01/11/2011

Outubro foi bom, mas o que vem pela frente?

Por Eduardo Campos

Na Europa, tudo certo, mas nada resolvido. No entanto, isso não foi determinante para o comportamento dos mercados ao longo de outubro. O último pregão do mês foi negativo, mas isso não tirou o brilho do período.

Seja por esgotamento de venda, retomada técnica ou crença de que as coisas vão mesmo melhorar, o fato é que as bolsas dispararam, assim com o preço do petróleo. O que caiu foi a volatilidade e o preço do dólar. Sim, sempre existem dias bons em meio a crises.

O S&P 500 teve alta de 11%, o que fez de outubro o melhor mês desde dezembro de 1991. O Ibovespa ganhou 11,5%, maior alta mensal desde maio de 2009. E o petróleo do tipo WTI saltou 18% no mês que ficou para traz.

UE terá dificuldades em ampliar fundo de estabilidade

Na mão inversa, o dólar comercial perdeu 9,46%, maior queda mensal desde maio de 2009 (veja gráfico abaixo). E o VIX, que mede a volatilidade das opções no mercado americano é visto como um termômetro do medo do mercado, tombou mais de 30%, voltando à linha dos 30 pontos.

Mas tamanha exuberância irracional deu sinal de fraqueza na segunda-feira. Ainda é cedo para taxar de mera realização de lucros ou volta à realidade. Conforme notou o diretor de tesouraria do Banco Prosper, Jorge Knauer, analisando friamente o noticiário, faltam motivos para tamanho rali no preço dos ativos.

Da Europa vieram sinais de que a meia vida do remédio europeu pode ser de apenas 48 horas. A Itália voltou a pagar mais de 6% para financiar seu endividamento com papéis de 10 anos. Ou seja, mesmo com as ações e promessas de suporte, os agentes não querem rever seu preço.

Outra notícia da região soma ainda mais dúvidas sobre o plano para ampliação do Fundo de Estabilidade Financeira Europeu (EFSF, na sigla em inglês). O "Financial Times" trouxe interessante história sobre o uso do fundo para financiar o plano de resgate à Irlanda.

A ideia era emitir € 5 bilhões em papéis de 15 anos. Nada feito. Antevendo falta de demanda pelos títulos, a oferta caiu pra € 3 bilhões e o prazo foi reduzido para 10 anos. A publicação também chama atenção para a taxa, de 3,3%, acima dos 2,6% registrados em setembro por papéis de mesma maturidade do EFSF.

Agora, como que os líderes europeus esperam levantar 1 trilhão de euros ou mais para capitalizar o fundo se mal conseguem obter € 5 bilhões? Haja boa vontade da China e outros possíveis investidores em carregar esse risco.

No câmbio, o euro amargou uma queda de mais de 2% no pregão de ontem, saindo da linha de US$ 1,41 para US$ 1,38. A venda da moeda comum ganhou corpo no fim do dia e fez estragos por aqui.

Quem captou essa baixa do euro foi o dólar futuro. O contrato para dezembro, referência de mercado, subia 2,66%, para R$ 1,731 antes do ajuste final de posições na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F).

O mercado à vista escapou dessa rodada final de deterioração. Mas o dia foi dos compradores aqui e no mundo todo. A moeda americana subiu 1,18% e fechou a R$ 1,704 na venda, máxima do dia. Como o preço ficou descolado da cotação futura é possível que se veja um repique de alta na cotação na abertura do pregão desta terça-feira.

No mercado de juros futuros, o pregão foi morno, mas o viés de baixa prevaleceu entre os contratos mais longos. E o aumento das posições vendidas pode ganhar novo impulso dependo do resultado da produção industrial de setembro, que será conhecida agora pela manhã. A Gradual Investimentos trabalha com retração de 0,2% no comparativo mensal.

Ainda ontem, o presidente do Banco Central (BC) Alexandre Tombini, acenou que o plano de voo da autoridade monetária segue válido mesmo com a melhora recente de percepção com relação à Europa. Ou seja, os cortes moderados da Selic são condizentes com o cumprimento da meta de inflação em 2012.

"Vivemos num cenário de pessimismo e volatilidade. Os anúncios dos líderes europeus são promissores e causaram certa acomodação no mercado neste momento, mas a saída de crises de endividamento é demorada e há uma nítida percepção de esgotamento do grau de manobra das políticas fiscal e monetária, instrumentos que não podem mais ser ativados com a serenidade e a intensidade de 2008", disse Tombini em palestra proferida na Associação Brasileira de Bancos Internacionais (ABBI), em São Paulo.

Eduardo Campos é repórter

E-mail eduardo.campos@valor.com.br

 

 

 

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