30/09/2011

Renar Maçãs reestrutura operações para voltar ao azul

Por Natalia Viri | De São Paulo

Com as ações em seu menor nível histórico, a Renar Maçãs rompeu o silêncio com o mercado e anunciou um plano de reestruturação operacional e financeira para aumentar sua rentabilidade, em reunião organizada nesta semana pela Associação dos Analistas e Profissionais do Mercado de Capitais (Apimec).

O plano, liderado pelo fundo Ensurance Capital Partners (ECP), que entrou no bloco de controle em 2009, tenta reverter a crônica de um problema anunciado.

Terceira maior produtora de maçãs do país, a Renar entrou no Novo Mercado em 2005, em uma operação coordenada por corretoras independentes que levantou R$ 16 milhões.

 

De lá pra cá, todos os riscos associados ao negócio se materializaram. As quebras de safra por conta de problemas climáticos prejudicaram a produção, ao mesmo tempo que o real se valorizava, prejudicando as exportações. Além disso, a sazonalidade da cultura, cuja safra se concentra no primeiro semestre, com preços menores nessa época do ano, teve impacto nas receitas da empresa, que não chegou a fechar um ano com um número positivo na última linha do balanço.

Com isso, após atingir o pico de R$ 2,57 em meados de 2008, os papéis da Renar vêm em queda livre desde 2009. No pregão do dia 22, a ação atingiu seu piso, cotada a R$ 0,33, 63% abaixo dos R$ 0,90 registrados na oferta inicial.

Ontem, o papel fechou a sessão em R$ 0,34, em um recuo acumulado de 46% desde o início do ano. No mesmo período, as ações preferenciais da Rasip, outra produtora de maçãs listada na bolsa, recuaram bem menos, 5%. Já o Índice de Small Cap (SMLL), que mede o desempenho de um conjunto de empresas de menor liquidez, caiu 19,5%.

Com prejuízos acumulados em R$ 76,8 milhões, a empresa apresentava uma dívida de curto prazo de R$ 72 milhões em junho, frente a um caixa praticamente zerado, de R$ 81 mil.

Os resultados operacionais nos últimos dois anos não foram mais animadores: em 2009, o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) ficou negativo em R$ 3,9 milhões e, em 2010, foi um prejuízo de R$ 8,4 milhões.

Agora, a companhia garante que trará o Ebitda para o terreno positivo já neste ano, absorvendo os ganhos de escala e redução de custos advindos da fusão com a também produtora de maçãs PomiFrai Alimentos, em 2009.

A previsão é de que o indicador encerre 2011 entre R$ 5 milhões e R$ 8 milhões. No primeiro semestre deste ano, no entanto, o Ebitda estava negativo em R$ 2,7 milhões.

Henrique Roloff, diretor financeiro da companhia, explica que, nos últimos anos, a maior parte da produção tem sido vendida na primeira metade do ano, mesmo a preços mais baixos, para fazer frente às despesas com dívida.

A partir da reestruturação dos passivos, a ideia é concentrar a comercialização da maior parte das maçãs no segundo semestre, quando os preços sobem por conta da entressafra, o que impulsionaria as margens da companhia na segunda metade do ano. "Ao contrário dos pequenos produtores, temos estrutura para segurar a produção de seis a oito meses, e é aí que podemos ganhar nos preços."

Roloff afirma que cerca de R$ 30 milhões do passivo mais pesado, de R$ 50 milhões com o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), serão quitados por meio da venda de ativos improdutivos e os R$ 20 milhões restantes serão rolados para dez anos. "Já temos o 'de acordo' com a área técnica do banco, estamos apenas esperando a assinatura do contrato, que deve sair nas próximas semanas".

Outra dívida de R$ 21 milhões com um banco comercial foi alongada para quatro anos.

A venda de ativos improdutivos é outra peça crucial para reduzir o endividamento e reforçar o caixa para investimentos. De acordo com Rômulo Figueiredo, sócio da ECP e presidente do conselho de administração da Renar, com a fusão com a PomiFrai, a empresa concentrou sua produção nos pomares de maior produtividade e atualmente tem 3 mil hectares disponíveis para venda.

Isso compensaria em parte a tentativa frustrada da companhia de levantar fundos junto ao mercado recentemente, garante.

Em julho, a companhia anunciou um aumento de privado de capital de R$ 16 milhões, por meio da emissão de 40 mil ações, por R$ 0,40 cada - média do preço dos dez dias anteriores ao anúncio, com desconto de 12%.

Desde então, com as ações em queda, foram levantados apenas R$ 10,6 milhões. "Esse valor é suficiente para as necessidades de curto prazo da empresa." O último leilão de sobras de subscrição foi encerrado em 14 de setembro, quando os papéis da empresa já estavam sendo negociados pelo mercado na casa dos R$ 0,30.

Para Sandra Peres, analista do setor de consumo da Coinvalores, que acompanhou a apresentação da Renar, o plano estratégico da empresa é consistente. "A reestruturação da dívida é uma boa notícia, mas vai ser preciso acompanhar os próximos resultados para ver se há de fato melhora operacional", afirma.

 

 

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