28/09/2011

Bancos criam site para vender CDB

Por Carolina Mandl | De São Paulo

Em meio a tempos mais difíceis para a captação de recursos, os bancos de pequeno e médio portes estão desenvolvendo uma plataforma eletrônica conjunta para a venda de Certificados de Depósito Bancário (CDBs) pela internet para o pequeno investidor, público hoje que praticamente não financia essas instituições.

O projeto, segundo o Valor apurou, prevê que o sistema abrigará cerca de 50 instituições de menor porte, com expectativa de início de funcionamento até meados do próximo ano.

De forma isolada, essa iniciativa já começou a ser testada em meados deste ano por dois bancos: Sofisa e Ficsa. Agora, a ideia - liderada pela Associação Brasileira de Bancos (ABBC), que representa as instituições médias, e pela Acrefi, que reúne as financeiras - é reunir dezenas de instituições em torno de uma mesma plataforma, reduzindo custos de criação da tecnologia e até de divulgação do produto. Procuradas pela reportagem, as entidades preferiram não se pronunciar neste momento.

 

Sem ter uma rede de agências nas ruas para a distribuição de produtos de captação como as grandes instituições, os bancos menores dependem basicamente de grandes investidores institucionais, como fundos e seguradoras, para levantar dinheiro por meio da emissão de CDBs e títulos de dívida externa.

Outra importante fonte de captação para essas instituições também é a venda de carteiras de crédito para outros bancos. Essa modalidade, porém, anda a passos lentos - e bem menos rentáveis - desde a descoberta de fraudes no PanAmericano no ano passado. A venda pode voltar a se restabelecer com a entrada em operação da Central de Cessão de Crédito em agosto, mas ninguém acredita que a cessão terá, em termos de cifras, a importância que já teve.

Além disso, os Depósitos a Prazo com Garantia Especial (DPGEs), criados em março de 2009 para aliviar o problema de captação dos bancos médios a partir da garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), também tem data para acabar. A partir de 2012 os limites de emissão já encolhem até que em 2016 o DPGE deixe de existir. Hoje o estoque é de R$ 24 bilhões.

Com a inclusão dos investidores de varejo, os pequenos e médios bancos poderiam conseguir acesso a uma nova fonte de recursos. O CDB é um importante instrumento de captação para as instituições financeiras no Brasil, com um estoque de R$ 732 bilhões, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

Executivos de bancos que têm participado das reuniões sobre o projeto afirmaram ao Valor que a plataforma eletrônica funcionaria da seguinte forma: o investidor entraria no site e faria o pedido de compra de um CDB, sem saber de qual instituição o papel é. De forma aleatória, a plataforma destinaria o investimento ao título de algum banco. Em uma segunda etapa, o aplicador receberia uma mensagem informando qual banco emitiu o ativo.

Os bancos que já oferecem hoje seus papéis para as pessoas físicas pela internet afirmam ao público que o risco de crédito de suas instituições seria, no fim, igual ao de um banco de grande porte. Eles defendem que, até o limite de R$ 70 mil, a aplicação é assegurada pelo FGC, criado em 1995 para cobrir depósitos dos aplicadores em casos de liquidação extrajudicial ou de recuperação judicial. Uma estratégia semelhante de venda pode ser desenvolvida de forma unificada pelos bancos que vão se reunir na nova plataforma.

Apesar do alcance que a internet pode ter sem exigir a abertura de centenas de agências de rua, os bancos vão ter de arcar com custos de divulgação do produto para que ele se torne conhecido entre os aplicadores. Hoje essa é uma despesa importante para aqueles que já vendem CDBs pela internet.

"O maior gasto que tivemos para criar o site foi de marketing. É uma espécie de comércio eletrônico com dinheiro. É difícil para as pessoas confiarem se não conhecerem nem o nome do banco", diz Bazili Swioklo, responsável pelo Sofisa Direto, que entrou em operação em junho. O executivo afirma que, com o tempo, a plataforma oferecerá outros produtos além dos CDBs, porém não nega que a importância da nova fonte de recurso. "A pulverização aumenta a qualidade da captação."

No Ficsa, que tem um patrimônio líquido de R$ 80 milhões, a criação do site CDB Direto teve como principal objetivo diversificar a fonte de recursos para as operações do banco. "Usávamos muito a cessão de crédito, mas elas ficaram mais escassas depois do evento do PanAmericano. Por isso criamos um produto novo para captação", afirma Cláudio Ferro, do Ficsa, que vende pela internet CDBs de R$ 200 a R$ 70 mil, com prazos de um a quatro anos.

Outros bancos, como o Volkswagen, já tentam pulverizar a venda de CDBs, oferecendo o produto, por exemplo, para frotistas de caminhão e fornecedores da montadora.

 

 

 

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