O mercado reagiu aqui e lá fora nos últimos dias. A tranquilidade foi restaurada, mas não alegrou ninguém porque há uma suspeita no ar.
A turbulência externa pode ser revigorada em data certa e voltar a assombrar bancos centrais, instituições financeiras e investidores.
Entre 11 de setembro e 9 de outubro serão divulgados balanços de cinco conglomerados internacionais que toparam de frente com a crise instaurada, há um mês, no mercado imobiliário nos Estados Unidos.
Nesse período, Goldman Sachs, Bear Stearns, Morgan Stanley, Lehman Brothers e Citibank apresentam resultados contábeis que devem confirmar perdas impostas pelo crédito hipotecário.
Autoridades monetárias brasileiras e gestores de grandes fundos de investimentos miram o calendário e esperam tempo quente, embora prevaleça o consenso de que o Brasil vem resistindo bem ao aumento da volatilidade dos ativos financeiros.
Ainda assim, a tensão cresce porque o mercado doméstico identifica mudança de tendência de indicadores relevantes: a inflação sobe e a liquidez, que ainda é ampla, diminui.
As pressões "transitórias" que estão puxando os índices de inflação estão durando demais.
O salto do IPCA-15 de julho para agosto, como mostrado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na quinta-feira, confirmou que a inflação brasileira, que estava abaixo do peso, resiste à dieta e avança para o centro da meta de 4,5%.
INFLAÇÃO NO GATILHO
A sondagem semanal de indicadores feita pelo Banco Central com cem instituições financeiras, divulgada no relatório Focus, deve corrigir projeções de inflação, inclusive corrente, já nesta segunda-feira.
E o mercado financeiro, mesmo aguardando as revisões, poderá elevar as taxas de juros no mercado futuro, até porque aumentam as dúvidas sobre a inflação local e internacional em 2008 e 2009.
Sozinha, a turbulência externa, que respingou no Brasil mas sem fazer estrago, alçou a curva de juros em um ponto percentual nas últimas semanas.
O mercado encerrou a semana passada convencido de que o prognóstico de avanço de 0,25% para o IPCA de agosto, mantido no Focus da segunda-feira passada, foi derrubado pelo índice antecedente --o IPCA-15 que subiu 0,42%.
Uma primeira atualização de expectativa foi feita pelo Comitê de Acompanhamento Macroeconômico da Andima que elevou de 0,27 para 0,47% a variação do IPCA de agosto.
A confirmação da estimativa da Andima provocará um ajuste expressivo na inflação oficial acumulada em 12 meses, que passará de 3,74% no cálculo até julho para 4,18% --variação mais elevada desde maio de 2006.
OFERTA DE MOEDA DIMINUI
A sobra de reais nas reservas bancárias, frente ao estoque de títulos federais a ser financiado pelas instituições, ainda é gigantesca, mas está cedendo.
Em julho, as aplicações feitas pelos bancos diretamente em títulos federais da carteira do BC atingiram inéditos R$ 200 bilhões.
A sexta-feira foi encerrada com essas aplicações rondando R$ 180 bilhões, e na manhã de segunda-feira, terão caído a cerca de R$ 152 bilhões.
Essa redução acontece porque o BC devolverá aos bancos R$ 28 bilhões ao recomprar títulos vendidos temporariamente ao mercado.
A queda na oferta de moeda indica que duas fontes de expansão de reais --resgate de títulos públicos e compra de dólares pelo BC no mercado interno-- estão encolhendo.
Neste mês, o Tesouro resgatou R$ 3,7 bilhões em títulos e vendeu R$ 9,5 bilhões até quinta-feira.
DÓLAR SOBE E BC VIRA "VILÃO"
Também neste mês, a compra de divisa pelo BC caiu ao menor nível do ano, inclusive, porque a autoridade monetária está fora dos negócios há nove dias consecutivos --período em que os investidores internacionais se retraíram em função da crise externa.
Em agosto, até o dia 17 --mostram os dados de emissão monetária-- o BC comprou cerca de US$ 2,9 bilhões ou, em média, US$ 229 milhões ao dia. Até então, a menor média diária, de US$ 230 milhões, havia sido registada em janeiro.
A valorização do dólar --em alta que chegou a superar 8% no mês há poucos dias-- ativou outro mecanismo que reduz a liquidez: os ajustes dos contratos de swap cambial reverso.
Esses contratos, lançados pelo BC na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), tem o efeito de compra de dólar futuro.
Os preços sofrem ajustes diários. Quando a variação do dólar supera a taxa de juro, o mercado transfere dinheiro para o BC. Quando o juro supera a correção cambial, o mercado recebe dinheiro do BC.
De janeiro a julho, o juro superou a correção cambial e o BC injetou R$ 5,9 bilhões no mercado. Em 13 dias de negócios em agosto, o mercado entregou R$ 4,2 bilhões ao BC. E a saída de reais do mercado para o BC deve continuar pelo menos até o fim do mês.
Esta perspectiva só será alterada caso o dólar desabe frente ao real. Entretanto, desde o início do mês, até a sexta-feira, o dólar subiu em torno de 5%, enquanto o juro do mês inteiro ronda os 0,99%.
Fonte: UOL Economia
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