05/10/2011

Faxina do Citi fica mais complicada

 

Por Suzanne Kapner | The Wall Street Journal

Já ficaram para trás o negócio de empréstimos educacionais nos Estados Unidos, um banco on-line no Reino Unido e a corretora japonesa. O Citigroup Inc. se livrou deles enquanto realiza uma limpeza monumental na casa.

As vendas dessas unidades foram um sucesso para o terceiro maior banco americano em ativos e encolheram uma carteira de ativos indesejados que os executivos do Citigroup não veem mais como centrais para o negócio principal do banco, focado agora em serviços financeiros para empresas e consumidores, operações com títulos de investmento e administração de ativos para grandes empresas.

A pilha indesejada que sobrou, conhecida como Citi Holdings, tem US$ 308 bilhões em ativos, menos da metade do que tinha quando foi criada, em 2009.

Agora vem a parte difícil: livrar-se do resto.

A Citi Holdings oferece um sinal dos problemas ainda enfrentados pelos bancos americanos três anos depois da crise financeira. Os ativos da Citi Holdings deram prejuízo de US$ 59 bilhões desde 2007. E enquanto os lucros minguam no setor bancário americano, assim como a esperança de uma recuperação econômica vigorosa, a Citi Holdings provavelmente vai continuar pesando no resto da empresa durante anos.

A ação do Citigroup já caiu mais de 50% este ano, o que tornou o seu desempenho um dos piores no índice de grandes bancos do bando de investimentos especializado no setor financeiro Keefe, Bruyette & Woods Inc.

Especialmente frustrante para executivos e alguns investidores é que a ação caiu quase tanto quanto a do Bank of America Corp., embora este não tenha presença tão forte quanto a do Citigroup nos mercados asiáticos, de rápido crescimento, e enfrente uma dor-de-cabeça maior com hipotecas.

"Como investidor, você gostaria que a Citi Holdings tivesse sumido ontem", diz Glenn Schorr, analista da Nomura Securities International Inc. "Mas neste cenário simplesmente não é tão fácil vender alguns desses ativos."

Quase 40% da Citi Holdings é formado por créditos imobiliários, para os quais há poucos compradores exceto em montantes pequenos. Pouco mais de um terço desses empréstimos são linhas de crédito ligadas ao valor do imóvel. Como são considerados menos importantes que a hipoteca principal, esses empréstimos podem perder totalmente o valor quando o imóvel do devedor entra em execução judicial.

Mike Corbat, diretor-presidente da Citi Holdings, diz que qualquer um que acredita que esses empréstimos desaparecerão inteiramente no curto prazo deveria repensar sua visão. "Essa expectativa simplesmente não é realista", disse Corbat numa entrevista ao Wall Street Journal. Executivos do Citigroup dizem que o banco tem reservas adequadas para cobrir futuras perdas.

A Citi Holdings também conta com uma participação de 49% na corretora Smith Barney, um negócio de cartões de crédito com outras marcas, títulos garantidos por dívidas de empresas e outros ativos arriscados, bem como uma financeira de crédito para pessoa física chamada OneMain Financial. Esses ativos podem ser mais fáceis de vender.

As vendas de outros ativos indesejados podem liberar capital para os acionistas, possivelmente por meio de uma recompra de ações a partir de 2012. Devolver capital aos acionistas é uma forma com a qual o diretor-presidente do Citigroup, Vikram Pandit, espera impulsionar sua cotação em bolsa.

Corbat teve que caminhar na corda-bamba com suas tentativas de vender negócios numa economia fragilizada sem criar prejuízo demais. Ele diz que preferiria nem oferecer uma empresa a vendê-la por um preço que considera baixo demais.

Um exemplo é o negócio de cartões de créditos com outras marcas que estava inchado e no vermelho quando foi transferido para a Citi Holdings.

Apesar de o negócio ter voltado a dar lucro com a recuperação do consumo e uma reestruturação de suas alianças com varejistas, não há muitos compradores capazes de digerir um ativo desse tamanho.

O Citigroup ainda não informou o que planeja fazer com o negócio de cartões, mas pessoas a par da situação dizem que a diretoria está cogitando mantê-lo em vez de fechar um acordo a preço de banana ou desmembrá-lo para vender os pedaços.

Mas se o Citigroup quer conquistar os investidores com seu plano para uma empresa nova e enxuta, a Citi Holdings não pode ficar com esses ativos para sempre.

Mesmo encolhida, a Citi Holdings, que é separada do Citigroup, ainda seria o sétimo maior banco dos EUA em ativos, segundo a firma de pesquisa SNL Financial.

A analista Betsy Graseck, do Morgan Stanley, calcula que pode demorar até 2017 para liquidar inteiramente a Citi Holdings. Embora esse prazo seja dois anos antes do que ela previa inicialmente, significa que alguns dos ativos problemáticos do Citigroup continuarão no banco por anos.

Alguns investidores dizem que estão dispostos a dar mais tempo ao Citigroup. "Prefiro que eles demorem o tempo que precisarem para conseguir um bom valor", disse William Smith, presidente da SAM Advisors, que tem ações do Citigroup.

A não ser que a economia se recupere subitamente, tempo é exatamente o que o Citigroup provavelmente vai ganhar. "Já nos posicionamos como vendedores", diz Corbat. "A última coisa que você quer fazer é ficar olhando o relógio."

 

 

 

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