08/08/2007

Análise: Credibilidade do Fed acalma mercados

O comportamento exibido pelos mercados financeiros dos EUA depois da decisão do Federal Reserve (Fed) de manter o juro básico em 5,25% e não mudar a sinalização de estabilidade da taxa mostrou que a gestão Ben Bernanke, após os primeiros meses de hesitação, já desfruta da plena confiança dos investidores.

Os mercados, sobretudo os fundos globais de investimento, ansiavam por um sinal de início no mês que vem de um ciclo de queda do juro capaz de neutralizar a crise do setor de crédito hipotecário que, além de provocar uma retração na oferta geral de recursos para operações alavancadas com dívidas corporativas, poderia brecar ainda mais a expansão da economia.

O Fed, às 15h15 de Brasília, negou-se a dar esse sinal. Os mercados sofreram súbito estresse, mas em seguida se acalmaram para fechar positivos. A frustração foi logo superada porque os investidores confiam no seu Fed: se ele não está vendo nada que possa desencadear um credit crunch ou precipitar a economia em uma recessão é porque de fato não existem tais perigos.

A expectativa pelo evento da semana - a reunião do Fed - foi marcada mais pela redução do volume de negócios do que propriamente pela volatilidade. Esta mostrou-se presente, mas os mercados pioraram menos do que poderiam quando pintou nas telas a informação de que um fundo administrado por um grande banco - o WestLB Mellon - havia decidido congelar resgates.

A perspectiva de que a atuação do Fed resolveria este e outros problemas não deixou o mercado afundar. A nota do Fed desapontou, mesmo assim os investidores não estão convencidos de que há elementos suficientes para apostar contra o otimismo do Fed e sair vendendo ativos de risco. O Fed sustentou ontem, afrontando a maioria do mercado, a sua opinião anterior de que a economia americana está crescendo moderadamente.

O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc), após manter a taxa em 5,25% pela nona reunião em seqüência, garantiu que "embora os riscos da desaceleração do crescimento tenham aumentado em certa medida, a preocupação predominante do Comitê permanece no risco de a inflação não se reduzir como esperado".

O Fomc reconheceu que as "condições de crédito ficaram mais apertadas" mas apenas para "algumas" famílias e empresas, descartando com isso a visão de uma crise mais ampla. E que o ajuste no setor imobiliário continua a se desenrolar, sem mencionar o "subprime". Ou seja, nada além do óbvio, nenhuma sanção à paranóia dos mercados.

O Fed mostrou-se sem dúvida menos otimista quanto ao crescimento econômico nos próximos meses, mas ninguém pode ler no comunicado a intenção de reduzir os juros nos encontros de setembro e outubro.

Para a LCA Consultores, a taxa será mantida nos atuais 5,25% pelo menos até o primeiro trimestre de 2008. "O comunicado parece sugerir algum espaço para que o banco central norte-americano flexibilize a sua política monetária na hipótese de ocorrer uma desaceleração mais aguda da atividade econômica - cenário, que denominamos adverso, ao qual continuamos a atribuir probabilidade de 25%", diz a consultoria.

Em sintonia com o cenário nada catastrófico traçado pelo Fomc, as bolsas fecharam positivas. O Dow Jones evoluiu 0,26% e a Bovespa avançou 1,34%. O dólar, após oscilações fortes - chegou a cair 0,79% e a subir 0,47% - fechou estável em R$ 1,9070.

A instabilidade não desencorajou o BC. Fez normalmente o seu leilão de compra das 15h30, adquiriu cerca de US$ 600 milhões, pagando R$ 1,9130 por dólar. Os juros futuros negociados no mercado futuro da BM&F sustentaram a trajetória de queda depois da reunião do Fed. O CDI previsto para a virada do ano caiu 0,01 ponto, a 11,11%. A taxa para janeiro de 2009 recuou 0,07 ponto, a 11,07%. E o contrato mais negociado, para janeiro de 2010, cedeu 0,10 ponto, para 11,24%.

Fonte: UOL Economia

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