10/08/2007

Análise: Xerifes já avisaram que ninguém irá quebrar

O que mais tem escondido? Para evitar que a incerteza sobre o tamanho real da crise desencadeie um "credit crunch" de proporções incontroláveis, os xerifes já avisaram que ninguém irá quebrar.

Só ontem, colocaram em cima da mesa um socorro de US$ 156,15 bilhões, recursos similares ao volume recolhido às reservas brasileiras, de US$ 157,61 bilhões, pela posição do dia 8.

Bastou a crise bater em instituição grande e poderosa, o BNP Paribas, para o Banco Central Europeu (BCE) mostrar o seu arsenal: despejou o equivalente a US$ 130,6 bilhões no "money market" da zona do euro.

O xerife americano foi mais discreto. Para impedir que as operações overnight, pressionadas pela desconfiança geral entre instituições até então amigas, distorcessem a taxa-meta de 5,25%, o Federal Reserve (Fed) injetou US$ 24 bilhões. O Banco do Canadá colocou no sistema US$ 1,55 bilhão.

Antes da intervenção do Fed o financiamento de curto prazo estava sendo feito por taxa-over de 5,5%. De manhã, pôs US$ 12 bilhões no over e, à tarde, mais US$ 12 bilhões no redesconto de 14 dias. Foi o maior volume aplicado pelo Fed no mercado de operações repo (de recompra) desde abril.

Normalmente, as instituições demandam dinheiro do Fed nas zeragens de quinta-feira. O giro do dia sempre é o maior da semana, algo entre US$ 10 bilhões e US$ 18 bilhões. Os US$ 24 bilhões mostram uma quinta atípica.

Mas ninguém tem dúvida de que Ben Bernanke [presidente do banco central dos EUA] estará disposto a cacifar qualquer crise que surja no mercado para preservar a visão tranquilizadora que cultiva sobre atividade econômica.

Os analistas acreditam que o Fed atuará no limite entre a correção do excesso de risco das carteiras e a instalação de uma grave retração de crédito. Quer a depuração do mercado, a desalavancagem dos negócios, a segregação da crise ao segmento hipotecário subprime, sem expor a economia real ao contágio.

O Fed não quer que a crise de crédito anule a sua sinalização de que manterá o juro básico americano em 5,25% até o ano que vem. Mas ontem o mercado futuro de títulos federais rasgou o comunicado expedido na terça-feira pelo Fomc [sigla em inglês para Comitê Federal de Mercado Aberto, órgão do banco central norte-americano] e embutiu nos contratos expectativa de duas baixas consecutivas de 0,25 ponto, nas reuniões de setembro e outubro.

Com a injeção de US$ 154,6 bilhões, o BCE e o Fed querem evitar que apareça o que ainda está escondido. Quem está com problemas de caixa e não encontra financiador, poderá, com o dinheiro oficial, respirar alguns dias, vender ativos mundo afora e recuperar-se, sem chegar a deslanchar um efeito dominó.

A piora dos mercados brasileiros tem a ver com esse movimento de venda de ativos líquidos e ainda rentáveis do que com a percepção de que o Brasil será atingido. O Banco Central brasileiro deu mostras ontem de que o país está fora do circuito.

Ao contrário dos seus congêneres europeu e americano, o BC não injetou liquidez no mercado, ao contrário, retirou, ampliando as reservas internacionais.

Com o dólar já subindo no interbancário doméstico 1,80%, ele não se negou a fazer o seu tradicional leilão de compra das 15h30. Aceitou cinco propostas, pagou R$ 1,9258 por dólar, e recolheu do sistema US$ 115 milhões. E o dólar fechou em alta de 2,06%, cotado a R$ 1,9260.

O forte giro registrado no interbancário, de US$ 3,7 bilhões, revela que houve muita saída de investidores estrangeiros que desmontaram posições especulativas nos mercados de derivativos da BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros).

Como os exportadores se retraíram, no aguardo de altas maiores do dólar, a baixa registrada pela moeda no mercado à vista derivou da desvalorização ocorrida no pregão futuro.

A intervenção de compra de dólares feita pelo BC num momento de alta expressiva da moeda demonstra que não está preocupado com eventuais efeitos inflacionários da depreciação cambial.

A ajuda que as importações, favorecidas pelo dólar barato, vem dando à contenção do aquecimento interno do consumo, foi o fator que justificou, segundo as duas últimas atas do Copom, dois cortes sucessivos de 0,50 ponto da Selic.

Um contrato bem negociado no mercado de juros futuros da BM&F que reage à política monetário de curto prazo do Copom - o referente à virada do ano - subiu muito pouco ontem. Ele avançou 0,05 ponto, para 11,11%. Já os contratos que refletem o desmanche das operações especulativas que vieram atrás da rentabilidade real paga pela Selic apresentaram altas acentuadas. Foram os casos dos contratos para janeiro de 2009, que subiu 0,13 ponto, a 11,12%, e para janeiro de 2010, com alta de 0,20 ponto, a 11,33%.

Fonte: UOL Economia

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