27/09/2011

Investidores compram esperança, mais uma vez

Por Luciana Monteiro

Mais uma vez, o mercado resolveu erguer castelos no ar ao comprar esperanças. Desta vez, a construção foi fundamentada nas expectativas de uma nova ação de políticos e do Banco Central Europeu (BCE) para impedir o contágio de um eventual calote da Grécia.

Os investidores resolveram dar um voto de confiança aos ativos de maior risco depois que o comissário europeu de assuntos monetários, Olli Rehn, afirmou que os países da zona do euro estudam a possibilidade de fortalecer o fundo europeu de resgate. E, diante de um mercado indefinido, os investidores novamente buscaram ganhos de curto prazo, o que levou o Índice Bovespa a fechar em alta de 0,97%, aos 53.747 pontos.

Ações de consumo sobem com aposta de corte maior da Selic

Internamente, consolidou-se a aposta de que a taxa de juros poderá ser reduzida em 1 ponto percentual, e não 0,5, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de outubro. A projeção cresceu diante das preocupações do governo com a desaceleração da economia mundial. Na última ata do Copom, quando houve uma surpreendente queda dos juros, o Banco Central ressaltou a piora do cenário internacional. E, de lá para cá, houve deterioração, o que corrobora o cenário traçado pelo BC, diz Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora.

Não por acaso, as ações voltadas ao segmento de consumo e varejo se destacaram ontem. Das dez maiores valorizações do Ibovespa, cinco foram de papéis ligados aos dois setores. As ações ordinárias (ON, com direito a voto) da Hering fecharam o dia com valorização de 4,78%, cotadas a R$ 32,00. Já as ONs da Hypermarcas tiveram alta de 2,49%, negociadas a R$ 10,70, enquanto as preferenciais (PN, sem direito a voto) da Lojas Americanas subiram 2,12%, para R$ 14,91. As PNs do Pão de Açúcar também se destacaram, com alta de 1,86%, cotadas a R$ 59,20. As ONs da Natura, por sua vez, se valorizaram 1,69%, para R$ 33,15.

Mas se a tese de queda maior da Selic funcionou para os papéis de consumo, o mesmo não pôde ser visto no setor de construção. As ações ordinárias da PDG Realty caíram 2,06%, a R$ 6,18, enquanto as da MRV perderam 1,43%, a R$ 10,35. As ONs da Gafisa também sofreram, fechando em queda de 1,18%, a R$ 5,88, e as da Rossi Residencial perderam 0,95%, negociadas a R$ 9,34. O cenário para o setor de construção é mais incerto já que o maior impacto sobre esse segmento recai sobre a expectativa do crescimento da economia e o Brasil está crescendo abaixo de seu potencial, afirma Velho.

A alta no preço do petróleo lá fora beneficiou as ações da Petrobras. As ONs da estatal registraram valorização de 3,43%, cotadas a R$ 21,72, enquanto as PNs da empresa encerraram em alta de 3,24%, a R$ 19,78.

Destaque de alta também para a OGX. Além do petróleo, as ações foram beneficiadas por uma notícia divulgada na sexta-feira, após o fechamento do pregão. O empresário Eike Batista disse que a petrolífera não está mais interessada em vender participações em campos marítimos e planeja assinar, dentro de um mês, um contrato de fornecimento para uma grande empresa global do setor. De acordo com ele, depois de emitir US$ 2,6 bilhões em papéis neste ano, a OGX não precisará vender participações nos seus campos.

Eike afirmou ainda que a OGX em breve assinará um contrato de fornecimento com uma das três maiores empresas petrolíferas do mundo, à qual destinará o petróleo que começar a extrair no campo de Waimea, na costa brasileira. As ONs da petrolífera encerram o dia com alta de 2,82%, cotadas a R$ 12,04. No ano, entretanto, os papéis ainda acumulam perda de 39,80%, ante queda de 22,45% do Ibovespa.

Luciana Monteiro é repórter de Investimentos. A titular da coluna, Daniele Camba, está de férias.

E-mail: luciana.monteiro@valor.com.br

 

 

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