09/09/2011

Haja resistência

Por Karin Sato | De São Paulo

A forte turbulência do Índice Bovespa nas últimas semanas causou confusão no mercado. Além da incerteza externa, que aumentou em agosto, mudanças no cenário interno na semana passada ajudaram a deixar o investidor ainda mais inseguro. Afinal, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, de cortar a taxa Selic para 12% ao ano vai levar a bolsa de valores a uma recuperação ou ela permanecerá em trajetória de queda, pressionada pelo cenário externo?

É nesses momentos de incertezas que as pessoas físicas recorrem às mais diversas ferramentas de análise que podem ajudar na tomada de decisões. E uma das mais procuradas é a análise gráfica ou técnica, que usa os movimentos dos preços das ações no passado para tentar antecipar as oscilações presentes. Entretanto, nem sempre as perguntas são respondidas. O que se observa, neste momento, é que os próprios analistas técnicos não estão se entendendo sobre o rumo do Ibovespa.

 

O analista da Souza Barros Corretora Eduardo Matsura avalia que a tendência continua sendo de baixa, apesar de o Ibovespa ter rompido os 57.633 pontos - um importante nível de resistência - no dia 1 º de setembro. Resistência, na linguagem dos grafistas, é um nível de preço que atrai vendedores, sendo difícil de ultrapassar. Quando é superado, indica uma tendência de alta para a bolsa.

A questão, diz Matsura, é que esse rompimento não foi sustentável. "Ele tinha de se manter por alguns pregões, para que configurasse uma reversão da baixa, mas não foi o que aconteceu", explica. "Analisando o gráfico semanal, fica ainda mais clara a tendência de depreciação do Ibovespa", diz Matsura, para quem o efeito Copom foi muito efêmero. " O que está prevalecendo mesmo é o quadro externo."

Ele explica que, como a queda do índice no ano até ontem é acentuada, de 16,85%, é preciso que ocorra um evento significativo para que o panorama mude. "O que deve alterar o cenário é um novo pacote de estímulo à economia americana, que pode ser anunciado após a reunião de setembro do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), já que o encontro foi estendido para dois dias", diz.

O analista técnico da Octo Investimentos, Marcio Noronha, tem uma opinião distinta. Ele não vê tendência alguma para a bolsa. "O cenário ficou indefinido, para que a tendência volte a ser de baixa, o Ibovespa terá de fechar a semana abaixo dos 52.246 pontos, fechamento de 19 de agosto", explica. "Se o índice voltar a subir nesta semana e passar os 58.589 pontos (máxima registrada ao longo do dia 1º de setembro), provavelmente chegará a cerca de 64 mil, em um primeiro momento", arrisca prever Noronha.

O sócio-fundador do Instituto de Análise Técnica Leandro & Stormer, Alexandre Wolwacz, conhecido por Stormer, por sua vez, vê um repique de alta na bolsa que deve prevalecer até o fim de 2011. "Nos últimos meses dos anos, muitas vezes se observa uma recuperação do Ibovespa, que deve ficar entre 60 mil pontos e 62 mil pontos."

Porém, ele lamenta que a tendência no longo prazo continue sendo de baixa, de forma que o cenário para 2012 é obscuro. "Na melhor das hipóteses, teremos um ano de mercado de lado (sem uma tendência definida)", argumenta. Stormer defende que a bolsa de valores se comporta de forma parecida todo início de década. "O mercado tem uma memória de longo prazo", afirma. E, para quem não se lembra, 2002 foi um ano difícil para a bolsa, que chegou a cair abaixo dos 9 mil pontos em setembro.

"Estamos vivendo um ciclo muito similar ao que se viu nos inícios das últimas décadas", afirma Stormer. "Tanto em 2000 quanto em 2010, tivemos um mercado de lado." Justamente em agosto de 2001, o Ibovespa perdeu um importante suporte e o índice começou a cair, observa o analista. "Pode parecer estranho, mas dez anos depois estamos observando o mesmo movimento."

Em meio a tantas incertezas, de um fato nenhum analista duvida: o nível a ser observado de perto é o de 47.793 pontos, pontuação mínima atingida pelo índice neste ano, em meio ao pregão de 8 de agosto. Atualmente, ele configura o que os grafistas chamam de "suporte", um piso que, ao ser testado, resulta em compras de papéis, porque os preços ficam atrativos. Se rompido, o declínio pode ser ainda mais acentuado. Noronha diz que, caso esse suporte seja ultrapassado, o próximo teste será aos 35.721 pontos.

O analista da Octo traça um panorama sombrio ao explicar que, pela simetria do gráfico, nos próximos sete meses, o Ibovespa pode testar o nível de 29 mil pontos. Se isso for confirmado, os sete meses seguintes também podem ser de declínio. Os investidores desavisados podem se assustar com essa sentença, mas não devem. Trata-se de uma projeção que supõe que o índice cairá na mesma velocidade com que subiu. O analista, na realidade, não gosta do exercício de prever o futuro e avisa aos menos experientes: "Todas as projeções têm um grau de confiabilidade limitado."

Os especialistas consultados avisam que os gráficos devem ser usados para analisar a tendência do mercado, que pode mudar a qualquer momento, e não para prever o futuro. "Não é um instrumento para prever o que vai acontecer, e sim para avaliar se, no presente, predomina o movimento comprador ou o vendedor", reforça Matsura, da Souza Barros.

O vice-presidente da americana Stadion Money Management, Greg Morris, analista técnico que gerencia mais de US$ 7 bilhões em dois fundos mútuos e que participará da próxima edição da Expo Money em São Paulo, afirma que fazer previsões não é um "jogo inteligente". "Eu só reajo ao que o mercado está me dizendo naquele momento, não fico prevendo o futuro", explica o analista. "Ninguém sabe o que o futuro reserva, mesmo com a vastidão de dados e analistas brilhantes." Segundo Morris, não dá para saber como o mercado vai reagir, porque não é racional.

 

 

 

Nenhum comentário: