18/08/2011

Investimentos x crise: respostas sobre como agir em épocas de incertezas

SÃO PAULO – Depois do Ibovespa (principal índice de ações da bolsa brasileira) fechar a primeira semana do mês com baixa de quase 10% e oscilar entre altas e baixas na semana seguinte para encerrar em patamar positivo, muitas questões começam a surgir na cabeça do investidor. O que é melhor fazer em momentos de incertezas? É hora de sair ou de entrar no mercado de ações?

Para responder a essas e outras questões, o portal InfoMoney separou algumas perguntas que podem ser feitas pelos investidores em épocas assim e procurou respondê-las, como um guia em períodos de turbulência.

Confira!

1 – Por que os problemas econômicos de outros países impactam nos mercados brasileiros?
O rating (classificação de risco) dos Estados Unidos foi rebaixado no início deste mês por uma agência de classificação de riscos. No dia seguinte de funcionamento das bolsas, o Ibovespa (principal índice da bolsa brasileira) desaba mais de 8%.

Os especialistas ressaltam que isso acontece pelo fato de vivermos em um mundo totalmente globalizado, onde a informação atravessa o oceano instantaneamente e os mercados dependem muito uns dos outros. Portanto, se houver uma recessão ou problemas econômicos muito sérios em países europeus ou nos Estados Unidos, o Brasil também pode ser afetado.

Isso faz com que haja uma maior aversão ao risco entre os investidores e as notícias acabam propagando uma espécie de "pânico generalizado" no mercado acionário.

Além disso, a participação de investidores estrangeiros na bolsa brasileira é bastante alta - em julho eles foram responsáveis por quase um terço do volume de negócios na Bovespa. Portanto, se existe uma forte aversão ao risco entre os estrangeiros, que preferem ativos mais seguros em momentos de incerteza, a direção do mercado acionário brasileiro também é afetada.

2 – É importante acompanhar as bolsas internacionais para saber o que fazer com os investimentos em ações no Brasil?
Como foi apontado na questão anterior, o mundo globalizado faz com que notícias de qualquer parte do mundo possam impactar diretamente no mercado acionário brasileiro. Por isso, estar atento ao que está acontecendo nos outros mercados globais é importante para quem possui investimentos em ações.

Mas, segundo especialistas, um acompanhamento diário das notícias e cotações das bolsas internacionais só precisa ser feito por aqueles operam diariamente, em transações de day trade (comprar e vender a mesma ação no mesmo dia) ou swing trade (comprar e vender a mesma ação dentro de poucos dias).

De acordo com os analistas, o mercado brasileiro já acorda de olho nos mercados asiáticos, em especial o índice SSE Composite, da bolsa chinesa. O Nikkei 225, de Tóquio, também é bastante observado pelos investidores.

As bolsas europeias também estão sempre no foco dos analistas nacionais, principalmente a de Londres (índice FTSE-100), de Paris (CAC-40) e de Frankfurt (DAX-30).

Entretanto, na maioria das vezes, as bolsas norte-americanas são quem ditam o rumo do mercado brasileiro. Por lá, as atenções se voltam especialmente para o índice DJIA (Dow Jones Industrial Average), além do índice S&P500 e a bolsa eletrônica Nasdaq.

Já os investidores que operam com vistas no longo prazo, com interesse em utilizar o investimento em ações para a aposentadoria, por exemplo, não são tão influenciados pelos movimentos diários das bolsas internacionais e não precisam acompanhar diariamente o desemprenho destes mercados.

3 – Neste período de instabilidade, com muitos papéis com preços descontados, o que o investidor deve fazer?
O momento de queda é enxergado por muitos como uma excelente oportunidade de adquirir papéis de boas empresas, por um preço menor do que eles realmente valem.

Por isso, de acordo com especialistas, para aqueles investidores que têm a intenção de operar no longo prazo, a baixa do mercado pode ser uma boa opção de montar uma carteira de investimentos. Segundo eles, o importante é analisar os fundamentos das empresas e verificar se elas têm possibilidade de lucros no longo prazo.

