13/10/2011

Inadimplência para pessoa física pode ter chegado ao pico

 

Por Aline Lima | De São Paulo

Tingas, economista da Acrefi: "O problema já não é mais a inadimplência, que deve se acomodar, e sim como fica 2012"

A inadimplência nas operações de crédito para pessoas físicas pode estar próxima do pico ou mesmo já ter alcançado o teto, em agosto. Embora os atrasos superiores a 90 dias sigam apresentando crescimento desde o início de 2011, a velocidade de subida começa a diminuir, observam economistas.

O cenário, ainda assim, parece não entusiasmar as instituições financeiras a acelerarem as concessões de empréstimos no fim de ano. Paralelamente às incertezas provocadas pela crise financeira na Europa, a inflação e o nível de endividamento das famílias brasileiras preocupam.

"Vamos manter firme nossa política de crédito [mais restritiva] para evitar um aumento ainda maior da inadimplência", diz Décio Carbonari de Almeida, presidente do Banco Volkswagen. O índice de inadimplência da carteira de R$ 19,5 bilhões do banco encerrou agosto em 2,77% e, segundo o executivo, em setembro o indicador já havia mostrado piora, subindo para 2,84%.

Almeida atribui o aumento do número de devedores à qualidade dos novos proponentes, que caiu. Por isso, o Banco Volkswagen atualmente mais reprova do que aprova concessões de crédito.

Mas a própria desaceleração do crédito pode ajudar a conter a inadimplência. No segmento de varejo, muitos consumidores colocaram o pé no freio no terceiro trimestre para pôr parte das contas em dia, ressalta Carlos Henrique de Almeida, economista da Serasa Experian.

Amanhã será divulgada a pesquisa de inadimplência do consumidor da Serasa para o mês de setembro. "A possibilidade de uma queda é grande", diz Almeida. "O varejo já percebe a inadimplência crescendo menos."

A depender de como a situação dos países - e bancos - da zona do euro se desenrolar, a tendência, daqui para frente, é de melhora no índice total de inadimplência das pessoas físicas. Os atrasos podem cair ou, na pior das hipóteses, crescer menos.

Os dados do Banco Central referentes a agosto mostram um sinal de recuo no índice de contratos vencidos entre 15 e 90 dias, de 6,4% para 6,2%. "Apesar de a inadimplência ter subido [de 6,6% para 6,7%], o indicador de vencimentos, que serve como um antecedente, melhorou", observa Jayme Alves, economista da Federação Brasileira de Bancos.

Dissídios trabalhistas e pagamento do 13º salário são fatores que também estimulam a quitação de pendências financeiras no fim do ano. A redução da taxa de juro pode ainda ajudar alguns consumidores a saírem de linhas emergenciais (e caras) como cheque especial e o rotativo do cartão, dois grandes "vilões" da inadimplência para a pessoa física.

O momento, portanto, pode ser considerado de transição. "A trajetória da inadimplência está dada, devendo se acomodar até o fim do ano", avalia Nicolas Tingas, economista da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi). "O problema já não é mais esse, e sim como ficam os negócios em 2012."

Tingas consultou nas últimas duas semanas executivos de diversas financeiras para tentar captar o sentimento de confiança do setor, e a resposta não foi das mais animadoras. Mais do que o nível de inadimplência, que está longe das máximas históricas observadas ao longo de 2009, o que vem inibindo o apetite para novas operações de crédito é a preocupação com o aumento da inflação e o impacto disso na faixa de renda mais baixa, principalmente.

"A inflação começa a corroer a renda do trabalhador brasileiro, que não está conseguindo saldar contas antigas", avalia Roque Pellizzaro Junior, presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). Segundo ele, cerca de 70% das prestações em atraso não ultrapassam o valor de R$ 100. "São justamente as classes que estão entrando no mercado de consumo por meio do crédito, que consomem num prazo mais longo e querem parcelas mais baixas."

Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Economia da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e pela Boa Vista Serviços (BVS), em setembro, mostra que homens e mulheres de 26 a 30 anos, que ganham até dois salários e devem até R$ 1 mil, são maioria entre os inadimplentes.

A piora de perfil que o novo tomador de crédito vem exibindo, obviamente, já está sendo incorporada aos modelos de avaliação de risco de crédito dos bancos. O conservadorismo na aprovação de empréstimos para esse público deverá, pois, ser mantido.

Tal cautela já se reflete na desaceleração das concessões diárias, no ano, em comparação com 2010. "O rumo que a inadimplência vai tomar, a partir de agora, dependerá muito do cenário externo, da velocidade com que a economia vai desacelerar e como tudo isso vai afetar mercado de trabalho", diz Alves, da Febraban.

 

 

 

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