14/08/2007

Análise: Ajuda oficial menor sinaliza distensão

A tensão diminuiu ontem nos mercados globais depois que se constatou que o volume de empréstimos de curto prazo feitos pelos bancos centrais vem se reduzindo, indício de que as próprias instituições estão conseguindo, aos poucos e sem quebrar, liquidar as posições mais problemáticas.

A redução do socorro emergencial vale para os BCs mais importantes. A ajuda do Banco Central Europeu (BCE) caiu de 94,8 bilhões de euros na quinta-feira para 61,05 bilhões de euros na sexta-feira e para 47,67 bilhões de euros ontem. No caso do Federal Reserve (Fed), o momento mais crítico aconteceu na sexta-feira, quando financiou posições no "open-market" no valor de US$ 38 bilhões, contra US$ 24 bilhões na véspera. Ontem, a ajuda não passou de US$ 2 bilhões. Os empréstimos do Banco do Japão recuaram de US$ 8,5 bilhões na sexta-feira para US$ 5,1 bilhões ontem.

Trata-se de um sinal positivo para o restante do mercado quando um banco que contraiu empréstimo elevado junto ao BCE na quinta-feira, por exemplo, consegue liquidá-lo depois de um esforço de saneamento de sua carteira, esforço que implica a realização de prejuízos e aportes de capital próprio.

É claro que se o BCE injetou 94,8 bilhões de euros na sexta-feira e 47,7 bilhões de euros ontem é porque podem existir 47 bilhões de euros que estão sendo rolados por falta de solução mais adequada. Não é pouca coisa. Não se pode afastar o risco de quebras. Por isso, a recuperação experimentada ontem pelos mercados deve ser entendida como uma trégua. Mas ainda bem que houve esse armistício, pois ele permite às instituições em dificuldade vender ativos a preços melhores.

O Goldman Sachs forneceu ontem um exemplo do que deve estar acontecendo com várias instituições. Ele decidiu injetar, com a ajuda de investidores, US$ 3 bilhões em um hedge fund - o terceiro administrado por ele a ser afetado pelas turbulências -, que perdeu 30% na semana passada por problemas de risco e alavancagem. Trata-se do Global Equity Opportunities, que detinha ativos líquidos de US$ 3,6 bilhões antes do novo aporte de capital.

O Goldman pôs no fundo US$ 2 bilhões e o outro US$ 1 bilhão foi integralizado pelos investidores C.V. Starr, Perry Capital e Eli Broad. O Goldman se expôs publicamente para sair da lista de rumores envolvendo supostas instituições em apuros.

Como o amparo oficial é expressivo, há uma certa percepção de que as instituições que não entraram na primeira leva de ajuda, não entrarão numa segunda a menos que ocorra um tropeço a despeito dos empréstimos do BCE e do Fed. Nova ajuda seria, nesse caso, necessária, e desta vez num montante superior ao da véspera. Nesta hipótese, a crise financeira se agravará, pois o crédito ficará ainda mais apertado.

Os mercados persistem, por esta razão, operando no escuro, sem saber se o pior já passou. A insegurança impõe volatilidade. A Bovespa chegou a subir ontem 1,96%, mas fechou em queda de 0,39%, a 52.434 pontos. Os analistas temem muito o rompimento dos 52 mil pontos.

O mercado de câmbio mantém o sangue frio. Como as operações mais especulativas diminuíram muito depois que o Banco Central baixou no dia 8 de junho medidas de restrição à exposição cambial - providencialmente, pois sem elas o movimento de saída do capital externo decorrente da crise externa poderia potencializar a alta da moeda -, o dólar se movimenta agora mais em função de fluxo do comércio exterior. E nos dias de pausa na tormenta os exportadores desistem de esperar por preços mais convidativos e voltam a fechar contratos. A oferta fez o dólar fechar em baixa de 0,35%, cotado a R$ 1,9440. O BC realizou seu leilão de compra das 15h30 e recolheu do sistema US$ 350 milhões.

O mercado monetário acompanhou a recuperação registrada no mercado de câmbio. E os contratos futuros de juros caíram no mercado futuro da BM&F porque, sem repique cambial, não há porque o Copom suspender o desaperto da Selic. O CDI previsto para a virada do ano cedeu 0,03 ponto, para 11,14%, enquanto o mais negociado, para janeiro de 2010, recuou 0,04 ponto, para 11,37%.

O boletim Focus divulgado ontem ajudou na propagação de um clima ameno no DI futuro. As cem instituições pesquisadas pelo BC não vêem a possibilidade de o Brasil ser contaminado pela turbulência internacional. Tanto que a previsão de taxa de câmbio para o final do ano recuou de R$ 1,87 para R$ 1,85. Se é assim, não há riscos inflacionários. Os IPCAs estimados para 2007 e 2008 permaneceram estáveis em 3,75% e 4%, respectivamente. E a inflação acumulada para os próximos 12 meses caiu de 3,66% para 3,62%.

Fonte: UOL Economia

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