30/09/2011

Gestores fundem carteiras para esconder fraco retorno

 

Autor(es): Por Alice Ross | Financial Times.

Valor Econômico - 30/09/2011

 

 

Consultores financeiros estão acusando gestores de recursos de continuarem fundindo seus fundos com fraco desempenho com outros melhores, com a finalidade de ocultar o verdadeiro histórico dessas carteiras. Essas reclamações ocorrem no momento em que uma nova pesquisa revela que as fusões de fundos estão novamente em alta - com a previsão de que 50 carteiras deverão desaparecer das tabelas de desempenho somente neste ano.

Dados da Lipper mostram que 39 fundos de investimento foram fundidos a outros gerenciados pela mesma instituição no ano passado, enquanto 81 foram completamente fechados. Em 2009, quando muitos fundos encolheram a tamanhos impossíveis de serem mantidos, após a crise financeira, houve 56 fusões de portfólios e 127 foram fechamentos.

Com o aumento da volatilidade do mercado, as fusões passaram a ocorrer com mais frequência. A Lipper calcula que, até o fim de julho, elas somaram 29 e o número deverá subir para 50 até o fim do ano. A instituição projeta que outros 72 serão fechados até lá.

As empresas que gerenciam fundos de investimento tendem a fechar ou fundir portfólios com concorrentes de melhor desempenho após um período de atuação fraca - ou quando eles ficam tão pequenos que seus custos fixos levam suas despesas a níveis não competitivos.

"Com muita frequência, isso é uma desculpa para se conseguir ocultar um desempenho fraco, ou porque um fundo ficou pequeno demais", afirma Justin Urquhart Stewart, da 7 Investment Managers. "Quando uma carteira é fundido silenciosamente a outra, ou tem seu nome mudado, as pessoas do fundo original podem se ver em algo completamente diferente. Isso se tornou uma norma no setor e eu acho que não está certo."

Várias gestoras conhecidas fundiram carteiras recentemente. Nos 12 meses até o fim de abril, o Schroder Pacific proporcionou um retorno de 8,3% para os investidores, antes de ser absorvido pelo Schroder Asian Alpha Plus, que teve ganho de 17,2%.

O Henderson Multi-Manager Tactical Fund perdeu 1,6% antes de ser combinado com o Henderson Multi-Manager Active Fund, que teve rentabilidade de 6,8% no mesmo período de tempo.

E antes de ser fundido ao F&C UK Alpha, que proporcionou um retorno de 22,6% para os investidores, o F&C UK Opportunities Fund teve alta de apenas 14,3%.

Entretanto, Ed Moisson, diretor de análise de fundos da Lipper, afirma que fundir um portfólio nem sempre é uma coisa ruim para os cotistas. "Um grande número de investidores fecha os olhos e não liga para os comunicados de seus fundos, de modo que eles podem estar tendo um desempenho inferior sem saber disso. Se o setor lidasse com isso de uma maneira preventiva, isso poderia ser uma coisa boa", afirma ele.

Mesmo assim, Moisson admite que as fusões também podem ser um sinal de que os gestores de fundos foram rápidos demais ao seguir uma tendência e lançar fundos para aproveitar o sentimento do público - sem considerar se tinham ou não algum conhecimento específico na área.

"A bolha tecnológica é o melhor exemplo: houve um grande repique nos fundos de tecnologia que aconteceu tarde demais e muitos deles nem deveriam ter sido lançados", afirma Moisson.

O fechamento de fundos com desempenho fraco também cria um "viés de sobrevivência", em que o desempenho de longo prazo de fundos com gestão ativa parece mais promissor, uma vez que as carteiras com fraco desempenho foram ocultadas.

Cartas enviadas por gestores de fundos a investidores e consultores informando-os sobre fusões ou fechamentos também vêm provocando confusão.

Na semana passada, a Franklin Templeton enviou uma carta aos investidores informando-os sobre os planos de fusão do Rensburg UK Select Growth Trust, um fundo mútuo, em um novo "subfundo" da Franklin Templeton. A carta informou que as despesas continuariam as mesmas, no valor de 1,5% ao mês.

Mas um investidor descobriu que o novo fundo terá uma "despesa de administração" de 0,05% ao ano. "Os cotistas do fundo mútuo estão sendo solicitados a votar uma mudança que levará a um aumento das despesas", diz Moisson. "Isso, por si só, já é ruim, mas piora pelo fato de que isso envolve um fundo que vem tendo um desempenho bem mediano", diz o executivo.

A BNY Mellon escreveu a consultores financeiros na semana passada para informá-los dos planos de fusão dos fundos Newton Growth Fund e Newton Income Fund em uma nova carteira chamada de Newton UK Equity Fund.

Contribuindo para a confusão sobre os nomes dos fundos, um porta-voz disse que o Newton Income Fund era, na verdade, um "fundo de growth" - aquele que aposta em ações com bom potencial de valorização - do setor UK All Companies.

David Barnett, analista financeiro independente de Middlesex, diz que a carta que ele recebeu da BNY Mellon sobre a fusão dos fundos não estava clara. "Nunca recebi uma carta desse tipo tão confusa", diz ele. "Ela faz você imaginar o que eles estão fazendo com os portfólios - por quê eles estão fazendo essa confusão com os fundos?"

A BNY Mellon disse que mais informações serão enviadas para os investidores oportunamente, uma vez que as fusões são apenas uma proposta no estágio em que estão. Mas Urquhart Stewart, da 7 Investment Managers, acredita que parte do problema poderia ser resolvido se os investidores prestassem mais atenção ao desempenho de suas carteiras, antes que um gestor pense em fechá-las.

"Acho que os investidores deveriam observar o que seus portfólios estão fazendo, e se não estiverem fazendo o que deveriam estar, eles devem se mudar para outro lugar", aconselha.

 

 

 

 

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