13/08/2007

Economista aconselha "ter paciência" e não vender ações na baixa

Mercado em turbulência. A Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) segue o nervosismo que atinge as Bolsas de todo o mundo, por causa da crise imobiliária nos Estados Unidos e caiu 1,48% nesta sexta-feira, aos 52.638 pontos. Durante o dia, a queda foi bem maior e beirou os 3%, com atenuação do resultado no fim do dia.

O volume financeiro de R$ 5,25 bilhões ficou bem acima da média diária dos últimos meses (R$ 3,5 bi), o que revela a inquietação dos investidores. O dólar comercial atingiu o maior patamar desde junho, vendido a R$ 1,952. A alta no dia foi de 1,3%. Em uma semana, subiu 2,63%.

Apesar desse nervosismo, o momento não é de venda de ações, conforme explicou Hugo Penteado, economista-chefe do ABN AMRO Asset Management. "O conselho é não vender na baixa", disse. "A visão básica é de que a economia mundial vai passar ao largo dessa crise."

Para o investidor, o problema é manter a cabeça no lugar e resistir à tentação de vender as ações que estão desvalorizando. "É difícil aceitar, mas a melhor recomendação é não fazer nada", afirmou Alex Agostini, economista da agência de avaliação de risco Austin Rating. "Quem vender seus ativos vai amargar prejuízo, correndo o risco de a turbulência durar poucos dias e o otimismo voltar rapidamente A previsão é de que a Bovespa atinja 60 mil pontos até o fim do ano."

Os dois economistas destacam o fato de a crise estar localizada em um segmento específico da economia, a do crédito imobiliário. Isso, teoricamente, manteria a turbulência contida e evitaria um contágio maior da economia. "O que acontece é um ajuste no mercado financeiro de hipotecas norte-americano. A estrutura macroeconômica mundial, porém, ainda não foi afetada", disse Agostini.

Por outro lado, afirmaram, não é possível prever quando a turbulência vai cessar. "Realmente, está difícil antecipar o fim da crise. É preciso ter paciência e acompanhar as evoluções", disse Penteado, do ABN AMRO. "Mais notícias negativas podem aparecer no cenário. A razão da crise é a inadimplência e isso deve continuar acontecendo nos EUA, já que os fatores que causaram esse endividamento não foram solucionados."

"Não sabemos o quanto os fundos de investimento foram afetados por isso. O que sabemos é que vamos ter momentos de ajuste um pouco mais fortes. Creio que teremos pelo menos mais uma semana de crise", disse Agostini.

Origens da crise

De acordo com Alex Agostini, os fatores necessários aos problemas no mercado de hipotecas norte-americano começaram a surgir no biênio 2000-2001. "Em 2000, houve o estouro da bolha das empresas de internet. A partir daquele momento a economia americana passou por uma reestruturação e no ano seguinte tivemos os atentados terroristas de 11 de setembro. Esses dois eventos mexeram bastante com a expectativa futura do consumidor americano", explicou.

"Para resgatar a confiança do consumidor, os juros nos EUA foram reduzidos para 1% ao ano, o menor nível nos últimos 40 anos. Nesse momento, algumas pessoas aproveitaram desse cenário para hipotecar suas casas", disse. E, com o dinheiro da venda dos imóveis, elas investiram nas bolsas.

Houve um primeiro momento em que as casas foram valorizadas. Depois de um tempo, porém, o preço das casas começou a cair, enquanto os juros subiram para 5,25% ao ano, o que aconteceu em junho de 2006. "As pessoas tiveram prejuízo, porque o preço de suas casas caiu e os juros aumentaram - destacando que os juros das prestações nos EUA são flutuantes e influenciam o valor das prestações. Com isso, o valor da hipoteca que elas tinham que pagar todo mês aumentou por causa dos juros."

As empresas que financiam as hipotecas ficaram em dificuldades porque aumentou a inadimplência. Naturalmente, os investidores globais começaram a sair de mercados de risco e foram para investimentos mais seguros.

Fonte: UOL Economia

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