Brasil S.A - Antônio Machado |
Correio Braziliense - 28/09/2011 |
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A percepção de que a economia global está indo para o buraco e que ninguém escapará das sequelas do crescimento medíocre nos EUA e da rebordosa do endividamento público na Zona do Euro é unânime, como constataram em Washington, na reunião semestral do FMI (Fundo Monetário Internacional), os ministros de finanças das quase duas centenas de países associados às Nações Unidas do mundo econômico. O consenso é que está ruim e vai piorar — uma sinceridade incomum em reuniões de organismos multilaterais, como o FMI. Surpresa será a frustração desse cenário, antecipado pelo Banco Central, no fim de agosto, ao iniciar o corte da taxa básica de juro mesmo com a inflação rodando a 7,3% ao ano, acima do teto de variação (6,5%). Os diagnósticos são consensuais aos países, como ficou explícito na exposição do presidente do BC, Alexandre Tombini, no Senado, e que, em síntese, repete o teor de artigo distribuído no mesmo dia pelo seu colega da Índia, Duvvuri Subbarao. Ou vice-versa. China, Índia e Brasil, nessa ordem, são cabeças de chave entre os países emergentes. É o bloco que mantém o crescimento econômico no mundo acima da linha d"água. A última trincheira contra a recessão em ampla escala, desde que EUA, Europa e Japão, as três regiões mais ricas do mundo, estagnaram, incapazes por impasses políticos internos (EUA e Europa) e estruturais (Europa e Japão) de comandar com autonomia os processos de crescimento. O resto gira em falso. No pós-crise de 2008, a economia global recuou "só" 0,5% graças à China. Pequim turbinou investimentos com um pacote de incentivos que levou o seu PIB a crescer 9,2% em 2009. Sem isso, a retração no mundo, segundo estimativa de economistas do BNP Paribas, teria chegado a 2%. No Brasil, a queda teria superado a marca de 0,6%. Esse filme será reprisado? Pode até ser tentado, mas já sem mais conseguir o impacto de 2009. As principais economias, como Tombini disse no Senado, estão com "menos munição" para promover estímulos fiscais e monetários "sem precedentes", conforme a sua ênfase. A consequência dos programas para ativar a demanda e resgatar os chamados bancos "too big to fail", ou "grandes demais para falir", segundo Tombini, feitos para evitar uma "depressão" mundial, foi a piora do endividamento público de EUA, da Europa e do Japão. Hoje, escreveu o indiano Subbarao, é pior, pois, se cada uma das crises, dos EUA e da Europa, "já é um grande risco", as duas simultâneas são muito mais, "ao interagir uma com a outra e com loops adversos através dos canais do comércio, das finanças e da confiança". O otimismo pé no chão O otimismo pé no chão de Subbarao coincide com o de Tombini, que no Senado admitiu que "crises de dívidas demoram em se resolver". Quanto maior o crescimento econômico menor será a dor do ajuste a que Europa e EUA estão condenados pelas mazelas da economia. Mas, avisou, "a perspectiva segue muito frágil para essas economias". Risco de voluntarismos Em 2008, diz o indiano Subbarao, os ricos e emergentes estavam na mesma fase do ciclo econômico, o que facilitou a reação coordenada contra a crise. Hoje, cada lado está num ponto diferente do ciclo. Sem munição para reagir O que importa preservar Nenhum emergente é capaz de substituir a carência da demanda dos EUA, nem a China, o que implica questionar megaprojetos planejados para atender a sua demanda insaciável, até agora, por commodities. As agrícolas devem ter desempenho melhor que as matérias-primas, inclusive petróleo, e assim por diante. O governo Dilma ainda não fez esse exercício. No papel, ao menos, ele é imprescindível. |
28/09/2011
Fogo sem bombeiro
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