03/10/2011

Investidores apostam no aluguel de ações

Com a Bolsa em queda desde o início do ano, investidores buscam alternativas com mais risco

YOLANDA FORDELONE - O Estado de S.Paulo

A queda da Bolsa em 2011 tem feito os acionistas buscarem operações mais sofisticadas no mercado. Uma delas, o aluguel de ações, tem atraído muitos investidores: o crescimento da quantidade de operações de aluguel foi de 46% em 12 meses, se comparados os dados de setembro até o dia 28 com o mesmo mês em 2010. Em setembro, até o dia 28 foram 118.835 negócios, movimentando R$ 57,9 bilhões.

"Investidores com visão de longo prazo buscaram conhecimento sobre renda variável e se depararam com a possibilidade de alugar suas ações para conseguir um rendimento maior, além da valorização do próprio papel", explica o gerente comercial da corretora Ágora, Hélio Pio. O mercado costuma chamar esse investidor que empresta papéis de doador.

É firmado um contrato de aluguel no qual outro investidor, o tomador, se compromete a pagar uma taxa pelo período do empréstimo, geralmente de 30 dias, e a devolver as ações após o vencimento. "É uma operação de renda fixa praticamente para quem está alugando o papel", diz o operador do mercado financeiro da Spinelli, Leandro Novaes.

O aluguel inclusive é tributado na tabela de Imposto de Renda de renda fixa, que varia de 15% a 22,5% sobre os ganhos, dependendo do período da aplicação. "O aluguel é um ganho extra para o participante. Além da valorização do papel no mercado, ganha a taxa de aluguel", afirma o diretor de risco da Bovespa, Luis Antônio Vicente. Além disso, se no período de aluguel forem pagos dividendos ou algum outro benefício, o valor é de direito do dono da ação, deste doador, mesmo que o papel esteja emprestado.

O crescimento de interessados foi tamanho que há três meses a corretora TOV criou uma mesa exclusiva de aluguel. "Houve um crescimento de 30% nesse período", conta o diretor de renda variável da corretora, Carlos Fraga. "O que observamos no mercado é que não é a base de clientes que cresce, mas os investidores que já estavam na Bolsa buscam novas alternativas", diz.

A rentabilidade varia conforme a procura pelo aluguel. Ações muito buscadas têm taxa de locação maior, como é o caso da IGB ON (50,2%), Guararapes ON (30,2%) e JBS ON (21,8%), conforme dados da CBLC com empréstimos nos últimos três dias. JB Duarte PN (0,01%), BR Brokers ON (0,04%) e Cemig ON (0,20%) são menos procuradas e, atualmente, têm os menores aluguéis.

Tomador do empréstimo. O objetivo da outra ponta do negócio, do tomador do empréstimo, é alugar a ação, vendê-la no mercado e recomprá-la a um preço menor para devolver ao dono e honrar o contrato. "É uma operação especulativa", define Fraga. Para o investidor sair com lucro, o mercado deve estar em baixa, justamente o cenário que a Bovespa tem vivido nos últimos meses.

O crescimento de interessados, segundo Fraga, se deu não somente porque investidores procuraram se informar mais, mas também porque as corretoras estão oferecendo e informando mais os clientes sobre estratégias de maior risco, mas com possibilidade de ganho na baixa da Bolsa, o que o mercado chama de "ficar vendido". Pio conta que na Ágora há uma equipe de analistas centrada em elaborar relatórios long short, que mescla estratégias de lucro na alta e baixa da Bolsa.

O número de instituições financeiras que fazem a intermediação do negócio bateu recorde. Atualmente são 89 corretoras atuando neste mercado.

O risco da operação para quem aluga a ação é mínimo, dizem especialistas. A Bolsa atua no papel central de garantidora da devolução da ação. Para isso, exige uma margem de garantia para quem toma o empréstimo, que pode ser outras ações, títulos públicos, CDBs. "Todo dia ajustamos essa margem. Se no vencimento o investidor não tiver recomprado a ação executamos a margem, compramos o papel e a devolvemos", explica Vicente. Para o tomador, o risco é do cenário de baixa do papel não se concretizar. Neste caso, ele deve assumir o prejuízo e devolver a ação.

 

 

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