30/08/2011

Economistas são unânimes em prever que juros serão mantidos em 12,5%

 

Autor(es): agência o globo:Vinicius Neder

O Globo - 30/08/2011

 

RIO e BRASÍLIA. Economistas e analistas de mercado acreditam que o aperto monetário iniciado em abril de 2010 chegará ao fim amanhã, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anunciará sua decisão sobre a taxa básica de juros (Selic) ao término da reunião que começa hoje. Mas o fim do aperto virá com a manutenção da Selic em 12,50% ao ano, sem espaços para cortes. Todas as 11 instituições consultadas pelo GLOBO preveem manutenção na Selic amanhã.

Pressões inflacionárias ainda persistentes e incertezas sobre o impacto da desaceleração da economia mundial no Brasil justificam cautela, dizem especialistas. Por isso, um corte na Selic amanhã é considerado improvável, embora o mercado futuro de juros aponte essa possibilidade - em parte por causa de especulação, em parte porque investidores levam em conta pressões políticas sobre o BC.

Além disso, para analistas, o aumento na austeridade fiscal anunciado ontem pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, terá pouco efeito prático a curto prazo. A previsão de manutenção da Selic é corroborada pela pesquisa Focus, divulgada ontem pelo BC. Pela terceira semana seguida, a média dos cem analistas consultados na pesquisa aponta a Selic estável em 12,50% em setembro e até o fim do ano.

- Tudo leva a crer que o Copom fará uma trégua - diz ex-diretor do BC e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC) Carlos Thadeu de Freitas.

Especialistas também duvidam de corte na reunião desta semana porque a mudança no cenário externo foi rápida desde o último encontro, em julho. No comunicado e na ata do mês passado, o Copom sinalizou a possibilidade de encerrar o ciclo de alta na Selic. Antes de baixar a taxa, portanto, é praxe prevenir o mercado.

- O BC deverá usar seus canais formais de comunicação - lembra a economista-chefe da corretora Icap Brasil, Inês Filipa.

Momento atual exige
prudência, diz economista

Segundo Freitas, da CNC, o cenário externo não permite que o BC fique parado, e é possível que a autoridade monetária sinalize uma perspectiva de baixa na Selic, no comunicado e na ata da reunião.

Porém, para o ex-presidente do BC e coordenador do Centro de Economia Internacional da Fundação Getulio Vargas (FGV-Rio) Carlos Langoni, o momento exige prudência e sinais de tendência deverão ficar de fora:

- Seria precipitado o Copom dizer que o juro vai cair.

Langoni e Freitas concordam que o cenário para a inflação ainda é incerto e dependerá da cotação das commodities e da reação da China à desaceleração da economia mundial, pois a demanda do país asiático por matérias-primas brasileiras mantém as commodities em alta.

Na avaliação de Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria, o cenário externo incerto não significa que está tudo certo:

- Não fosse o cenário externo, seria melhor elevar a Selic. É muito cedo para pensar em redução da taxa.

A preocupação dos especialistas se concentra na inflação - a grande maioria das previsões aponta para uma taxa acima do centro da meta oficial inclusive em 2012. Além das cotações das commodities, fatores como o forte reajuste no salário mínimo no próximo ano e o mercado de trabalho aquecido, com aumento real de renda, continuarão pressionando os preços, principalmente os dos serviços.

- Algumas simulações mostram que só uma contração no PIB faria a inflação convergir para o centro da meta em 2012 - diz Inês, da Icap Brasil.

Alessandra, da Tendências Consultoria, diz ainda que faltam evidências de contaminação da economia brasileira pelo ambiente externo. O cenário é diferente do da crise de 2008, quando houve travamento no crédito. Langoni lembra que isso só ocorrerá se os problemas no sistema bancário europeu piorarem.

Previsão de expansão cai pela quarta vez seguida

Por isso, para Alessandra, o Copom deveria manter a Selic e deixar em aberto que poderá tomar novas medidas em função do comportamento externo.

Já a pesquisa Focus do BC mostrou que os analistas esperam preços maiores e menos crescimento tanto neste ano como no ano que vem. Eles aumentaram, pela segunda semana seguida, a previsão para a inflação oficial neste ano. A aposta para o IPCA passou de 6,28% para 6,31% em 2011.

A previsão de expansão caiu pela quarta vez seguida. Passou de 3,84% para 3,79% neste ano. E o mercado, que manteve por cinco semanas a expectativa de expansão de 4% no ano que vem, reduziu a estimativa para 3,9%.

- O pessimismo aumentou nos últimos tempos, mas eu não estou apavorado, porque o problema foi muito focado no mercado financeiro - diz José Goes, da consultoria WinTrade.

Na análise dos economistas do Itaú, ainda há pouca visibilidade sobre as próximas fases da crise internacional e o seu efeito no crescimento e na inflação. No pior cenário, o mundo cresceria apenas 2,5% em 2012 (e não 3,5%). E o Brasil, cerca de 3%.

 

 

 

 

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