24/08/2011

Itamaraty diz que empresas estão garantidas na Líbia

 

Líbios prometem ao Brasil honrar negócios de US$ 5 bi

Autor(es): Sergio Leo

Valor Econômico - 24/08/2011

 

Os contratos de empresas brasileiras na Líbia, estimados pelo governo em cerca de US$ 5 bilhões, serão cumpridos, disse o presidente do Conselho Nacional de Transição na Líbia, Mustafá Abdel Jalil, ao emissário brasileiro para contatos com os rebeldes, embaixador Cesário Melantônio, que desde 30 de julho vem mantendo contatos regulares, e sigilosos, com os responsáveis pela derrubada do ditador Muamar Gadafi. A promessa de cumprir os contratos foi divulgada ontem pelo ministro de Relações Exteriores, Antônio Patriota.

O Valor confirmou, no setor privado, com interlocutores de empresas com interesses na Líbia, o teor da conversa entre Jalil e Melantônio. O brasileiro, hoje embaixador no Egito, deve assumir a tarefa de interlocutor de alto nível para os países árabes.

Tanto o governo brasileiros quanto as empresas minimizaram as declarações de um porta-voz da Agoco, petrolífera controlada pelos rebeldes, de que Brasil, Rússia e China poderiam ter problemas na relação com o novo governo líbio.

Para o Itamaraty e as empresas brasileiras, a contradição entre as garantias da presidência da CNT e a manifestação do porta-voz da Agoco são resultado da composição heterogênea e ainda pouco institucionalizada do grupo que vem assumindo o poder na Líbia.

A Odebrecht, responsável por obras no aeroporto de Trípoli e no anel viário na capital, avaliadas em quase US$ 1,7 bilhão, e a Queiroz Galvão, com pouco menos de US$ 1,1 bilhão em obras de infra-estrutura em energia, transportes e habitação na região de Bengasi, são as principais empresas com operações na Líbia. A Andrade Gutierrez também tinha contratos superiores a US$ 600 milhões, para quatro obras, de água, esgoto, drenagem e pavimentação em Trípoli. A OAS buscava contratos com o governo de Gadafi.

A Petrobras, que explora desde 2005 uma área de petróleo ao noroeste da costa líbia, informou ontem ter suspendido as operações em fevereiro e retirado seus funcionários. A empresa não deu detalhes sobre os investimentos feitos no país, até suspender as atividades no bloco exploratório do mar Mediterrâneo, do qual detém 70%, em parceria com a australiana Oil Search Limited (OSL).

Tanto as empresas quanto o governo brasileiro, embora reconheçam a instabilidade política na Líbia sob controle dos rebeldes, acreditam que as garantias de bom relacionamento são firmes, graças ao diálogo mantido reservadamente com os rebeldes, desde a retirada de pessoal das construtoras de Bengasi e aos contatos permanentes com a Liga Árabe e a União Africana, que influirão no reconhecimento do novo governo.

Patriota afirmou ontem que há preocupações com o futuro governo líbio manifestadas ao Brasil pelo governo da África do Sul, que preside a União Africana e coordena o grupo de contatos de alto nível com os rebeldes. Os sul-africanos, segundo o ministro, consideram que o CNT representa uma das regiões e grupos tribais da Líbia, e que, para garantir a governabilidade do país seria necessária a inclusão de outros grupos, em um "governo de união nacional".

Patriota negou que o governo brasileiro tenha dado apoio ao ditador Muamar Gadafi ao se abster na votação do Conselho de Segurança das Nações Unidas que decidiu pelos ataques aéreos ao território líbio para a proteção de civis, afinal fundamentais na vitória dos rebeldes sobre o ditador. O Brasil temia a "desvirtuação" das medidas de proteção da sociedade civil, argumentou.

"Há um desconforto grande dos africanos com essa militarização do apoio da democracia", disse, citando o encontro que teve ontem com diplomata do Benim. "É um elo muito problemático associar a proteção da democracia, dos direitos humanos, a iniciativas militares", comentou. Ele argumentou que não há necessidade de o Brasil reconhecer os rebeldes como governo legítimo da Líbia. Segundo Patriota, as Nações Unidas apontarão o representante legítimo do povo líbio quando o comitê de credenciais da ONU decidir quem deve falar pela Líbia na Assembleia Geral, nas próximas semanas.

 

 

 

 

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