24/08/2007

Turbulência: entenda por que você pode perder também em aplicações de renda fixa

Quem investe na renda fixa, ao contrário de quem aplica na renda variável, não perde dinheiro quando grandes flutuações de mercado, como as registradas recentemente, acontecem. Esta afirmação - que é repetida constantemente por muita gente - não poderia estar mais longe da verdade.

Dependendo de como a aplicação em renda fixa é realizada, levando em consideração principalmente o tipo de título adquirido, o prazo do investimento e a necessidade ou não de sacar o dinheiro antes do vencimento do título, podem ocorrer perdas significativas também para quem investe em renda fixa. Os dados do Tesouro Direto mostram isso de forma clara.

Perdas podem ser significativas

Quem comprou, por exemplo, uma NTN-B (título público indexado ao IPCA) com vencimento em agosto de 2024 acumula uma perda de cerca de 17,20% nos últimos 30 dias, considerando dados de 22 de agosto. Isso ocorre, em primeiro lugar, porque este é um título de prazo bastante longo, o que acaba exacerbando qualquer alteração nas taxas de juros.

O principal motivo, porém, é que a taxa de juro que este título paga (ou seja, o quanto acima da variação do IPCA ele dá como remuneração) é definida quando da emissão do título. Em momentos de stress de mercado como o verificado recentemente, uma das primeiras reações do mercado é pressionar as taxas de juros para cima. Como juros e preços andam sempre em sentido inverso, uma forte flutuação na taxa acaba refletindo no preço do título e, conseqüentemente, na sua rentabilidade.

Conheça como funciona a relação entre juro e preço

Para entender melhor esta relação, vamos usar um exemplo mais simples, tomando como referência títulos pré-fixados, como as LTN (Letras do Tesouro Nacional). Vamos imaginar um título de um ano que não paga juros durante este período, com a rentabilidade sendo dada pela diferença entre o preço de compra e de venda do papel.

Por exemplo, se você compra o título com um preço de R$ 0,9091 e, no momento do vencimento recebe R$ 1,00 por ele, você obteve uma rentabilidade de 10% no período. Caso fosse um papel de dois anos, o preço seria R$ 0,8333, considerando novamente rentabilidade de 10% e vencimento a R$ 1,00.

Alteração nos juros afeta o preço

Embora esta taxa de 10% seja pré-fixada para quem mantiver o título até o vencimento, este não é o caso para quem vender antes disso. Vamos imaginar um cenário em que você comprou um título de dois anos e a situação melhorou após um ano. Isso levou a taxa para um novo título de 8% ao ano, por exemplo. Como o seu título também tem um ano para vencer, caso você decida vender, acabará se beneficiando deste melhor cenário.

O preço de um título de 1 ano, com vencimento a R$ 1,00 e taxa de 8%, será R$ 0,9259. Portanto, se você vender seu título, a sua rentabilidade será de 11,12% (R$ 0,9259 dividido por R$ 0,8333) e não mais 10%, como esperado caso você mantivesse o papel por dois anos.

O inverso, porém, pode ocorrer. Caso a taxa tenha subido para 12% após um ano, o preço do título cai para R$ 0,8929 e, no evento de você necessitar vender após um ano, a rentabilidade cai para 7,15%. Ou seja, um aumento nas taxas de juros pode reduzir sua rentabilidade, pois implica em uma queda de preço do título.

Impacto maior em títulos de prazo mais longo

De forma geral, quanto mais longo for o prazo do título (sempre lembrando que estamos falando de papéis pré-fixados), maior será o impacto de uma alteração nas taxas de juros sobre a rentabilidade.Vamos supor agora que você tenha comprado um título com prazo de 10 anos e juro de 10%. O preço que você pagaria pelo título seria de R$ 0,3769.

Imagine agora que você precise vender o título após um ano, porém em um cenário no qual os juros subiram para 12% ao ano. Mesmo tendo ficado um ano com o papel, o preço que você obteria seria de R$ 0,3503 (que corresponde a um título de 9 anos com juros de 12%), ou seja, uma rentabilidade negativa para você, já que esta cotação se encontra 7,06% abaixo do preço pago pelo título.

Este exemplo evidencia como uma relativamente pequena alteração nas taxas de juros pode gerar um impacto significativo sobre o preço de título de renda fixa, dependendo do tipo de papel (pré-fixado, no caso) e prazo (quanto mais longo, maior o impacto). Ou seja, quem compra títulos mais curtos corre menos risco de perder, mas também limita os ganhos, enquanto quem investe em papéis longos pode ter perdas (quando os juros sobem) ou ganhos (quando os juros caem) maiores.

Cuidado aos comprar, olho também nos fundos

Ao comprar títulos públicos, portanto, você deve estar ciente dos riscos que corre. Para os mais conservadores, títulos como a LFT que é pós-fixada e corrigida para a Selic são recomendados, já que a possibilidade de perdas é muito menor do que em papéis pré-fixados.

Caso você decida por papéis com juros pré-fixados, analise também o prazo, pois, como vimos anteriormente, ele pode ter um impacto significativo sobre a rentabilidade de sua aplicação no caso de você necessitar resgatar.

Por fim, da mesma forma que isso afeta compras diretas de títulos de renda fixa, o mesmo se aplica a fundos de investimento.

Na hora de aplicar em um fundo que invista em renda fixa, analise a carteira de títulos e cheque quais são os mecanismos de proteção. Isso reduz o risco de surpresas desagradáveis, como as registradas nos últimos dias para muitos investidores, que ficaram surpresos em ver rentabilidade negativa em suas aplicações de renda fixa.

Fonte: UOL Economia

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