Com a forte queda do dia 8 deste mês, por exemplo, múltiplos como P/L (Preço/Lucro por ação) e P/VPA (Preço/Valor Patrimonial por ação) já se encontram descontados e, em alguns casos, até próximos dos registrados na crise de 2008.

Mas, de acordo com analistas, além dos múltiplos, o investidor deve ficar atento a muitos outros fatores, como resultados das empresas e suas perspectivas, comportamento do setor do qual faz parte, nível de endividamento, margens e geração de caixa, por exemplo.

4 – Existem aplicações consideradas mais seguras em épocas de crise?
Em momentos de grandes incertezas econômicas, os investimentos em ações são os que mais sofrem. Isto porque os investidores procuram fugir de papéis que possam ter muita volatilidade e risco e buscam maior segurança em investimentos literalmente mais "sólidos".

Com isso, aplicações em ouro, por exemplo, costumam ser muito procuradas por grandes investidores durante períodos de grande turbulência. Prova disso é que, no dia em que as bolsas mundiais desabaram, por conta do rebaixamento do rating dos Estados Unidos, o preço da onça troy (unidade de medida do ouro, equivalente a 31,104 gramas) bateu o recorde histórico ao ser cotada a US$ 1.700.

Os imóveis também são considerados investimentos mais seguros e costumam ser bastante procurados em épocas de incertezas econômicas. Entretanto, os especialistas apontam que este tipo de investimento demanda uma análise criteriosa por parte do investidor, já que, em muitos locais, eles já podem estar sendo cotados a um preço bastante elevado e, portanto, representar uma opção pouco interessante de investimento.

5 – Na hora do desespero, como evitar prejuízos maiores?
Em momentos de pânico generalizado, quando o mercado começa a despencar, é difícil para o investidor conseguir manter a calma e evitar entrar no "efeito manada", vendendo seus ativos mesmo com grande prejuízo.

Por isso, de acordo com especialistas, assim como a própria bolsa possui um mecanismo de interrupção do pregão quando a queda do Ibovespa chega a 10% - o circuit braker, que suspende as negociações por meia hora para "acalmar" a forte volatilidade – o investidor também deve traçar as suas estratégias para evitar grandes perdas.

Uma das melhores maneiras de se proteger de fortes quedas é utilizar a ordem "stop loss", que vende automaticamente o papel quando este atinge determinado preço. Assim, o investidor não perde o "timing" de saída e evita um grande prejuízo, especialmente quando a bolsa tem uma perda muito grande.

Depois que a ordem stop foi ativada, se o mercado estiver com muita volatilidade e o investidor estiver com dificuldade de encontar o ponto certo de entrada e saída, também é aconselhável que ele interrompa um pouco as transações e evite agir por impulso, procurando anular as perdas anteriores e, assim, evitar o acúmulo de mais perdas.

6 – Quem não tem investimentos em ações também deve se preocupar com essas turbulências nas bolsas?
As perdas nas bolsas de valores acabam preocupando grande parte da população, mesmo aqueles que não investem no mercado acionário. Isto porque as grandes quedas no mercado acionário costumam ser um sinal de que algum grande problema econômico pode estar perto de acontecer.

Segundo profissionais do mercado, a forte queda das bolsas pode indicar, por exemplo, um início de recessão, que provocaria desemprego e estagnação da economia e afetaria toda a população - e não apenas os investidores do mercado acionário.

Entretanto, eles ressaltam que o Brasil está longe de passar por uma recessão neste momento, já que a economia do País atravessa um período de estabilidade e bons fundamentos. Por isso, por enquanto, a queda do Ibovespa deve prejudicar apenas aqueles que investem em ações.

7 - Como saber o momento certo para entrar no mercado acionário?
Saber o momento exato de comprar e vender as ações é, sem dúvida, uma das maiores dúvidas dos investidores. Para isso, são utilizadas diversas técnicas, como a análise de gráficos e a análise fundamentalista.

De acordo com especialistas do mercado, para quem opera com a análise fundamentalista, um dos momentos mais indicados para se entrar no mercado acionário é durante uma crise, quando o preço das ações estiver em um patamar inferior ao que elas realmente valem.

