28/09/2011

Crédit Agricole venderá ativos para reforçar capital

 

Por Scheherazade Daneshkhu | Financial Times, de Paris

O Crédit Agricole vai anunciar uma venda de ativos para reforçar seu capital, após o rebaixamento de sua classificação de crédito este mês. O banco francês deve seguir hoje seus concorrentes domésticos maiores BNP Paribas e Société Générale (SocGen), que anunciaram medidas parecidas este mês.

O BNP disse que vai encolher seu balanço em € 70 bilhões (US$ 95 bilhões) até o fim de 2012, enquanto o SocGen pretende levantar € 4 bilhões adicionais eliminando cargos e vendendo ativos. O SocGen e o Crédit Agricole foram rebaixados há duas semanas pela agência Moody's em um nível, enquanto o BNP teve a nota colocada sob revisão.

O anúncio iminente do Crédit Agricole surge no momento em que as ações dos bancos franceses revertem os golpes do último mês. Desde o fim de semana, os preços dos papéis vêm subindo, principalmente por causa das esperanças geradas em Washington na reunião do G-20, de que os planejadores econômicos europeus adotarão uma ação coordenada para enfrentar o problema da dívida soberana. Isso apesar dos rumores de um default controlado da Grécia na forma de uma redução contábil de 50% de sua dívida, o que significaria mais problemas para o setor bancário europeu.

Nenhum dos bancos franceses reduziu o valor contábil de suas posições nesta quantidade, tendo se limitado geralmente ao cenário de 21% vislumbrado no plano de socorro à Grécia de julho.

Mas mesmo que eles fizessem provisões para um volume maior -60%, digamos - o efeito seria administrável, segundo Jon Peace, analista da Nomura. "O risco é um total administrável de 20% dos lucros ou 30 pontos-base do capital só de um default soberano - só que o Crédit Agricole e o Société Générale assumiriam perdas adicionais do setor privado."

Ao contrário do BNP -o banco francês mais exposto à dívida soberana grega - o SocGen e o Crédit Agricole possuem subsidiárias na Grécia, o Geniki e o Emporiki, respectivamente, o que os deixa mais expostos aos abalos econômicos posteriores a um default.

As subsidiárias também são o principal motivo dos bancos franceses serem considerados entre os maiores credores da Grécia, com uma exposição de € 53 bilhões às dívidas pública e privada do país, segundo o Banco de Compensações Internacionais (BIS).

O BNP, que tem em carteira € 4 bilhões em títulos da dívida soberana grega, fez provisões para € 534 milhões, equivalentes a um golpe de 21%. Um corte de 55% levaria a um provisionamento adicional de € 1,7 bilhão. Se o banco fizer isso, conforme é esperado após o fechamento das contas do terceiro trimestre, no fim do mês, a baixa total sobre os bônus gregos será de € 2,2 bilhões.

O SocGen e o Crédit Agricole têm uma exposição menor à dívida soberana. As posições do SocGen em títulos da dívida grega caíram de € 2,7 bilhões no começo do ano para € 900 milhões, depois do vencimento de alguns títulos de curto prazo. O banco fez uma provisão de € 395 milhões contra um corte de 21%, de modo que um corte de 50% seria administrável, segundo alguns analistas.

O Crédit Agricole fez um provisão de € 202 milhões na mesma base para suas posições em títulos da dívida grega. No entanto, isso é ofuscado pelo prejuízo de € 557 milhões do Emporiki nos primeiros seis meses do ano.

A verdadeira questão para o setor bancário francês, porém, é se ele receberá uma injeção de capital, seja via garantias estatais, seja através do fundo europeu de estabilidade financeira.

Christian Noyer, presidente do Banco da França, insistiu mais uma vez no fim de semana que os bancos do país não precisam ser recapitalizados. Mas ele também disse que em um "evento extraordinário" o governo não precisaria elaborar um plano para recapitalizar os bancos, uma vez que já tem um na forma do mecanismo de apoio estabelecido em 2008. Seus comentários contribuíram para a reação das ações.

O Estado disponibilizou € 360 bilhões para seus bancos em 2008, dos quais € 40 bilhões direcionados para o fortalecimento do capital. Ao protestarem, como ontem, afirmando que não precisam de ajuda os seis maiores bancos franceses tomaram um total de € 21 bilhões em empréstimos subordinados ou ações preferenciais, em troca do aumento do estoque de crédito ao setor privado e um corte nos salários e nas bonificações.

 

 

 

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