30/09/2011

Juro baixo, dividendo alto

Por Antonio Perez | De São Paulo

 


As "viúvas da bolsa" estão rindo à toa. Nos últimos meses, as ações de empresas boas pagadoras de dividendos - apelidadas justamente de "papéis de viúva", por rechearem as carteiras dos investidores menos afeitos ao vaivém alucinante dos pregões - deram um baile no Índice Bovespa. Um bom exemplo é a Carteira Valor de Dividendos, composta por cinco papéis selecionados a partir da indicação de dez corretoras. Entre 17 de maio, data da última edição do portfólio, e ontem, a Carteira Valor de Dividendos subiu 5,81%, ao passo que o Ibovespa tombou 16,16%.

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O grande aliado das viúvas nos últimos meses foi, ironicamente, a crise externa, que afastou os investidores, sobretudo os estrangeiros, de Vale, Petrobras e dos bancos, que dominam o Ibovespa. Em momentos conturbados, as ações de dividendos tendem a ter um desempenho positivo, já que garantem "dinheiro no bolso" do investidor, explica Sandra Peres, analista da corretora Coinvalores, que passa, a partir de agora, a integrar a Carteira Valor de Dividendos, em substituição à Link Investimentos. "E com esse cenário ruim lá fora, essas ações devem continuar a atrair o investidor", diz Sandra.

Não bastassem os ventos externos, as viúvas acabam de ganhar um aliado doméstico: a disposição do Banco Central (BC) em reduzir a extravagante taxa Selic, hoje em 12% ao ano. A perspectiva dos analistas é que a Selic termine 2011 entre 10% e 11%. Com isso, a remuneração que o investidor recebe apenas com dividendos, parte do lucro distribuído aos acionistas, passa a rivalizar com os ganhos das aplicações mais conservadoras.

Com a Selic menos gorda, os fundos DI, por exemplo, a depender da taxa de administração e da alíquota do imposto de renda sobre os ganhos, vão render menos que 9% ao ano. A campeã em indicações da Carteira Valor de Dividendos, a ação preferencial (PN, sem direito a voto) da geradora de energia AES Tietê, recomendada por oito corretoras, tem um "dividend yield" (medida da remuneração com dividendos) estimado em torno de 10%. Trocando em miúdos, se o investidor comprar R$ 10 mil em papéis da AES Tietê, deverá levar para casa, em um ano, R$ 1 mil apenas com o pagamento de dividendos, sem contar a variação no preço da ação.

Essa comparação entre o rendimento das aplicações conservadoras e o proporcionado pelo "dividend yield" leva em conta o chamado ganho nominal, ou seja, antes de descontar a inflação. Com a queda da Selic e a inflação no nível atual, o ganho real (já descontada a alta dos preços) dos fundos DI tende a encolher. O mesmo raciocínio vale, em tese, para os dividendos. Em tese, porque na prática as receitas das boas pagadoras de dividendos, como companhias de energia elétrica, são corrigidas pela inflação. A tendência, portanto, é de que, no médio e longo prazos, o preço das ações dessas empresas acompanhe o ritmo da inflação.

Um bom exemplo é a própria AES Tietê. A "queridinha" das corretoras tem como grande trunfo uma geração de caixa estável graças a um contrato de fornecimento de energia à Eletropaulo até 2015, corrigido anualmente com base na variação do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) dos 12 meses anteriores. "Com isso, o caixa da empresa tende a se beneficiar caso haja uma alta dos preços", afirma Cristiane Fensterseifer, analista do banco Geração Futuro, que estima um "dividend yield" de 10,3% para este ano e de 10,9% para 2012.

As grandes dúvidas em relação à AES Tietê giram em torno de dois pontos. Primeiro, a remuneração dos contratos de fornecimento após o fim do acordo com a Eletropaulo. Segundo, a perspectiva de que a empresa seja obrigada a acelerar investimentos para expandir a capacidade de geração, conforma estabelecido pelo Estado de São Paulo à época da privatização da companhia, em 1999.

No primeiro caso, Cristiane lembra que, além de a mudança ainda demorar a ocorrer, os novos contratos, mesmo tendo preços inferiores, ainda serão vantajosos para a companhia. No segundo caso, a empresa já tem um projeto de construção de uma termelétrica a gás que supre as exigências e que não exige grandes desembolsos. "No médio prazo, a empresa continua sem dívidas e com uma geração de caixa muito previsível, o que permite distribuir quase 100% do lucro ao acionista", afirma a analista da Geração.

Em segundo lugar em indicações para a Carteira Valor de Dividendos, com sete recomendações, aparecem as ações PN da Telesp, que caíram nas graças dos analistas após a fusão com a Vivo, também do grupo espanhol Telefónica. A Itaú Corretora, por exemplo, estima "dividend yield" de 6,8% para este ano e de 9,3% para 2012. Os analistas de telecomunicação da corretora, Susana Salaru e Carlos Constantini, destacam as expectativas de forte crescimento e expansão das margens, refletindo as sinergias operacionais com a fusão. Eles têm preço-alvo de R$ 65,20 para as ações da companhia, alta potencial de 33,88% ante o fechamento de ontem, a R$ 48,70.

Terceira mais recomendada na Carteira Valor de Dividendos, com cinco indicações, os papéis PN da Transmissão Paulista têm "dividend yield" estimado em 11,50% pela Planner Corretora. É uma empresa com forte geração de caixa e receita muito previsível, diz Mario Mariante, chefe de análise da Planner. Ele tem um preço-alvo de R$ 54 para a ação da companhia, valorização esperada de 10,9% ante o fechamento de ontem, a R$ 48,69. "O nível de preço atual da ação é um ponto interessante de entrada para o investidor que busca dividendos", afirma Mariante.

 

 

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