Para isso, são analisados os fundamentos das empresas e os chamados "múltiplos", que indicam se o preço da ação está "caro" ou "barato". Este tipo de abordagem é particularmente útil na comparação entre papéis de companhias de um mesmo setor de atuação, pois coloca em uma mesma base de comparação papéis de empresas distintas inseridas no mesmo segmento.

8 - É possível aproveitar a queda do mercado para obter rentabilidade?
Os investidores mais experientes também podem aproveitar as quedas do mercado para obter rendimento. Uma das maneiras é vender as ações sem possuí-las no portfólio, dando como garantia outras ações ou o saldo financeiro da conta. É a chamada venda a descoberto.

Neste tipo de operação, o investidor vende um papel que ele acredita que vai cair até o final do dia. Antes do encerramento do pregão, ele compra aquelas ações e ganha com a diferença de preço entre as duas transações.

Segundo com especialistas, este tipo de transação envolve os mesmos riscos de uma operação normal de day trade com objetivo de alta. Ou seja, você tem o tempo contra, então, se aquela ação não subir - ou no caso, não cair – o investidor terá de vender e arcar com os prejuízos.

Para quem opera com prazos mais longos, também existe a possibilidade de operar vendido com ações alugadas. Com a operação, o investidor aluga um ativo, vende e quando atingir o preço esperado, ele compra para devolvê-lo ao dono.

É importante lembrar que esta operação também envolve riscos maiores do que comprar e vender ações, já que ela possui um "prazo de validade". Ou seja, mesmo que aqueles papéis não tenham o desempenho esperado, o investidor terá de devolvê-los e pode ter de embolsar os prejuízos.

Além disso, para alugar ações são cobradas taxas, que costumam variar de acordo com a liquidez daquele ativo.

9 - Quais as melhores estratégias para enfrentar a queda do mercado acionário?
As estratégias para enfrentar as perdas do mercado variam muito de investidor para investidor. Para alguns especialistas, em momentos de queda do mercado, uma opção interessante é acumular papéis, com objetivo de formar uma carteira de longo prazo. Outra boa opção é investir em uma carteira defensiva, com empresas que paguem bons dividendos.

Segundo eles, o mais importante é analisar os fundamentos das empresas e optar por companhias bem estruturadas, que tenham uma boa condição de caixa e paguem bons proventos

Muitos investidores têm opiniões parecidas e, em períodos de baixa do mercado acionário, preferem aproveitar as oportunidades e comprar ações com preço mais barato do que elas realmente valem. Outros preferem ficar de fora, esperando que o mercado perca um pouco a volatilidade e retome uma tendência mais definida.

Para investidores mais experientes e com maior conhecimento do mercado acionário, existem outros tipos de estratégias que também podem ser utilizadas para garantir um rendimento maior e uma proteção contra as quedas. É o caso do Long&Short, por exemplo, que casa uma posição comprada e vendida no mesmo papel.

10 - Fazer transações de curto prazo (day trade) pode ser opção para aproveitar volatilidade?
A forte volatilidade do mercado também pode ser aproveitada por investidores que gostam de comprar e vender ações no mesmo dia, conhecidos como "day traders".

Com este tipo de transação, o investidor pode se beneficiar da oscilação de curto prazo dos papéis e sair no lucro mesmo com a bolsa acumulando perdas ao longo dos meses.

Entretanto, é preciso uma certa experiência no mercado e o conhecimento de análise técnica, que indica o momento de comprar e vender o papel com base na leitura dos gráficos. Caso o investidor tenha dúvidas e não esteja seguro sobre este tipo de transação, o ideal é procurar ajuda da própria corretora de valores.

Além disso, o trader precisa estar ciente de que aquela estratégia deve ser mantida até o final da operação. Ou seja, se a ideia é operar com day trade, o investidor não pode mudar de estratégia pelo fato do preço da ação ter caído no dia, e resolver ficar com o papel por mais tempo.

Fazer cursos, ir a palestras sobre o assunto e ler bastante, para poder se familiarizar com o este tipo de transação, são algumas das dicas dos especialistas para quem pretende operar no mercado acionário desta maneira.

Fonte: InfoMoney

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