03/10/2011

Não espere nada além de mais volatilidade

Por Eduardo Campos

O; mês é novo, mas os problemas são recorrentes e o interessante é que não se espera nada além do "mais do mesmo". Crise da Grécia, bancos europeus em dificuldade e economia americana entre recessão e baixo crescimento. Gravitando em torno disso teremos o comportamento das commodities e o crescimento da China.

E a semana que começa reserva uma série de eventos que servem de combustível para impulsionar todos esses assuntos e manter a volatilidade em patamar bastante elevado.

Na zona do euro, a agenda começa com um encontro entre ministros de Finanças. Se a tradição for mantida, teremos mais uma rodada de frases bem montadas do tipo "a Grécia fica na zona do euro" ou "garantimos suporte ao plano grego", mas de efetivo nada. No máximo, o agendamento de uma data para a próxima reunião.

Fed inaugura Operação de Twist e BCE decide juros

Ainda na região, os encontros do Banco Central Europeu (BCE) e Banco da Inglaterra (BoE), na quinta-feira.

A reunião do BCE é a mais relevante e depois da última rodada de piora de expectativas se fala em corte na taxa básica de juros atualmente fixada em 1,50%. E pensar que poucos meses atrás, abril para ser mais exato, essa taxa começou a ser apertada dentro de uma estratégia de saída das condições extremamente acomodatícias de política monetária.

Passando para os Estados Unidos, o emprego é o assunto da agenda. Na quarta-feira, a ADP, empresa que processa folhas de pagamento, traz seus números para o setor privado e na sexta-feira saem os dados oficiais sobre o mercado de trabalho. A previsão, por ora, é de que foram criados 50 mil empregos no mês passado.

Hoje, o foco está no mercado de títulos já que o Federal Reserve (Fed), banco central americano, começa a "dançar seu twist", ou seja, trocar os títulos do Tesouro de curto prazo por títulos de longo prazo.

A medida foi anunciada no último encontro do colegiado do Fed, realizado dias 20 e 21 de setembro, e vendida como uma forma de "apoio a uma recuperação econômica mais forte".

O mercado não comprou a ideia, tanto que se ouve e se lê por aí análises pedindo um "Quantitative Easing 3" de verdade.

Amanhã, o presidente do Fed, Ben Bernanke, fala sobre as perspectivas econômicas e recentes ações de política monetária em audiência no Comitê Econômico do Congresso.

Na agenda local, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de setembro concentra as atenções.

A inflação oficial deve fechar o mês entre 0,50% e 0,55%, o que resulta em taxa superior a 7,3% no acumulado em 12 meses.

No lado da atividade é conhecido o comportamento da indústria em agosto.

Olhando para o mês que ficou para trás, o dólar é o ativo de comportamento mais chamativo.

O preço da moeda subiu 18,14%. Nem em setembro ou outubro de 2008, auge da crise financeira, a moeda subiu tanto.

De fato, alta maior do que essa apenas em setembro de 2002. Uma arrancada de 24,92% registrada em meio à conjuntura que ficou conhecida como "risco Lula" (chega a ser engraçado lembrar disso. O mercado morrendo de medo do Lula. Ainda mais agora que a Dilma Rousseff supera o seu "criador" em popularidade).

Na sexta-feira, o real ficou entre as moedas que mais perdeu para o dólar no mundo, predicado que também foi válido, para a semana, para o mês e para o terceiro trimestre.

O dólar comercial fechou o dia valendo R$ 1,882 na venda, alta de 2,06% no dia.

Da mínima do ano, registrada em 26 de julho, a R$ 1,537, o salto é de 22,45%. E no terceiro trimestre o ganho ficou em 20,45%.

No mercado futuro, o dólar para novembro subia 2,04%, a R$ 1,8925 antes do ajuste final.

No mês que começa, atenção às posições na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), onde os estrangeiros saíram de vendidos (aposta no real) para comprados (aposta no dólar) em contratos de dólar futuro.

Sempre na mão inversa, os bancos mudaram da compra para a venda de dólar futuro.

No mercado à vista, o quadro também é outro. Aqui as instituições financeiras estão compradas em dólar físico.

O mês também marcou uma inversão no modo de atuação do Banco Central (BC).

A autoridade monetária vendeu swaps cambiais (o que equivale a ofertar moeda no mercado futuro) pela primeira vez em mais de dois anos.

Interessante notar que já se ouve nas mesas pedidos por novas atuações do BC, nem que sejam apenas para zerar os swaps reversos (que equivalem à compra de dólar futuro) que estão em circulação.

Nesta segunda-feira, "chegam" ao mercado cerca de US$ 2 bilhões referentes aos swaps reversos que venceriam hoje e não foram rolados pelo BC.

Eduardo Campos é repórter

E-mail eduardo.campos@valor.com.br

 

 

 

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