10/08/2011

Fed chama especulador de volta ao jogo

Eduardo Campos

10/08/2011

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Especuladores do mundo, uni-vos! Essa é uma possível leitura do comunicado divulgado ontem pelo Federal Reserve (Fed), banco central americano, que não anunciou novo plano de estímulo, mas falou que os juros devem ficar próximos de zero até meados de 2013.

Claro que não há garantia de juros entre zero e 0,25% por dois anos, mas o Fed tirou de um horizonte previsível a "espada" de uma possível elevação de taxa de juros.

Na visão de parte do mercado, o que o BC americano falou foi o seguinte: pode vir tomar funding aqui e arbitrar taxa de juros, moedas e o que mais desejar. O custo do dinheiro não subirá tão cedo.

Real e outras moedas emergentes sobem com força

O mercado demorou um pouco para entender tal recado, já que as bolsas subiram e caíram, bem como as moedas, nos instantes seguintes à decisão. No entanto, pouco depois se formou um inegável quadro de tomada de ativos de risco, principalmente moedas emergentes e "moedas de commodities".

As bolsas dispararam e o dólar afundou. No mercado de commodities, o barril de WTI, que encerrou o pregão regular com queda de 2,5%, apontava alta de 3,7% no after-market em Nova York.

Contraditório a tudo isso, mas em linha com a visão de juro zero por um período mais longo do que o estimado, a taxa de retorno dos títulos da dívida dos EUA afundou. O juro do papel de 10 anos caiu para a linha de 2,2%, menor desde o fim de 2008.

Segundo um estrategista que pediu anonimato, o aceno do Fed abre espaço, novamente, para as famosas operações de carry trade (as arbitragens de taxa de juros).

No entanto, esse especialista acredita que a volatilidade nos preços seguirá bastante elevada, com o espaço para o mercado testar novos dias de forte pessimismo.

Por aqui, o ativo que melhor captou esse cenário foi o dólar futuro. O contrato para setembro apontava queda de 2,19%, a R$ 1,6025, antes do ajuste final. Na mínima, chegou a perder a linha de R$ 1,60, ao marcar R$ 1,5965 (-2,56%).

Vale a pena acompanhar a movimentação do contrato ao longo do dia. Depois de subir mais de 3% no fim da segunda-feira, o dólar futuro caiu 0,67% pela manhã. Por volta das 12h30, passou por um repique de alta de 1,98%, quando marcou a máxima do dia a R$ 1,671 (tinha um banco estrangeiro zerando posição).

Passado o susto, a moeda operava com leve alta, até a derrocada de preço no fim da jornada. Toda essa variação de preço foi acompanhada por forte volume de negócios, mais de 692 mil contratos transacionados.

Essa forte ampliação de venda no período da tarde foi liderada por uma instituição financeira nacional de grande porte.

Mas tal venda de moeda americana foi vista no mundo todo.

O Dollar Index, que mede o desempenho do dólar ante uma cesta de moedas, caía 0,27% antes do Fed, mas fechou o dia com queda de 1,20%, aos 73,91 pontos.

Já o euro acentuou a alta de 0,45%, para mais de 1%, retomando a linha de US$ 1,43.

Moedas emergentes também mostraram essa reversão. Destaque para peso mexicano, dólar australiano, dólar canadense e rand sul-africano. Não por acaso são essas as moedas prediletas para operações de arbitragem.

 

Ainda no câmbio externo, quem brilha soberano, no entanto, é o franco suíço, fazendo máximas atrás de máximas ante o dólar. Ontem, a divisa americana chegou a cair mais de 5%, com um dólar comprando apenas 71,5 centavos de franco.

O dia também contou com um rumor de que os BCs do mundo fariam uma atuação coordenada na noite de terça-feira. Só não se sabe que tipo de ação.

Nos juros futuros, a probabilidade de corte da Selic na reunião de 31 de agosto do Copom já é de 50%.

Eduardo Campos é repórter

E-mail eduardo.campos@valor.com.br

 

 

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