comprando ações pelas bordas para o mercado voltar a reagir. "O crescimento dos lucros continuará lento e isso não mudou os fundamentos gerais, de modo que os investidores ainda estão bastante cautelosos", diz Robert Zhang, um estrategista da consultoria CEBM de Xangai.

Segundo números divulgados pela bolsa de valores, a Huijin comprou 197 milhões de yuan (US$ 31 milhões) em ações na segunda-feira, uma gota no oceano que representou 0,5% do volume negociado no dia em Xangai. As compras mal deixaram marca no registro de acionistas dos bancos chineses, que já são controlados pelo governo por meio da Huijin. Por exemplo, sua participação no Banco Agrícola da China aumentou de 40,0254% para 40,0374%.

Mas o tamanho da intervenção não teve o objetivo de ser relevante. A Huijin comprometeu-se a continuar comprando ações de bancos ao longo do próximo ano, como fez em 2008.

E mais, seu retorno ao mercado foi alardeado com o gosto pela propaganda característico do governo chinês quando ele tenta convencer os investidores a comprar ações. O jornal oficial "The Financial News", que representa o mercado de ações e as agências reguladoras do setor bancário, proclamou em uma manchete que a medida enviou "múltiplos sinais importantes". "O governo quis proteger o mercado, estabilizá-lo e promover sua recuperação."

No entanto, para investidores e analistas, o foco continuou justamente nos dois fatores que fizeram o mercado de ações chinês cair 23% desde abril e ao nível de fechamento mais baixo em 30 meses na segunda-feira, antes do anúncio da Huijin.

O primeiro é que embora o crescimento da China esteja se mantendo, a economia começa a desacelerar e os problemas nos Estados Unidos e Europa estão lançando uma sombra sobre as perspectivas de lucros para as companhias de capital aberto. Num reflexo da redução das expectativas, a Bolsa de Xangai está sendo negociada a 10,8 vezes os lucros previstos, um recorde de baixa para esta medida importante do valor de um mercado de ações, segundo dados da "Bloomberg".

O segundo fator, e talvez o mais importante, é que o governo vem demonstrando pouca disposição em relaxar o controle sobre a liquidez, tirando do mercado o dinheiro necessário para revitalizá-lo. A inflação está no patamar mais alto em quase três anos e analistas afirmam que Pequim não deverá mudar o rumo enquanto certas pressões sobre os preços não diminuírem. "Os governos e empresários locais deverão recorrer mais ao mercado secundário enquanto o aperto de crédito persistir", diz Dong Tao, economista do Crédit Suisse. Ele acrescenta que uma série de problemas estruturais surgiu desde 2008, do maior endividamento do governo a uma bolha imobiliária mais grave, e isso continuará pesando.

As ações de bancos estão sendo afetadas pelo pessimismo com a economia chinesa, com os investidores preocupados com um eventual grande aumento dos empréstimos vencidos e não pagos, depois que os bancos concederam um grande volume de crédito nos últimos três anos.

A "dor tem sido aguda" para as ações de bancos listadas na Bolsa de Hong Kong, onde os investidores estrangeiros têm um papel muito maior que em Xangai.

A Huijin pode não ter produzido o mesmo rali no mercado que em 2008, mas pelo menos emitiu um sinal duro para os investidores que apostam contra os bancos chineses, de que enfrentam um oponente formidável na forma do governo.

 

 

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