22/08/2011

A Marfrig tem bala?

 

Prejuízos, endividamento pesado e ações em queda não esmorecem o interesse do frigorífico pelo espólio da BRFoods

Por Tatiana BAUTZER

O ousado frigorífico Marfrig atravessa uma fase delicada. Conhecido pelas tacadas em aquisições, como a compra da Keystone Foods por US$ 1,26 bilhão no ano passado, a empresa sofreu um prejuízo no segundo trimestre e suas ações enfrentam um vendaval nas bolsas de valores. A elevação de custos de matéria-prima, como os grãos e a arroba do boi gordo, foi uma das principais razões das perdas de R$ 91 milhões da companhia. A receita no Exterior, que já responde por 40% do total, foi afetada pela queda do dólar. O prejuízo ocorreu apesar do forte crescimento de receita líquida, de 49%, para R$ 5,3 bilhões. O resultado da companhia ficou abaixo das expectativas. “Foi um trimestre fraco”, resume Cauê Pinheiro, analista da corretora SLW, ecoando as opiniões de vários especialistas. O desempenho operacional da Marfrig foi pior que o dos concorrentes, segundo outros profissionais do mercado. Na área de bovinos, a margem bruta da Marfrig é de 7,5%, enquanto a da JBS, no Mercosul,  é de 12,5%. A área de bovinos da Marfrig sofreu com a alta ociosidade e com a baixa rentabilidade das operações na Argentina. 


Marcos Molina: o presidente diz que não faltam bancos interessados em financiar a Marfrig na compra de ativos da BRFoods

Em produtos industrializados, a margem bruta da Seara foi de 12%, menos da metade dos 25% registrados pela concorrente Brasil Foods. A operação da Seara tem tido rentabilidade abaixo da esperada, segundo o analista Henrique Ribas, da corretora Planner. “A Seara não conseguiu aumentar a participação de produtos de maior valor agregado”, diz. Na teleconferência de resultados, na segunda-feira 15,  o controlador e presidente da Marfrig, Marcos Molina, admitiu a dificuldade de repassar a alta de custos. “Se as commodities se estabilizarem no segundo semestre, conseguiremos repassar para os preços”, afirmou. Como se não bastasse o cenário desafiador, as ações da Marfrig enfrentam uma tempestade nas bolsas.  

Os papéis já vinham tendo desempenho fraco, mas foram derrubados por operações da gestora de fundos GWI, que tem como principal clientela a colônia coreana de São Paulo (leia a reportagem aqui). As ações Marfrig acumulam queda de 42,5% no ano. Os percalços não reduziram o apetite da empresa por aquisições. No mesmo dia em que anunciou o prejuízo, Molina confirmou o interesse na empresa que será vendida pela BRFoods para cumprir acordo com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). E respondeu ao principal questionamento do mercado sobre a possível compra. Segundo Molina,  apesar do alto endividamento da Marfrig,  ele conseguiria o dinheiro necessário no mercado financeiro para bancar a operação. “Se realmente fizer sentido e tiver sinergia, arrumar o funding não será problema”, afirmou Molina.

 

 

 

 

 

 

 

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