26/08/2011

Oportunidades estão nos mercados emergentes, avalia CME Group

Por Daniela Machado

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Líder no mercado de derivativos, o CME Group, controlador da Bolsa de Chicago, não vê com preocupação o avanço nas negociações de integração entre a Deutsche Börse, controladora da Bolsa de Frankfurt, e a Nyse, de Nova York. Para o grupo, as melhores oportunidades estão mesmo nos países emergentes e a parceria com a BM&FBovespa abre espaço para que outros negócios nesses mercados sejam avaliados conjuntamente.

Em entrevista ao Valor, o presidente-executivo do CME Group, Craig Donohue, que está no Brasil para participar do Congresso de Derivativos da BM&FBovespa, também avaliou que o cenário global é "desafiador", mas disse não ver uma repetição do quadro de 2008, com forte restrições de liquidez. Para ele, as discussões de mais regulação sobre os derivativos de balcão, que despontam em momentos de crise, estão na direção correta.

Valor: Esta semana houve um novo capítulo na proposta de integração de Deutsche Börse e Nyse, com o sinal verde de um comitê americano. Qual a estratégia do CME Group frente ao movimento global de consolidação de bolsas?

Craig Donohue: Nossa estratégia tem sido foco nos mercados derivativos porque temos mais oportunidades para crescer, para inovar. Nós lideramos esse mercado e, idealmente, queremos cobrir um leque mais amplo de ativos. A Nyse e a Deutsche Börse estariam tomando um passo nessa direção, avalio que eles estão construindo um perfil que é mais similar ao nosso próprio. Então, não acho que precisamos desenvolver uma estratégia para responder a eles. Nosso foco está realmente nos mercados em desenvolvimento e emergentes, em nos globalizar. A próxima fronteira para nós está em lugares como Brasil, México, Coreia, Índia, China.

Valor: Nesse sentido, o CME Group considera algum movimento conjunto com a BM&FBovespa em direção a outros negócios na América Latina?

Donohue: Consideramos a BM&FBovespa nosso principal parceiro estratégico. Estamos claramente comprometidos em trabalhar juntos para explorar áreas com oportunidades mútuas, mas isso não é somente na América Latina. Regularmente nós falamos sobre oportunidades globais conjuntamente.

Valor: Faz sentido pensar em uma futura fusão com a BM&FBovespa?

Donohue: Toda vez que você pensa em uma fusão ou integração de grande escala, você realmente precisa se concentrar nas sinergias que podem ser alcançadas. Se considerar as fusões de bolsas nos últimos 10 ou 12 anos, um dos melhores exemplos de sinergias conquistadas foi a combinação do próprio CME Group porque estávamos no mesmo país, com um regulador, mesmos tipos de produtos, tínhamos muita sobreposição de plataformas de negociação, clearings. Quando você avalia transações com outro país não está claro que podem realmente prover muito valor para clientes e acionistas, porque você tem reguladores separados, sedes separadas, tecnologias separadas, exigências separadas. Talvez essa seja uma questão para o futuro, mas por enquanto estamos felizes com a parceria que temos com a BM&FBovespa.

Valor: Há planos de aprofundar a parceria com a BM&FBovespa?

Donohue: A próxima etapa no fortalecimento da parceira será ampliar o leque de produtos negociados, em ações, commodities, energia, metais. Olhamos como tornar os produtos da BM&FBovespa disponíveis na CME em dólares e os produtos da CME disponíveis na BM&FBovespa em reais. Isso apresenta boas oportunidades. E muito do que temos feito é enfrentar uma série de barreiras estruturais que existem para acessar os mercados de forma mais eficiente. Algumas vezes são barreiras legais, outras regulatórias ou de taxas. Algumas vezes são tecnológicas ou apenas uma questão de conhecimento. As pessoas precisam saber o que está disponível.

Valor: Nesta semana, o CME Group elevou as margens exigidas na negociação de contratos de ouro em cerca de 27%, o maior aumento em mais de dois anos. Vocês estão vendo a formação de bolhas?

Donohue: Não quero comentar níveis de preços, mas a razão pela qual nós aumentamos a margem foi baseada na volatilidade e em outros fatores de risco. O ouro tem se mostrado muito volátil. Nós aumentamos a margem há duas semanas e novamente ontem [quarta-feira] porque nós precisamos garantir que temos a quantia apropriada de colateral sustentando as posições das operações, já que somos os garantidores de todas as transações. Nós não fizemos isso pelo nível de preço do contrato, mas pelos riscos. A margem é um percentual do valor do contrato, então vai aumentar à medida que os preços subirem. Mas, se acharmos que o risco dos movimentos de preços é muito maior, poderemos aumentar o percentual também.

Valor: Além do ouro, houve mais procura por Treasuries apesar de os Estados Unidos estarem no centro das preocupações desta vez. Isso pode mudar? Ativos de mercados emergentes podem se beneficiar ainda mais desse novo cenário?

Donohue: Apesar do rendimento baixo, as pessoas ainda estão se dirigindo para os Treasuries pela segurança e solidez associada ao chamado "fly to quality". Eu não acho que isso tenha mudado fundamentalmente. Se a pergunta for sobre a chance de as pessoas migrarem para os mercados emergentes, minha resposta é que nós já vimos muito disso. Investidores americanos e europeus estão, em geral, bastante diversificados. Eles já têm uma grande exposição a mercados emergentes, então não vejo isso mudando muito. Eles já estão em países como Brasil e China.

Valor: Recentemente, o governo brasileiro apertou a regulação sobre o mercado de derivativos, com a cobrança de IOF sobre a variação das posições vendidas em dólar. Como o senhor avalia a decisão?

Donohue: Obviamente, eles estão tentando gerenciar uma situação mais ampla, com a apreciação do câmbio, tentando limitar a especulação que tem impacto sobre o real. Nós sempre nos preocupamos com taxas que podem, potencialmente, ter impacto sobre o funcionamento do mercado ou sobre a participação nesses mercados porque há consequências disso. Por exemplo, em um mercado em que você tem muita participação estrangeira, o peso de impostos limita o acesso e a consequência é menos liquidez, spreads mais largos e, se você estiver falando de mercados de ações, aumento do custo do capital ou, se estivar falando em derivativos, aumento do custo para se proteger [hedge]. Não sou especialista na situação tributária do Brasil, nós respeitamos as preocupações do governo, mas queremos que eles estejam conscientes do impacto que isso pode causar no custo do capital e no custo da proteção.

Valor: Em épocas de crise, o debate sobre a regulação dos derivativos cresce. Qual seria a regulação ideal, em sua opinião?

Donohue: Temos que separar o mercado de bolsa e o de balcão. Nos mercados de derivativos em bolsa globalmente, e certamente nos Estados Unidos, nós temos um regime regulatório rigoroso e amplo. É por isso que as operações em mercados como o CME Group e a BM&FBovespa funcionam tão bem. Realmente não há, em nossa visão, necessidade de enfrentar o arcabouço regulatório nos mercados de futuros e de opções. O grau de transparência e de colaterais é muito diferente no mercado de balcão, mas eu acho que tem havido bom progresso para enfrentar essas fraquezas estruturais, por meio de legislações como a Dodd-Frank. Estamos caminhando rapidamente para um ambiente em que os swaps (de taxas de juros e os Credit Default Swaps) terão liquidação centralizada. Separadamente, as instituições bancárias estão sendo reguladas diferentemente em termos de exigência de capital, níveis de alavancagem, operações com derivativos. Há uma grande mudança ocorrendo.

 

 

 

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