Por Graziella Valenti | De São Paulo
A Coteminas será alvo de uma participação mais ativa de minoritários importantes: as fundações Previ, Petros e Funcef. Juntos os fundos de pensão têm 22% das ações ordinárias (com direito a voto) da empresa. Mas essa atuação será executada pela Leblon Equities, que recebeu nesta semana as participações desses fundos para gerir.
A gestora carioca assume, daqui para frente, a representação dos interesses dos fundos na companhia, líder mundial na fabricação de artigos têxteis de cama, mesa e banho e dona das marcas Artex, Santista e M. Martan, entre outras. O fundo da Leblon tem duração mínima de quatro anos.
A posição equivale a cerca de R$ 50 milhões. O objetivo da Leblon, conhecida por seu foco no longo prazo e pelo diálogo com as companhias, é buscar gerar "valor e liquidez" para essa participação das fundações na Coteminas, empresa da família do ex-presidente da República José de Alencar, morto em março deste ano.
O valor de mercado da empresa está em aproximadamente R$ 440 milhões - bastante distante dos R$ 2 bilhões que chegou a valer em meados 2007, logo após a listagem da controlada Springs Global no Novo Mercado da BM&FBovespa. O montante equivale a cerca de 30% do valor patrimonial da empresa, de R$ 1,4 bilhão.
Os fundos de pensão, dado o pequeno valor absoluto do negócio frente a suas carteiras totais, de dezenas e centenas de bilhões, acabavam não dedicando tempo suficiente à empresa - a despeito da representatividade no capital da companhia. Não é a primeira vez que a Previ adota essa estratégia, movimento semelhante ocorreu com a Café Iguaçú e a Investidor Profissional.
Com a transferência para um fundo gerido pela Leblon, haverá maior dedicação ao negócio.
A expectativa é que de maneira diplomática haja a troca dos dois conselheiros que hoje representam as fundações na Coteminas por nomes indicados pela Leblon. Todo o processo deve ser realizado de maneira amigável.
A relação entre a Leblon e a Coteminas vem desde 2009, quando num aumento de capital da controlada Springs a gestora adquiriu uma participação relevante. Atualmente, a fatia detida por fundos da Leblon é de 4,4%.
O próprio presidente e controlador da Coteminas, Josué Gomes da Silva, afirmou que todo esse processo foi feito em "comum acordo". Segundo ele, todos os nomes avaliados pelas fundações eram "muito bons". E que a Leblon "conhece a empresa".
Gomes da Silva afirmou compreender a opção das fundações por transferir a gestão à Leblon, pois o investimento na empresa é pequeno face aos patrimônios dos fundos de pensão. "É difícil ter equipe técnica para isso."
Não é a primeira vez que a Coteminas conviverá com uma gestora de mercado tão próxima do negócio. A Tarpon foi acionista relevante durante anos, mas hoje já não consta mais na formação do capital da empresa.
A expectativa é que a Leblon faça um trabalho que auxilie a companhia a recuperar a liquidez dos papéis e a melhorar a percepção do negócio frente aos investidores.
Após o auge no mercado, em 2007, a companhia sofreu - tanto Coteminas, quanto Springs - principalmente com o início da crise americana. A Springs foi comprada em 2006, logo após o fim do acordo Multifibras, que regulava o comércio internacional de têxteis.
Com isso, a Coteminas negociada tornou-se quase uma holding pura, pois com exceção do pequeno negócio da Santanense, todos os ativos operacionais foram alocados abaixo da controlada Springs Global, listada na bolsa brasileira desde 2007.
Antes da derrocada da economia dos países desenvolvidos, com a quebra do Lehman Brothers e o agravamento do cenário internacional, as empresas sofreram com o processo de concentração da atividade fabril no Brasil e na Argentina. Em novembro de 2010, na Carta Leblon 5, os gestores, ao comentarem esse episódio, destacaram a falta de prioridade na comunicação com o mercado, o que dificultou a compreensão desse trabalho - principal razão para os prejuízos registrados em 2007 e 2008, junto com a crise.
O forte da Coteminas nunca foi a comunicação com os investidores. O diretor de relações com investidores têm um dialogo distante com o mercado. O presidente Josué Gomes da Silva é quem centraliza decisões e comunicação e, com isso, tornou-se a cara da companhia - e sem agenda suficiente para a demanda dos acionistas. Por isso, aos olhos do mercado, a melhora da visão do negócio passa por um aumento da transparência e pela descentralização.
Além da falta de compreensão sobre os prejuízos, veio a crise financeira global, que se instalou logo na sequência, dificultando uma recuperação dos preços em bolsa.
Com os problemas nos Estados Unidos, a segunda maior cliente da Springs, a varejista Linens N'Things, pediu falência. Na época, o mercado americano respondia por 65% das vendas da Springs Global. Com a constante redução das vendas no Hemisfério Norte, o Brasil subiu sua participação nas vendas de 35% para os 51% registrados no segundo trimestre.
Resultado de toda essa combinação foi a perda de liquidez - e de valor - das empresas listadas Coteminas e Springs. Em 2007, as preferenciais da Coteminas negociavam em média, por dia, 189 mil ações, movimentando R$ 2,2 milhões, enquanto a novata Springs transacionava a cada pregão uma média de 101 mil papéis, com giro de R$ 2,1 milhões. Neste ano, a negociação com a holding despencou para 36,5 mil ações, somando R$ 157 mil. A controlada também sofreu grande perda de representatividade, passando a movimentar 56 mil papéis, girando menos de R$ 250 mil ao dia.
Os problemas na terra do Tio Sam continuam atrapalhando a companhia. No balanço mais recente da Coteminas, do segundo trimestre deste ano, uma baixa contábil de R$ 37 milhões vinda da Springs e um ajuste fiscal negativo de R$ 70 milhões, combinados à contínua perda de receita em solo americano, levaram a empresa a um prejuízo de R$ 68,5 milhões, ante lucro líquido de R$ 8,6 milhões em igual período de 2010.
A estratégia de futuro, cujo desenho teve participação relevante da Tarpon, é seguir modelo semelhante ao da fabricante têxtil de moda, a Hering, com forte atuação no varejo. Foi com esse objetivo que a companhia adquiriu por R$ 55 milhões a M.Martan, em setembro de 2010.
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