26/09/2011

O feitiço do IOF se volta contra o feiticeiro?

 

Autor(es): Luciana Monteiro

Valor Econômico - 26/09/2011

 

 

O feitiço pode se voltar contra o feiticeiro. Pelo menos no que se refere à bolsa. E esse feitiço tem nome: IOF. No ano passado, o governo estabeleceu a cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), no valor de 2%, para os investidores estrangeiros que aplicam em ações no mercado à vista. A medida foi adotada justamente num momento em que o dólar estava ladeira abaixo e a tentativa era segurar o forte volume de recursos que ingressava no país. Agora, entretanto, o cenário mudou.

A bolsa brasileira se move, basicamente, conforme o fluxo dos investidores estrangeiros. Quando eles entram comprando, isso acaba se refletindo numa alta do Índice Bovespa. A escalada do dólar - de 14,81% só neste mês até sexta-feira-, deixou os investimentos em ações aqui mais interessantes para os estrangeiros.

Ibovespa cai em dólar 20,2% no mês e 31,2% no ano

Esse quadro, em tese, ficou ainda mais atraente depois da queda de 6,96% do Índice Bovespa na semana passada e valorização de 5,54% da moeda americana ante o real no mesmo período. Para se ter ideia, apenas neste mês, o Ibovespa acumula desvalorização de 5,78%, perda que sobe para 20,18% em dólar e, no ano, a queda chega a 23,19%, ou 31,18% em dólar. Teoricamente, se o índice cai, ele fica mais barato e o interesse por ações pode aumentar, certo? Bem, na teoria, sim, mas na prática...

Quando a aversão ao risco fica muito alta, os aplicadores externos saem vendendo e o índice despenca. Isso significa que, se a confiança não for reestabelecida, dificilmente esses agentes voltarão para a bolsa, mesmo se estiver baratíssima. E num momento como este, com problemas fiscais na Europa e o Banco Central americano alertando para um cenário bastante deteriorado, os estrangeiros não veem se a bolsa está barata ou não, eles simplesmente se voltam para ativos mais seguros, diz Luciana Pazos, chefe da divisão de gestão de fortunas da Mirae Asset Securities. E, como ativos mais seguros, leia-se os títulos do Tesouro americano.

Mas os analistas concordam que um empecilho como a cobrança do IOF para os investidores estrangeiros que aplicam em ações não contribui para deixar a bolsa brasileira mais atrativa que os outros mercados. "Tudo que restringe o fluxo de capitais pesa neste momento que o mundo está tão tenso", afirma André Cleto, sócio da Beta Advisors. "O estrangeiro se pergunta se vale a pena investir no Brasil e bancar o IOF, ou seja, pagar um pênalti de 2% na entrada, sendo que esse investidor pode ter de resgatar os recursos em seguida."

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Comparando-se a queda da bolsa brasileira no ano com a dos países integrantes dos Pigs (sigla para Portugal, Itália, Grécia e Espanha), vê-se que, em dólar, a perda de 31,18% do principal índice da bolsa brasileira só não é maior que a de 43,13% do Ase General, da Grécia, país cujo risco de calote da dívida é iminente. Mas neste mês, até sexta-feira, o Ibovespa perdia mais que qualquer um desses países.

Os números mostram, no mês, que o saldo (aplicações menos resgates) dos estrangeiros na bolsa está positivo em modestos R$ 48,814 milhões até o dia 21, mas no ano já está negativo em R$ 61,651 milhões.

Luciana Monteiro é repórter de Investimentos. A titular da coluna, Daniele Camba, está de férias.

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