28/09/2011

Racha em torno do socorro à Grécia deve retardar desembolso ao país

Por Peter Spiegel em Bruxelas e Quentin Peel em Berlim | Financial Times, de Bruxelas e Berlim

Uma cisão abriu-se na zona do euro sobre os termos de um segundo socorro, de € 109 bilhões (US$ 148 bilhões), à Grécia, em que sete países do bloco de 17 membros defendem que os credores privados aceitem um grande desconto sobre seus investimentos em títulos gregos, de acordo com altas autoridades europeias.

O racha surgiu em meio a preocupações que as necessidades de financiamento de Atenas sejam muito maiores do que estimadas há apenas dois meses. Algumas nações ameaçam voltar atrás de um acordo penosamente negociado com os detentores de títulos e firmado com o setor privado em julho.

 

Enquanto representantes linha dura na Alemanha e na Holanda estão à frente das exigências de que perdas maiores sejam impostas ao setor privado, a França e o Banco Central Europeu (BCE) resistem ferozmente a qualquer iniciativa desse tipo. Temem que uma renegociação dos termos provoque nova onda de venda de ações de bancos europeus, que têm fatias substanciais de dívida da Grécia e em países periféricos na zona do euro.

As ações de bancos franceses registraram alta nos últimos dias, após sinais de que as autoridades da zona do euro se preparam para aumentar o poder de fogo do fundo de socorro do bloco, de € 440 bilhões, que poderia, dentro de meses, ter condições de injetar capital nos bancos da zona do euro e comprar títulos soberanos.

Numa visita a Berlim, George Papandreou, o primeiro-ministro grego, exortou os alemães a reconhecer o "esforço sobre-humano" que seu país está fazendo para impor drásticas medidas de austeridade em meio a uma profunda recessão. "Posso garantir que a Grécia cumprirá todos os compromissos." Antes de receber Papandreou para um jantar, Angela Merkel, a chanceler alemã, reiterou o apoio de seu país ao esforço de reforma grego. "Queremos uma Grécia forte na área do euro e a Alemanha está disposta a oferecer todo tipo de ajuda necessária", disse.

Altas autoridades europeias disseram não haver cisões significativas em torno da iniciativa de reabrir os termos negociados com os detentores de títulos, o que poderia desencadear uma reestruturação maior e antecipada da dívida grega. Mesmo na Alemanha, as autoridades estão divididas sobre a possibilidade de pressionar por um desconto maior penalizando os credores do setor privado.

"Na Alemanha, há a linha dura e há os moderados", disse uma alta autoridade europeia. "Essa é a posição da linha dura."

Por causa da recente crise econômica e da lenta adoção de medidas de austeridade pela Grécia, as autoridades estimam que as necessidades de financiamento de Atenas para os próximos três anos cresceram para além da previsão de € 172 bilhões neste verão no hemisfério norte. A dimensão da disparidade será determinada pelos credores internacionais nas próximas semanas.

Há bastante tempo Berlim deseja que os credores assumam uma contribuição maior para um novo socorro, um ponto reiterado publicamente nos últimos dias por Wolfgang Schäuble, ministro das Finanças alemão.

Recentemente, a insistência alemã foi intensificada, segundo pessoas bem informadas sobre as negociações. Inicialmente, os ministros das Finanças da zona do euro esperavam assinar na segunda-feira a parcela seguinte de ajuda à Grécia, mas agora a expectativa é de uma decisão de retardar o próximo pagamento de €8 bilhões até uma reunião de emergência daqui a duas semanas.

Acredita-se que Berlim acabe por apoiar o desembolso. Mas uma alta autoridade disse que alguns políticos alemães desejam que os bancos então aceitem um desconto maior sobre suas carteiras de títulos ou renegociem swaps de títulos para refletir a forte queda nos valores das obrigações gregas desde julho.

Nos termos do socorro pactuado em julho, os detentores dos títulos concordaram em trocar cerca do equivalente a € 135 bilhões em títulos que vencem em 2020 por outros, garantidos pela União Europeia, que seriam honrados apenas em décadas futuras. Esse acordo implica um desconto de 21% para os portadores de títulos, mas muitas autoridades alemãs dizem que foram obrigadas a aceitar um acordo excessivamente benéfico para os bancos.

Na terça-feira, bancos na zona do euro e bolsas na Alemanha e na França registraram suas maiores altas desde quando o primeiro socorro à Grécia foi anunciado, em maio de 2010.

Na França, houve uma valorização de 17% nas ações do Société Générale, 14% no caso do BNP Paribas e de 13% para o Crédit Agricole, ao passo que o setor bancário em geral da zona do euro subiu 9%. As ações do BNP e do SocGen registraram uma valorização de um terço nos últimos três dias.

 

 

 

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