16/08/2011

Economistas para o BC: PIB fraco e inflação forte

Eduardo Campos

16/08/2011

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Baixo crescimento com inflação. Esse seria o cenário básico da maioria dos economistas que atendeu à reunião trimestral com o Banco Central (BC) para a montagem do Relatório de Inflação.

Segundo alguns dos participantes, o tom foi de preocupação com a atividade doméstica em função da piora do cenário externo, que mostra a economia americana com risco maior de recessão e uma Europa que entra em uma rodada de ajustes fiscais sem precedentes para tentar lidar com uma crise de endividamento soberano.

De acordo com um dos participantes, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve crescer em torno de 3,5% neste ano e no próximo.

"Números ruins do PIB americano determinaram a mudança de visão", disse.

Menor crescimento não levaria IPCA para 4,5% em 2012

Para outro economista, o fraco desempenho da produção industrial, que tem peso relevante na composição do PIB, também responde pela formação dessa expectativa de menor crescimento.

No entanto, o PIB menor não resultará automaticamente em Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no centro da meta de 4,5% ao ano.

"Apesar de a maioria dos economistas ter revisado para baixo a sua previsão para a inflação em 2012, as projeções permanecem bem acima do centro da meta, entre 5% e 5,5%", diz um participante.

Essa resistência da inflação teria fontes diversas. Primeiro, a própria dinâmica da inflação de serviços, que mostra maior resistência à queda em função do binômio emprego e renda.

Segundo, o preço das commodities, que traria benefício limitado sobre a inflação doméstica. De fato, não se sabe qual a resultante dos vetores que influem sobre o preço das matérias-primas.

O menor crescimento global é sinal de menor demanda e consequentemente menor preço. Mas a expectativa de uma nova rodada de injeção de liquidez, o famigerado "Quantitative Easing" - que é dado como certo, segundo participante da reunião - daria sustentação ao preço das matérias-primas.

Soma-se a esse intrincado quadro o comportamento da China, que ainda sofre com inflação elevada e não se tem clara indicação sobre o ritmo de redução na sua atividade.

Nas considerações sobre a cena internacional, o ponto de maior preocupação, sempre de acordo com os presentes, seria a Europa.

É lá que está o risco latente capaz de provocar uma queda abrupta da liquidez internacional caso haja a quebra de um grande banco no continente. "Mas esse não é o cenário base", diz um participante.

Olhando o mercado com um todo, a segunda-feira foi marcada por tranquilidade e tomada de ativos de risco.

Em nada se compara com a segunda-feira, dia 8 de agosto, que entrou para história como um dos piores pregões dos mercados mundiais, ao menos por ora.

Como bem disse o gestor da Vetorial Asset, Sérgio Machado, estamos em um mercado de "não eventos".

"Criam-se os monstros e eles se esvaem. Depois criam-se os paraísos que se esvaem também. E nisso o dinheiro muda de mão com uma violência ímpar. Os tontos seguem explicando o inexplicável. E tudo continua sendo nada", resume o especialista.

Na avaliação do vice-presidente de tesouraria do Banco WestLB, Ures Folchini, o que ficou depois de todo o pânico e pessimismo da semana passada é que as taxas de juros em âmbito global ficarão baixas por um longo período de tempo e que para evitar algum tipo de colapso no sistema financeiro internacional novas injeções de liquidez serão necessárias.

E dentro desse mundo de juros baixos e dinheiro farto, é natural que se procure alternativas de juros maiores.

"É aí que aparece um tal de Brasil na tela dos investidores pagando 11,80% ao ano para 2014. O que parece uma boa oportunidade de investimento", conclui o tesoureiro.

Esse investidor em busca de bons rendimentos é que estaria por traz da queda dos prêmios de risco nos juros futuros nos contratos de prazo mais longo. Ontem, os contratos voltaram a apontar para baixo e desde sexta-feira se fala em "gringo" comprando juro.

No câmbio, o dólar caiu no mundo e por aqui não foi diferente. A exceção foi o franco suíço, que perdeu para a moeda americana em meio a novos rumores de que a divisa pode ter seu preço atrelado ao euro.

O dólar comercial teve uma das maiores quedas percentuais diárias do ano ao perder 1,24% e fechar a R$ 1,591.

Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), o dólar para setembro recuava 1,47%, para R$ 1,598, antes do ajuste final.

 

Na avaliação do economista da BGC Liquidez, Alfredo Barbutti, depois de três semanas seguidas de valorização, que resultaram em alta de 3,7% de preço, o dólar ganhou um prêmio de venda, ou seja, ficou atrativo tornar a vender moeda americana, mesmo com as restrições impostas pela nova regulamentação, que taxa em 1% o aumento da posição vendida líquida em derivativos que ultrapassar US$ 10 milhões.

"O mercado está exercendo esse prêmio. Mas conforme o real se fortalece, esse prêmio cai e o ônus da posição vendida cresce", diz o economista, lembrando que dentro dessa dinâmica haverá um momento no qual a venda não mais será atrativa e o mercado volta a ser comprador.

"O jogo está mais equilibrado", diz Barbutti, lembrando que pouco tempo atrás a posição vendida era praticamente uma garantia de ganho certo.

Eduardo Campos é repórter

E-mail eduardo.campos@valor.com.br

 

 

 

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