28/09/2011

Bom humor acaba com 1ª notícia negativa

 

Eduardo Campos

Valor Econômico - 28/09/2011

 


Otimismo, expectativa e esperança. Essas três palavras "explicam" a recuperação no preço dos ativos de risco nos últimos dois pregões.

Ao menos é isso que analistas, especialistas e economistas "venderam" nos últimos dias como justificativa para a súbita melhora de humor depois de uma semana na qual pessimismo, medo e desconfiança foram os conceitos que mais se repetiram nos mercados.

"Otimismo" com a situação da Europa (soa absurdo). "Expectativa" de aumento do Fundo de Financiamento Fundo de Estabilização Financeiro da Europa (falta combinar com 17 países). E "esperança" de que vão achar uma solução para a Grécia (nem Zeus resolve).

Analisando friamente, nada de concreto aconteceu. A Grécia não encontrou uma forma milagrosa de crescimento, os bancos europeus não encontraram gente disposta a injetar capital dentro deles e, como sempre, em um grupo de 17 países é mais fácil ocorrer divergência que harmonia.

O que parece mais palpável é a simples visão de que a queda da semana passada abriu espaço para compras e recomposição de posições nesta semana.

Movimento que dura até o primeiro puxar a fila da realização de lucros de curto prazo e apontar para alguma notícia negativa na zona do euro, ou qualquer outro canto do mundo.

O mesmo vale para o front local, que mimetiza os pares externos. Afinal, o dinheiro é um só passeando mundo a fora.

Voltando o foco aos contratos de juros, depois de um tombo que tirou mais de 0,50 ponto percentual de alguns vencimentos, a terça-feira foi de arrumação na BM&F.

As taxas tiveram firme alta, mas a história de um Banco Central (BC) mais incisivo na redução da Selic segue em pauta.

Os especialistas da Nomura Securities anunciaram a expectativa de corte de 1 ponto percentual na Selic no encontro de 19 de outubro do Comitê de Política Monetária (Copom).

Na visão da Nomura, eventos recentes confirmaram a visão já existe na instituição de que o ritmo de crescimento é a maior preocupação das autoridades brasileiras dentro do novo modelo de metas múltiplas e simultâneas, que também contempla inflação e câmbio.

"Nosso encontro com autoridades brasileiras no fim de semana passado durante a conferência do Fundo Monetário Internacional (FMI) também reforçou nossa visão, já que as autoridades pareceram bastante preocupadas com a falta de soluções tempestivas para os problemas na Europa, expressando seu desejo de "antecipar" o impacto da crise na economia brasileira cortando mais o juro mais cedo", escreveram Tony Volpon e George Lei.

Além do corte de 1 ponto em outubro, que traria a Selic para 11% ao ano, a Nomura trabalha com redução de 0,50 ponto em novembro, com taxa fechando o ano em 10,50%, e novas reduções de mesma magnitude ao longo de 2012 até o juro básico chegar a 9,5% em março do próximo ano.

Olhando para o câmbio, o dólar completou o terceiro dia seguido de baixa, mas a linha de R$ 1,80 ainda foi respeitada.

O dólar comercial cedeu 0,98%, a R$ 1,804, depois de cair a R$ 1,796.

E o dólar para outubro perdia 1,01%, a R$ 1,807, antes do ajuste final, mas caiu a R$ 1,795.

Na vertente política do mercado, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, negou que o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre posições vendidas em derivativos possa ser revertido. "Não vamos mudar o IOF", disse.

No entanto, fonte próxima do poder disse mais tarde, no mesmo dia, que tudo depende. Se a coisa piorar, o governo pode de voltar atrás.

Cada um "compra" o discurso que lhe convém, mas o fato é que tem muita fonte próxima ao poder autorizada a falar por aí. O governo joga com o mercado ou falta coordenação?

Eduardo Campos é repórter

 

 

 

 

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