04/08/2011

Vale não fala português nas apresentações de balanço

Marcelo Mota e Juliana Ennes | Do Rio

04/08/2011

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Leo Pinheiro/Valor

 

Maria Helena, presidente da CVM: "Não há nada que a autarquia possa fazer"

Privatizada há menos de 15 anos, a Vale já não fala mais português quando apresenta seus resultados trimestrais. A companhia, que possui a matriz no país e é uma das mais negociadas na BM&FBovespa, compondo a maior fatia do principal índice da bolsa, mantém como rotina, quando divulga balanço, apenas uma conferência para analistas de bancos e consultorias, na qual só se fala inglês.

Entre os acionistas da Vale estão representantes do governo brasileiro, via BNDESPar, a empresa de participações do BNDES, que detém 6,7% do capital votante da companhia. Mas nem a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão que regula o mercado de capitais, tem controle sobre esse tipo de postura. "Não é exigência legal, então não há o que a CVM possa fazer em relação a isso, ou que pretenda fazer", disse ontem a presidente da autarquia, Maria Helena Santana, durante evento para apresentação da Estratégia Nacional de Educação Financeira (Enef).

Segundo Maria Helena, as práticas de divulgação de resultados dependem do público ao qual a informação se destina. Segundo a assessoria de imprensa da Vale, a conferência com analistas só acontece em inglês porque essa se tornou a língua comum dos especialistas financeiros. Coletivas de imprensa, só no resultado anual, ou quando a companhia julga relevante. Jornalistas só podem acompanhar as conferências de analistas. Aos profissionais de imprensa não é dado o direito de fazer perguntas, nem mesmo em inglês.

Segundo Haroldo Levy, coordenador do Comitê de Orientação para Divulgação de Informações ao Mercado (Codim), as boas práticas de mercado apontam na direção oposta. Logo no seu primeiro pronunciamento, emitido em outubro de 2005, o comitê abordou o assunto. Na sexta prática, descrita no documento intitulado "Teleconferências", o Codim prega que "a companhia deve sempre realizar a teleconferência para o mercado brasileiro em português".

Ao conceituar "teleconferência", o Codim define o mecanismo como um meio utilizado para "fornecer acesso e interatividade de maneira ampla e irrestrita, entre os administradores e os públicos estratégicos (acionistas, analistas, investidores, mídia, dentre outros)". No mesmo pronunciamento, o comitê defende que toda teleconferência deve permitir o "acesso e a interatividade de todos os públicos estratégicos da companhia".

O código das melhores práticas do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) prevê como um dos seus quatro princípios elementares a transparência de informações a acionistas e analistas. Segundo a superintendente Heloisa Bedicks, se entende por transparência mais do que a mera obrigação de informar. Para ela, uma comunicação com os públicos de interesse tem de ser imbuída do "desejo que as partes têm de que as informações sejam disponibilizadas de maneira clara".

"Se faz em outra língua, ela não é clara", afirmou a superintendente do IBGC. "Se estamos falando de partes interessadas brasileiras, a língua no Brasil é o português. Então, faz parte das boas práticas de governança que seja utilizada a língua comum no país."

Procurada, a Vale informou que "ao tomar posse, em maio, o diretor-presidente, Murilo Ferreira, solicitou que fosse revista a conveniência de a conferência com os analistas, na divulgação de resultados, passar a ser feita também em português". "Em função do pouco tempo até a divulgação do resultado do segundo trimestre, a conferência foi mantida em inglês. Mas o assunto será rediscutido."

Na nota, a Vale diz ainda que o presidente da companhia "tem, desde que tomou posse, mantido encontros individuais com jornalistas de diversos veículos. Esse formato poderá ser revisto em função de oportunidades ou fatos relevantes que mereçam ser divulgados de forma coletiva à imprensa".

 

 

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