Celso Ming
O homem nem acabou de tomar posse à frente do segundo mais importante banco central do mundo, o Banco Central Europeu (BCE), e já está sendo chamado de Super Mario.
Nem o holandês Win Duisenberg nem o francês Jean-Claude Trichet, que o precederam no cargo, foram denominados assim. O prefixo “super” é proporcional à expectativa criada de que o italiano Mario Draghi (foto), 69 anos, assuma a tarefa que cabe aos heróis e se disponha a usar poderes até agora não tirados do baú para salvar o euro, hoje à beira do precipício.
Trichet, que liderou o BCE de novembro de 2003 até final de outubro de 2011, enfrentou a maior crise existencial do euro até aqui. A exemplo do que nos últimos três anos fez Ben Bernanke, seu colega do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), colocou em prática procedimentos considerados próximos da irresponsabilidade: emitiu moeda para recomprar no mercado secundário títulos de dívida soberana de países do bloco ameaçados de rejeição. Ao criar essa demanda extra por papéis, contribuiu para que os juros cobrados pelos credores fossem contidos dentro do razoável e, assim, evitassem disparadas dos custos financeiros dos devedores. Mas, em matéria de política monetária, esse jogo resvala para o abominável, na medida em que pouco se diferencia de emissão de moeda para financiar despesas correntes de governos. Por isso, os mais ortodoxos exegetas dos textos sagrados, especialmente alemães, repudiam tais práticas. A esses, tanto Bernanke como Trichet advertem que o primeiro dever de um banqueiro central é garantir a salvação da moeda, mesmo que seja necessário, digamos assim, suspender temporariamente procedimentos consagrados pela civilização.
Em todo o caso, embora carregasse o balanço do BCE com ativos de alguma maneira contestáveis de 2,3 trilhões de euros, Trichet jurou até o fim que não ultrapassou nem ultrapassaria os limites da decência no que diz respeito à governança de um banco central.
Cada vez mais, os analistas alertam hoje que os Tesouros nacionais da área do euro são laranjas espremidas demais, das quais não se pode mais tirar suco nenhum. Da mesma forma, lembram que a história ensina que existem sérias restrições econômicas (e, sobretudo, políticas) para a imposição de sacrifícios a uma população já prostrada pela recessão e pelo desemprego.
Daí porque, em nome da segurança geral, esperam que o Super Mario deixe de lado escrúpulos tedescos e trate logo de reforçar o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (ESFS) com operações especiais de crédito que, em última análise, não passam de emissão de moeda.
A justificativa técnica para esse procedimento é não haver saída para a crise que não seja uma boa dose de inflação saneadora, a ser obtida com impressão indisfarçada de dinheiro, que se encarregue de rebaixar montanhas tão altas e impagáveis de dívidas públicas.
Enquanto o calote se circunscrever à economicamente insignificante Grécia, as resistências dos ortodoxos a esse último recurso talvez não consigam ser quebradas. Mas conforme a segunda ou terceira peça do dominó também ameacem desabar, aumentarão as pressões para que o BCE finalmente exerça o papel de emprestador de última instância e de salvador geral da moeda. Esse passo talvez não esteja tão longe.
CONFIRA
Mais munição no paiol. Em sua entrevista concedida depois da decisão de manter os juros básicos (Fed funds) ao redor do zero por cento ao ano, o presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, fez três declarações importantes: (1) o Fed pode comprar títulos atrelados a hipotecas – um jeito de reerguer o mercado imobiliário; (2) o Fed ajudará a isolar os Estados Unidos, caso piore a crise europeia; e (3) o importante é manter o Fed livre de pressões políticas.
Chantagens. O primeiro-ministro da Grécia, George Papandreou, passou meses fazendo chantagens. Primeiramente, avisou que o Tesouro da Grécia só teria recursos para honrar seus compromissos até outubro. Depois, admitiu que até meados de novembro ainda aguentaria. Agora, convoca um referendo, possivelmente para janeiro, para saber se quer ou não o socorro da área do euro. Até agora, Papandreou não esticou mais a data-limite a partir da qual a Grécia estaria quebrada. E atenção: meados de novembro está logo aí.
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