Para combater rumores sobre a saída de Luís Stuhlberger, Credit Suisse confirma compra de mais 50% da Hedging-Griffo e anuncia avanços na integração entre as duas instituições
Patrícia Cançado e David Friedlander - O Estado de S.Paulo
Os banqueiros Antonio Quintella e José Olympio Pereira reuniram cerca de 100 funcionários do Credit Suisse no último fim de semana com dois objetivos: anunciar os próximos passos da instituição no Brasil e tentar neutralizar a onda de especulações de que Luís Stuhlberger, um dos gestores de recursos mais admirados do País, poderia sair do banco.
Marisa Cauduro/O Globo
Saída. Dos 70 sócios da gestora de Stuhlberger, 40 deixaram o negócio após a compra pelos suíços
Stuhlberger está com o Credit desde 2006, quando os suíços compraram 50% de sua gestora Hedging-Griffo, por R$ 635 milhões. Até o próximo dia 31 de dezembro, o Credit tem a opção de comprar a outra metade, por cerca de R$ 1, 25 bilhão. Quintella e José Olympio confirmaram a seus funcionários que a compra será consumada.
E como a Hedging-Griffo perde força sem Stuhlberger, há um esforço para mostrar ao mercado que ele continua na operação, mesmo deixando de ser dono. "Vou continuar trabalhando do mesmo jeito, como se a empresa ainda fosse minha", afirma ele. "Não vendi a Hedging-Griffo por dinheiro, isso eu já tinha. Eu queria algo novo, estou contente e vou continuar aqui. Nunca fui obrigado a ficar".
De acordo com os executivos do Credit, Stuhlberger nunca foi impedido por contrato de deixar o banco. Mas existe uma cláusula que o proíbe de montar um negócio na mesma área até 2015. Como a paixão de sua vida é administrar dinheiro - e ele só pode fazer isso onde está hoje -, o gestor diz que não vê motivo para deixar o Credit Suisse. "Não tenho pretensão de ter barco, ilha, jogar golfe, tirar seis meses de férias. Trabalhar é uma coisa muito boa", diz Stuhlberger.
Reconhecido pelo desempenho genial na administração do dinheiro de seus clientes, Stuhlberger tem a aparência desgrenhada de um cientista maluco. Só que em vez de inventar engenhocas, usa suas habilidades para ganhar dinheiro. Stuhlberger gosta de falar o que pensa e não é de seguir as regras dos outros. Na boataria sobre sua saída do Credit, essas características foram apontadas como fonte de atrito com os suíços.
Para dar uma demonstração firme de união, a direção do banco decidiu que mesmo depois de concluída a compra, a marca Hedging-Griffo será mantida ao lado do Credit Suisse no negócio de gestão de recursos. No ano que vem, os cerca de 900 funcionários do banco de investimentos e da gestora, hoje em endereços separados, passam a dividir o mesmo espaço, num prédio novo. Toda a divisão de gestão de ativos do Credit Suisse - que inclui 2 mil clientes - será transferida para a gestora. O banco de investimentos continua com a marca Credit Suisse e nada muda na área de private banking (voltada para clientes muito especiais).
A compra da Hedging-Griffo revelou-se um acerto estratégico para o banco suíço. A área de private banking, que não existia no Credit Suisse e veio com a gestora de Stuhlberger, cresceu quatro vezes desde 2006. No primeiro ano depois da fusão, a Hedging-Griffo contribuía com 20% dos resultados do banco. Hoje, é quase metade.
"A gente acertou que a atividade de asset management ia crescer muito", diz Quintella, presidente do Credit para as Américas. Stuhlberger completa: "Se a gente não tivesse o banco, não teria dado certo. Se o banco não tivesse a gente, também não iria conseguir".
Fundo Verde. Filho de empresário, o engenheiro Stuhlberger entrou no mercado financeiro nos anos 80 e em pouco tempo tornou-se um bom operador de ouro. O salto veio na década seguinte, quando abriu sua administradora de fundos. No começo cuidava de tudo, da definição da estratégia às operações pelo telefone. Foi nessa época que deu a tacada de sua vida, a criação do fundo Verde, cujo desempenho é o principal responsável pela fama que desfruta até hoje.
O Verde é um fundo multimercado, que investe em ações de empresas, câmbio, commodities, títulos públicos e privados". Com um patrimônio de quase R$ 9 bilhões, o fundo foi criado em 1997. Foi o fundo multimercado com maior valorização nos últimos cinco anos no País, segundo a Economática.
Stuhlberger e o Verde ganharam fama pelo sucesso alcançado na sequência de crises do final dos anos 90 (a da Ásia, a da Rússia e a do câmbio), quando ganharam muito dinheiro num ambiente em que quase todos perderam. Mas ele não é infalível. Apanhou na crise financeira de 2008 e no repique deste ano, durante a semana em que as bolsas derreteram, ele também teve dificuldades.
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