22/08/2011

Análise gráfica ainda vê bolsa 'turbulenta'

Embora mercado tenha vivido seis fortes crises financeiras recentemente, especialistas em grafismo dizem que é impossível prever o fim da atual

Roberta Scrivano, de O Estado de S.Paulo

SÃO PAULO - A curva das bolsas de valores oscila junto com o desempenho da economia de cada país e do mundo. O movimento sincronizado entre o desempenho da economia local, da bolsa local e de bolsas de outros países pode ser observado em pelo menos seis episódios recentes de crise. A repetição dos casos, no entanto, não é suficiente para prever quando a atual turbulência vai arrefecer.

A sequência dos seis episódios mais recentes de turbulência econômica e financeira começou em 1994, quando o México enfrentou uma forte crise cambial. Em 1997, o problema foi a crise monetária asiática. No ano seguinte, o mundo sofreu com a moratória russa. O quarto episódio foi motivado pelo atentado de 11 de setembro nos EUA. Em 2008, os mercados acompanharam o início de mais uma crise financeira mundial. E, agora, em 2011, como nos outros casos, a sincronia das curvas se repetiu.

"Cada crise tem uma característica. Por isso não é possível correlacionar uma à outra e fazer uma média do tempo que o mercado demora para se recuperar", explica o analista gráfico da corretora Souza Barros, Eduardo Matsura, autor do livro Análise Técnica na Prática: um método intuitivo para comprar e vender ações. Embora seja difícil fazer previsões, Matsura afirma que "não acredita em um duplo mergulho do mercado". "Agora, estamos colocando os pés no chão. Creio em um novo patamar do mercado", emenda.

Grafista. Ao analisar o gráfico do Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa), principal termômetro da bolsa brasileira, é fácil perceber o impacto de cada uma das últimas crises no mercado de ações. "Mas, sem dúvida, a maior e mais forte delas é a de 2008", comenta Matsura. Ele pontua que a análise feita em cima da curva do Ibovespa indexado ao dólar delineia ainda melhor os fatos, pelo fato de a cotação da moeda americana ser mais estável.

A turbulência de 2008, retoma o especialista, desencadeada pela quebra do banco americano Lehman Brothers em setembro, foi muito intensa durante seis meses. A recuperação do mercado, por sua vez, demorou 12 meses para acontecer - a contar a partir do término dos seis meses de crise. "Diferentemente das outras, essa foi uma crise bancária. As anteriores eram cambiais", detalha. O recuo do Ibovespa neste período, além de rápido, foi bastante forte: 60%.

A atual crise, desencadeada pelo rebaixamento da nota de crédito dos Estados Unidos pela agência de rating Standard & Poor’s, para Matsura ainda é um soluço do subprime ocorrido em 2008. "Estamos vivendo a mesma turbulência", considera.

Sem comparação. Entre os anos de 2000 e 2001 o mercado sofreu o estouro da bolha da internet (crise ocorrida em Nasdaq e chamada de .com) e, em setembro, ocorreu o atentado terrorista contra as torres gêmeas em Manhattan. Foram dois anos e sete meses de turbulência no mercado e outros dois anos e quatro meses de recuperação, calcula Matsura. "E a queda porcentual ocorrida no Ibovespa foi de 80%. Isso mostra como as crises geram reações diferentes no mercado", reforça.

As crises do México, da Ásia e da Rússia tiveram impacto de menor tempo no mercado brasileiro. Quando houve a turbulência no país da América Central, por exemplo, o mercado brasileiro sentiu a crise por seis meses e demorou 14 meses para se recuperar. A crise asiática impactou por três meses e, o mercado nacional demorou cinco meses para se recuperar. Já na moratória russa, o Brasil sofreu por cinco meses e a bolsa demorou 14 meses para se recuperar. "Se analisarmos a curva da Dow Jones, vamos ver a mesma coisa que vemos no Ibovespa", frisa Matsura.

Oportunidade. Na sexta-feira a Bolsa de Valores de São Paulo fechou com queda de 1,29%, a 52.447 pontos. "Quem quer investir em ação tem que fazer a lição de casa: comprar gradativamente novos papéis em tempos de baixa, como o atual, e vender gradativamente quando a época é de alta", recomenda Fábio Colombo, administrador de investimentos que atua no mercado há mais de 20 anos.

O especialista também chama atenção para o gráfico do Ibovespa. Quem comprou papéis no auge da crise de 2008, quando a bolsa atingiu praticamente o fundo do poço, pode até vendê-los agora sem registrar prejuízo.

 

 

 

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