26/09/2011

Carteiras de ações brasileiras voltam a registrar resgates

 

Por Antonio Perez | De São Paulo

O apetite do investidor estrangeiro por fundos internacionais que aplicam em ações brasileiras durou apenas uma semana. Depois de captarem R$ 30,92 milhões na semana do dia 14, interrompendo uma sequência de seis semanas de saques, essas carteiras voltaram a perder recursos. Na semana encerrada dia 21, os fundos de ações brasileiras amargaram resgates líquidos de US$ 104,67 milhões. Com isso, as perdas acumuladas em setembro são de US$ 75,86 milhões, segundo dados da consultoria americana EPFR Global, que acompanha a movimentação das carteiras internacionais.

Se na semana encerrada dia 14 a EPFR Global atribuiu a captação dos fundos brasileiros a uma "resposta dos investidores ao corte de 0,50 ponto porcentual da taxa Selic no fim de agosto", desta vez a consultoria ressalta que "a inflação permanece como um desafio para o Brasil, com os dados mais recentes mostrando aceleração dos preços após o surpreendente corte de juros". E acrescenta: "a perspectiva de demanda mais fraca da China, Estados Unidos e Europa também pesou sobre o sentimento dos mercados".

A saída de carteiras de papéis brasileiros veio em meio a um movimento global de fuga tanto de ações de mercados emergentes quanto de desenvolvidos. Oito dos nove maiores fundos de ações acompanhados pela EPFR Global sofreram saques líquidos durante a semana encerrada dia 21. "Os investidores tiraram o dinheiro da mesa na terceira semana de setembro", afirma a consultoria, em relatório intitulado "A pista de dança continuou a esvaziar antes de o Fed [Federal Reserve, banco central dos EUA] decidir pela operação Twist".

Na quarta-feira, dia 21, o presidente do Fed, Ben Bernanke, anunciou que a instituição iria comprar US$ 400 bilhões em títulos do Tesouro de longo prazo, vendendo parcela equivalente de papéis curtos. A ação, cujo objetivo é derrubar a taxa de juros de longo prazo para estimular os empréstimos, foi apelidada pelo mercado de "operação Twist".

Todos os fundos de ações dedicados a mercados emergentes perderam, juntos, US$ 1,358 bilhão na semana encerrada no dia 21, valor ligeiramente superior aos saques da semana anterior, de US$ 1,329 bilhão. Em setembro, as saídas somam US$ 3,687 bilhões. Com as perdas mais recentes, essas carteiras amargam saques por 18 semanas seguidas, em volume que já atinge US$ 18 bilhões. "As expectativa de que o Fed iria anunciar outro agressivo programa de 'quantitative easing' e o efeito que tal programa poderia ter sobre o dólar e a competitividade dos países emergentes exportadores pressionaram os fundos de ações e bônus dos emergentes", afirma a consultoria.

Os fundos internacionais dedicados a ações dos Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) perderam US$ 92,79 milhões na semana do dia 21, enquanto os diversificados fundos Globais de Mercados Emergentes (GEM, na sigla em inglês) sofreram saques de US$ 224,23 milhões no período. As maiores retiradas, contudo, ocorreram nas carteiras dedicadas à Ásia (excluindo Japão) - US$ 468,82 milhões - e aos fundos de ações de emergentes da Europa, Oriente Médio e África (EMEA, na sigla em inglês) - US$ 329,9 milhões.

Os saques também atingiram os fundos de ações de desenvolvidos, que perderam, juntos, US$ 3,244 bilhões na semana do dia 21, depois de terem captado US$ 9,948 bilhões na semana anterior. Em setembro, as saídas dessas carteiras já somam US$ 7,407 bilhões. Os fundos dos EUA, que haviam recebido US$ 12,31 bilhões na semana do dia 14, perderam US$ 5,326 bilhões na semana passada, apresentando saques acumulados de US$ 6,507 bilhões em setembro.

Os investidores também abandonaram os fundos de bônus, tanto de desenvolvidos quanto de emergentes, na semana do dia 21. As carteiras de bônus dos mercados emergentes perderam US$ 691,85 milhões no período, depois de duas semanas captando mais de US$ 550 milhões.

Já os fundos de bônus de desenvolvidos, que vinham captando na casa de US$ 2 bilhões há duas semanas, perderam US$ 353,64 milhões na semana do dia 21. No mês, ainda recebem US$ 3,815 bilhões. "Em geral, ações, bônus e fundos de 'money market' [carteiras de curto prazo de alta liquidez] apresentaram saídas conjuntas recordes de US$ 4,46 bilhões, US$ 1,04 bilhão e US$ 11 bilhões, respectivamente, na semana", afirma a EFPR.

 

 

 

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