13/08/2007

Bovespa sofre menos com turbulências externas

Em épocas de turbulência mundial, há quem lembre de um velho lugar-comum: o de que um resfriado nos países desenvolvidos acarreta uma pneumonia na economia brasileira. O que se vê nos últimos 12 meses, porém, é que a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) está cada vez mais resistente a essas contaminações. Em maio de 2006, quando o Federal Reserve – o banco central americano – elevou a taxa básica de juros do país para 5%, temendo pressões inflacionárias, o mercado brasileiro sofreu uma avalanche. Enquanto o índice NYS Composites, da Bolsa de Nova York, perdeu 10,72% em pouco mais de um mês, a Bovespa recuou 21,32% - o dobro. Nos últimos 30 dias, quando surgiram dúvidas sobre o mercado de crédito imobiliário dos Estados Unidos, as perdas do pregão paulista ficaram bem mais próximas das de Nova York .
Maio de 2006 – crise dos juros americanos
Índice Pré-crise Pior momento Queda acumulada
Bovespa 41.751,50 (09/mai) 32.847.61 (13/jun) 21,32%
NYS Composites 8.646,96 (09/mai) 7.719,78 (13/jun) 10,72%
Variação Bovespa/NYS = 1,99 vezes
Fevereiro de 2007 – crise das bolsas chinesas
Índice Pré-crise Pior momento Queda acumulada
Bovespa 46.207,40 (26/fev) 41.179,16 (05/03) 10,8%
NYS Composites 9.421,44 (26/fev) 8.837,97 (05/03) 6,19%
Variação Bovespa/NYS = 1,74 vezes
Julho de 2007 – subprime americano
Índice Pré-crise Pior momento Queda acumulada
Bovespa 58.036,77 (23/jul) 52.846 (03/08) 8,94%
NYS Composites 10.121,58 (23/jul) 9.370,6 (03/08) 7,42%
Variação Bovespa/NYS = 1,20 vezes

Cada vez mais atraente aos olhos dos investidores estrangeiros, e participando de uma economia globalizada, é impossível que a Bovespa não sinta os sobressaltos dos demais mercados. Mas os números mostram uma evolução nas três últimas crises. Entre maio e junho do ano passado, o pregão paulista acumulou o dobro de perdas da bolsa de Nova York. No início deste ano, quando a queda das bolsas chinesas sacudiram os mercados, o Ibovespa recuou 1,74 vezes mais que o NYS Composites – índice da Bolsa de Nova York composto pelas ações ordinárias e ADRs de 2.000 empresas americanas e estrangeiras. Já entre julho e o início de agosto, sob pressão da crise imobiliária americana, a perda acumulada pela bolsa brasileira foi 1,20 vezes maior.

"A Bovespa ainda tem uma volatilidade desproporcional, mas está cada vez mais alinhada com os mercados americanos", afirma Daniel Gorayeb, analista de investimentos da corretora Spinelli. "A resiliência [propriedade dos materiais de voltarem à forma original, depois de deformados] da bolsa está maior", concorda Ricardo Torres, professor de Finanças Internacionais da Brazilian Business School (BBS).

Ambiente favorável

Os bons números da economia são os primeiros a serem lembrados pelos analistas para justificar a maior estabilidade da bolsa. Em 10 de maio do ano passado, as reservas internacionais do Brasil eram de 60 bilhões de dólares. Nesse dia, os juros básicos dos Estados Unidos subiram 0,25 ponto, para 5%, e deflagaram uma crise que, pouco mais de um mês depois, havia derrubado a Bovespa de mais de 41.000 pontos para menos de 33.000 pontos. Quando a crise chinesa nos atingiu, no final de fevereiro deste ano, as reservas já somavam 100 bilhões de dólares. E, no início de agosto, já se aproximavam dos 160 bilhões. "A dívida externa em queda e as reservas em alta dão mais tranqüilidade", afirma Alexandre Vianna, gestor de renda variável da Sul América Investimentos.

Esses dados estão entre os que levaram as principais agências de classificação de risco do mundo a elevar a nota do Brasil – mais uma demonstração de que a imagem do país melhorou e, com ela, a dos investimentos a ele atrelados. Em maio, a Standard & Poor’s e a Fitch colocaram o Brasil a um ponto do cobiçado grau de investimento. E a Moody’s anunciou, na semana passada, que pode fazer o mesmo ainda em agosto – era a última do triunvirato que ainda não se pronunciara.

Longo prazo

Outro ponto que explica o comportamento mais estável da Bovespa são as boas expectativas para o futuro. Os analistas são unânimes em dizer que os ajustes na economia brasileira estão apenas no início, e que o ciclo de desenvolvimento, antes guiado pelas exportações de commodities agrícolas e minerais, está cada mais calcado na expansão do mercado interno e do crédito. O processo tende a impulsionar investimentos e lucros das empresas, refletindo na valorização dos seus papéis na bolsa – e em maior rentabilidade para os investidores.

Somente no primeiro semestre, a Bovespa acumulou uma alta de 22,3%, deixando bem para trás os fundos DI (6,16%) e de renda fixa (6,06%). A volatilidade das últimas semanas já levou algumas corretoras a revisarem a projeção de ganho da Bovespa neste ano. A menor estimativa é a da Planner – 52.800 pontos. Ainda assim, isso significaria uma alta acumulada no ano de 18,72%. A Spinelli, mais otimista, mantém a expectativa de 65.000 pontos – ou um ganho de 46%. "Ainda vai haver turbulências, mas dificilmente a Bovespa cairá abaixo de 50.000 pontos", diz Gorayeb, da Spinelli.

Isto já basta para mostrar porque os investidores estão mais fiéis à bolsa, apesar de todas as turbulências. "Quando houve a crise chinesa, muitos clientes ligaram para encerrar suas posições. Agora, não vimos isso", afirma Clodoir Gabriel, analista da Souza Barros. A própria resistência dos aplicadores ajuda a amortecer os choques que vêm de fora. "O aumento e a diversificação dos investidores ajudam a estabilizar os preços", diz Torres, da BBS.

Fonte: Portal Exame

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