17/10/2011

O G-20 avança pouco

 

CELSO MING - O Estado de S.Paulo

Oficialmente, os ministros de Fazenda e os presidentes de bancos centrais do Grupo dos 20 (G-20) países mais importantes do mundo estão em Paris para preparar mais uma reunião de chefes de Estado, agendada para os dias 3 e 4 de novembro, em Cannes, também na França.

No entanto, a encrenca principal está lá na área do euro e terá de ser resolvida com meios e decisões que envolvem os representantes locais. Não há muito que as lideranças do resto do mundo possam fazer para ajudar a tirá-los da crise em que estão metidos. Pode-se aprovar mais capital para o Fundo Monetário Internacional, mas esse adicional será sempre insuficiente. Ou até mesmo aumentar a mobilização para que os grandes bancos se capitalizem e se desfaça a ameaça de uma crise sistêmica, o que também é pouco.

Ontem, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, criticou o governo dos Estados Unidos, que segue pedindo para que as lideranças europeias tenham mais pressa em construir uma saída para a crise. Merkel sugeriu que, em vez de pressionar, os dirigentes de fora do euro aprovem a proposta da criação de um Imposto sobre Transações Financeiras (ITF), destinado a arrecadar cerca de 57 bilhões de euros por ano e, assim, ajudar a recompor as finanças públicas.

Para que funcione, esse tributo teria de ser adotado em escala global. Se vigorasse apenas num conjunto limitado de países, os negócios bancários tenderiam a fugir para territórios ou blocos livres desse imposto. Estados Unidos, Inglaterra e China se pronunciaram radicalmente contra a proposta. Portanto, esse imposto não é para já.

Mas não somente os políticos da zona do euro precisam agir. Também o governo americano continua passivo demais, incapaz de desentalar o setor produtivo.

Ontem, artigo assinado no New York Times pelo professor de Economia Martin Feldstein, da Universidade Harvard, advertia que a economia dos Estados Unidos não será resgatada enquanto o governo de Washington não tomar providências para estancar o derretimento dos preços dos imóveis residenciais, que perderam 40% do seu valor desde o início da crise. Só no período de 12 meses terminado em junho deste ano, US$ 1 trilhão sangrou em seu valor de mercado. Nada menos que 15 milhões de americanos que recorreram a empréstimos hipotecários devem mais do que valem hoje seus imóveis. Entre esses, cerca de 7,5 milhões têm uma dívida hipotecária que ultrapassa 30% do valor do imóvel. É uma situação que empurra à suspensão dos pagamentos pelo devedor, à execução das hipotecas pelo banco e a mais pressão sobre a oferta de imóveis, cuja consequência é o esfriamento do setor produtivo.

Nesse campo, o governo Barack Obama está parado, por temer ser acusado de discriminação, caso perdoe, ao menos parcialmente, dívidas habitacionais que outros mutuários foram obrigados a honrar até o fim.

São muitas as críticas que podem ser feitas ao G-20 e a outros grupos informais de coordenação de políticas, quase sempre limitados a muita conversa e à foto oficial do evento. E, de fato, está sendo difícil ver algum resultado prático. Quem sabe um dia se perceba melhor que foi a partir desses encontros, aparentemente inócuos, que a governança global ganhou mais consistência.

 

 

 

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