10/10/2011

Juros futuros compram a tese da moderação

Por Eduardo Campos

Depois de um legítimo passeio de montanha-russa os contratos de juros futuros parecem "comprar" o discurso do Banco Central (BC) de "moderação" no ritmo de ajuste da taxa básica de juros.

Os contratos curtos sugerem uma concentração das apostas de manutenção do passo de meio ponto de corte na Selic.

Há uma semana, no entanto, o sinal emitido pelos contratos era outro, de corte de 0,75 ponto percentual ou até um ponto. Aplicação que surgiu após uma série de declarações de agentes do governo.

Dólar cai 5,90% na semana, mas respeita o R$ 1,75

Essa tese da moderação foi reforçada pelo BC ao longo da semana por meio de pronunciamento de seu presidente, Alexandre Tombini.

No entanto, diz um gestor, é um tanto estranha tal postura da autoridade monetária.

"Não consigo entender essa insistência do 'moderado' na condução da política monetária. O BC fez uma virada de alta de juros para baixa sem motivo crível e agora que o cenário local e externo estão ao seu lado, ele tenta dar um aceno diferente", diz o especialista.

Para esse gestor, os incentivos seriam todos a uma resposta mais forte e não moderada do BC. A situação externa (base para o corte da reunião de agosto) piorou consistentemente, atropelando o setor financeiro (estão preparando pacotes para salvar bancos europeus).

No campo doméstico, a inflação segue alta, mas dá alguns sinais de moderação, segundo o especialista. E a desaceleração da atividade não é mais uma premissa e sim um fato.

Para o gestor, esse tipo de postura do BC piora ainda mais seu canal de comunicação com o mercado.

A questão não é o BC estar certo ou errado. De fato, a autoridade monetária antecipou bem os movimentos externos. Fora que a atuação, seja ela qual for, pode ser defendida via argumentação técnica.

O que está disfuncional, na visão do especialista, é justamente a comunicação.

"O BC não tenta fazer o processo de condução de expectativas. Ele não conversa mais com o mercado", avalia.

E um sinal forte disso é esse comportamento errático dos juros futuros.

"Não se consegue montar uma estratégia de juros, pois nem na ponta curta, que costuma ser mais previsível, você consegue saber o que vai acontecer", diz o estrategista de renda fixa da Coinvalores, Paulo Nepomuceno.

Na semana que começa, o indicador que pode mostrar alguma influência na formação de preço é o comportamento do varejo em agosto.

Fora da agenda ficam as declarações oficiais e extraoficiais, que ultimamente têm se mostrado mais relevantes na tomada de posição do que qualquer dado de inflação e atividade.

Passando para o câmbio, o dólar caiu 5,90% na semana passada.

Tamanho tombo semanal não era visto desde outubro de 2008. Essa queda também encerrou com uma sequência de seis semanas consecutivas de valorização.

De fato, considerando uma cesta composta por moedas emergentes e desenvolvidas, o real foi a moeda que mais ganhou do dólar no mundo na primeira semana de outubro.

Na sexta-feira, os vendedores resistiram às intemperes domésticas e externas e levaram o dólar comercial a fechar com baixa de 0,83%, a R$ 1,771 na venda. Na mínima, a moeda foi a R$ 1,752 (-1,90%).

Apesar desse forte viés de baixa, nas mesas já se nota certa resistência à queda quando o preço se aproxima de R$ 1,75. O que indica que sem novos estímulos esse pode ser um "piso" de curtíssimo prazo.

Na BM&F, o estrangeiro segue "leve", com um posição líquida comprada de modestos US$ 867 milhões. Sendo, US$ 4,93 bilhões comprados em contratos de dólar futuro e US$ 4,062 bilhões vendidos em cupom cambial (DDI - juro em dólar).

Eduardo Campos é repórter

E-mail eduardo.campos@valor.com.br

 

 

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