30/08/2011

Analistas dizem que governo consegue economizar mesmo sem cortes

Mesmo sem fazer cortes de gastos, o governo deve conseguir uma boa economia nas contas públicas e atingir a nova meta de guardar mais dinheiro para pagar suas dívidas. A avaliação é de analistas ouvidos pelo UOL para comentar o anúncio do governo de novas medidas contra a crise econômica global.

O ministro Guido Mantega (Fazenda) disse nesta segunda-feira (29) que o governo fará uma economia extra de R$ 10 bilhões, elevando a meta de superavit primário para este ano. O superavit é a economia do governo para pagar a dívida pública.

No entanto, Mantega falou que não serão feitos novos cortes nos programas sociais e prioritários do governo. A economia seria atingida evitando-se novos gastos. Houve dúvidas entre os jornalistas presentes à entrevista de Mantega se isso seria possível.

Keyler Rocha, professor da Faculdade de Economia e Administração da USP (FEA-USP), diz que sim. "Mesmo que não haja corte de gastos, uma manutenção dos gastos atuais já representaria um corte, por conta da inflação", afirma.

O que se percebe é que o governo pretende segurar o aumento de gastos, mas não quer fazer nenhum corte de gastos, afirma Almir Pelói, sócio-diretor da Macro Auditoria e Consultoria.

"Na realidade, com a perspectiva do aumento das receitas, os gastos acabam acompanhando e subindo também", diz Pelói. "Se o governo conseguir segurar esse aumento de gastos, terá mais recursos para fazer investimentos e mobilizar a economia."
Anúncio feito pelo governo ajuda a acalmar investidores externos

O anúncio do governo de que fará uma economia extra de R$ 10 bilhões para enfrentar a crise global serve principalmente para acalmar os investidores externos e as agências de classificação de risco, segundo José Roberto Savoya, professor de Finanças da FEA-USP.

"Com certeza, para os investidores externos existe uma preocupação quanto à situação fiscal do Brasil, mais forte do que para aqueles que conhecem a realidade local", afirma Savoya

Savoya diz que é uma medida importante e ressalta que é preciso considerá-la em conjunto com as mudanças microeconômicas que estão sendo anunciadas no país, mas que não têm a mesma visibilidade no exterior.

Como exemplos, ele cita o controle da oferta de crédito para evitar uma bolha, controle da inflação e manutenção do crescimento.

"Esse conjunto vai abrir espaço para uma redução da taxa de juros de forma continuada", diz Savoya.
Nova meta deve ser atingida com facilidade, diz analista

O aperto de gastos deve ser atingido com alguma folga. A avaliação é do professor de Economia do Ibmec-RJ, Gilberto Braga.

"Mantidas as condições normais de temperatura e pressão, essa meta será facilmente atingida, do ponto de vista financeiro", diz Braga. O governo mudou a meta do superavit primário e se propôs economizar R$ 10 bilhões a mais neste ano do que o previsto inicialmente. O superavit é a economia do governo para pagar a dívida pública.

O governo federal registrou em julho um superavit primário de R$ 11,184 bilhões. Com isso, o governo cumpriu 81,78% da meta de 2011 que estava valendo até hoje (R$ 81,7 bilhões). Agora a meta passou para R$ 91,7 bilhões. Como o governo já estava adiantado na meta original, Braga avalia que deve ser fácil atingir os novos valores.

O professor diz que, com essa medida, o governo fica com uma margem maior para se defender de um eventual ataque especulativo e de um aumento do custo de sua dívida.
Prós e contras do superavit primário

Obter o superavit primário é importante para conter o aumento da dívida pública e evitar calotes no futuro.

A dívida pública é contraída, entre outras situações, quando o governo vende títulos para os aplicadores. Ele promete aos investidores pagar juros a mais no futuro, como acontece com qualquer outro investimento financeiro.

Se o governo não economizar, a dívida pode crescer muito e ele não tem como pagar. Isso caracterizaria o calote.

No entanto, fazer muito superavit primário não tem só esse lado bom de guardar dinheiro para pagar as dívidas. O governo realiza essa economia aumentando impostos e deixando de gastar, por exemplo, em investimentos em obras e serviços.

Fonte: Uol

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