26/09/2011

Dólar recua e arrasta taxas de juro futuro

 

Eduardo Campos

Valor Econômico - 26/09/2011

 

 

Na quarta-feira, dia 21, este mesmo espaço dizia que o mercado de juros futuros começava ganhar uma cara "mais racional". Dois dias depois tal percepção foi para o espaço.

A irracionalidade anda com exuberância ímpar. E as "verdades" não sobrevivem um pregão.

As taxas futuras tiveram um pregão de queda livre na sexta-feira, com alguns vencimentos testando novas mínimas históricas, como o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) janeiro 2013, que fez mínima a 10,43%, antes de fechar apontando 10,46%, queda de 0,24 ponto percentual. No restante da curva, a queda média foi de 0,40 ponto. Não parece muito, mas nos juros impressiona.

Na ingrata tarefa de explicar o inexplicável, o que se ouviu nas mesas foi o seguinte: o "racional" que serviu de gatilho para tal movimento de baixa passa pelo dólar. Afinal de contas, foi justamente a alta de preço da moeda americana que chamou os investidores para a compra de contratos.

A percepção é de que a disparada na cotação do dólar teria chegado ao fim, pois o governo vai dar a liquidez necessária para o vendido zerar suas posições.

Com isso, aquela história de dólar mais caro pressionando a inflação saiu de cena.

A isso se soma um cenário externo de perspectivas sombrias e uma queda mais substancial no preço das matérias-primas.

Como no mercado não há meio termo - é tudo muito bom ou tudo muito ruim - esse "racional" foi extrapolado. E o corte de Selic que já estava na conta, pode vir de forma mais agressiva.

Olhando os vencimentos curtos e médios de juros futuros, uma redução de 0,50 ponto percentual da Selic virou piso, tanto para a reunião de outubro quanto para o encontro de novembro do Comitê de Política Monetária (Copom).

Ao lado das alegações fundamentais caminham os fatores técnicos. Aquele investidor que mostrou uma posição cautelosa, digamos assim, e comprou juros no começo da semana foi esmagado pelos advogados da tese de sexta-feira. Em linguagem de mercado ele foi "stopado", foi obrigado a mudar da compra para venda.

Para um estrategista, tudo bem que o dólar pare de subir e que o impacto na inflação seja moderado, mas o fato é que não se consegue ver inflação de 4,5% no fim de 2012. Portanto, essa queda de taxa futura estaria um tanto exagerada.

Já um gestor vê a questão de outra forma, o pano de fundo para toda essa oscilação nas taxas é a perda de credibilidade do Banco Central (BC). Ao seu ver, ele não coordena mais as expectativas de inflação ou de condução de política monetária.

Passando para o câmbio, tudo que sobe tem de cair. E no caso do dólar, se o preço não cai, o BC ajuda.

A disposição do BC em dar liquidez foi apontada como uma das razões para o tombo de 3,48% do dólar comercial na sexta-feira, maior em 16 meses, para R$ 1,829.

Outros fatores em pauta foram o comportamento de moedas emergentes, como peso mexicano e o rand sul-africano, que também tiveram forte retomada ante o dólar.

Segundo um especialista, tal movimento de baixa mostra que grande parte das posições vendidas (aposta pró-real) foi coberta. Quem estava perdendo com a alta já se acomodou.

E os dados da BM&F dão boa pista disso, já que na quinta-feira, o estrangeiro (grupo que inclui os hedge funds, high yield funds, entre outros institucionais) mostrava posição comprada em dólar futuro de US$ 9,661 bilhões. Eles tinham aberto o mês com posição vendida de US$ 2,646 bilhões. Em 15 dias úteis de setembro o não residente comprou nada menos que US$ 12,307 bilhões.

Como o estrangeiro ainda está vendido em US$ 13,387 bilhões em cupom cambial (DDI, o juro em dólar) sua posição líquida global ainda é vendida em US$ 3,726 bilhões.

A contraparte é o banco, que estava vendido em US$ 11,126 bilhões em dólar futuro. Olhando a posição global dos bancos vemos fato inédito no ano. Eles estão liquidamente vendidos.

O estoque vendido em dólar futuro supera o comprado em cupom cambial (US$ 6,998 bilhões). Com isso, temos os bancos com "aposta" líquida no real de US$ 4,128 bilhões.

Olhando além do intradia, o estrategista-chefe da C M Capital Markets, Luciano Rostagno, aponta que o câmbio no Brasil parece funcionar dentro de uma "banda implícita de oscilação". A taxa não "deve" ir acima de R$ 1,90/R$ 2,0, mas também não pode ficar abaixo de R$ 1,70, já que desde que o dólar perdeu R$ 1,75 o governo acentuou as medidas cambiais.

Eduardo Campos é repórter

 

 

 

 

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