01/09/2011

Investidor usa informações como instrumento de análise

O investidor que acompanhar as informações sobre negociação com ações de "insiders" verá que essas operações são frequentes em muitas companhias.

Na Ambev, em alguns meses de 2010, os formulários divulgam várias folhas com movimentações diárias de compra e venda de conselheiros e também de diretores.

Não é possível saber se o mesmo conselheiro compra e vende as ações no mesmo dia, os negócios "day trade", no jargão do mercado, porque a informação é sobre o total movimentado pelo grupo.

Por meio de sua assessoria de imprensa, a Ambev informa que as operações seguem rigorosamente as normas estipuladas pela CVM. Os relatórios contêm os valores consolidados das operações, disponíveis para todos, bem como os detalhes de cada movimentação individualmente, que, por serem de caráter privado, não são divulgados pela autarquia.

A Ambev acrescenta ainda que possui um manual interno de negociações, que disciplina a prática de compra e venda de papéis por parte de executivos da companhia.

No caso da Cyrela, é possível notar que, em janeiro de 2010, o controlador tinha 35% da companhia. Em dezembro, após vendas realizadas em vários meses, desceu para 32,4%. Em abril deste ano, voltou às compras e chegou a 32,57%.

Nas Lojas Marisa, o grupo de controle também aparece na compra das ações. Em dezembro de 2010, como exemplo, a fatia subiu de 71,73% para 75,12%. Nos meses de junho e julho passados, há operações de compra e venda a termo por parte de sua diretoria.

Cyrela e Marisa não concederam entrevistas.

Também em Itaúsa e Itaú Unibanco aparecem compras por parte dos controladores. Por meio da assessoria, eles informam que foram pioneiros na criação de um comitê específico para a divulgação e negociação de valores mobiliários, composto por conselheiros, incluindo independentes e executivos do banco. Também ressaltam que adotam as melhores práticas de governança corporativa.

Nos formulários, é bastante comum ver transferências de ações para conselheiros, uma vez que eles precisam ser proprietários de pelo menos um papel para participar das reuniões.

No final do ano passado, a Credit Suisse Hedging-Griffo divulgou um relatório sobre o tema. O texto observa que essas negociações podem ser um bom termômetro para o desempenho futuro da companhia e até do mercado acionário como um todo.

"Intuitivamente pode se concluir que pessoas ligadas à administração de uma companhia possuem informações adicionais àquelas de domínio público simplesmente por estar envolvidas diariamente nas operações da empresa, conhecer profundamente o negócio e ter informações sobre o desempenho e resultado antes de se tornarem públicas". A corretora encara essas operações como uma "ferramenta adicional" em seu processo de análise.

Em outros países, existem índices e empresas especializadas que acompanham as negociações de "insiders" em tempo real. Para a Griffo, a criação de um índice no Brasil teria limitações metodológicas, amplificadas por conta do tamanho relativamente pequeno do mercado brasileiro, que dificulta a verificação da correlação esperada entre negócios de "insiders" e performance das ações.

Há fundos estrangeiros que mantêm atenção a esses informes e costumam seguir as decisões do controlador - acompanham suas compras e vendas -, apesar de ter acesso às informações apenas no mês seguinte.

Um analista que prefere não se identificar avalia que a exigência da divulgação já é um diferencial do mercado brasileiro. E, com o tempo, é possível que se alcance um formulário que não deixe dúvidas ao investidor. A CVM não pretende padronizar a divulgação das informações.

A obrigatoriedade da informação também serve para inibir as negociações feitas com má-fé, com uso de informação privilegiada, o que é crime.

José Rogério Luiz, vice-presidente executivo e financeiro da Totvs, se diz partidário da tese de que o procedimento de divulgação de informação melhora a condição de governança.

No caso da companhia, chamou a atenção vendas de ações em novembro do ano passado, da ordem de R$ 79 milhões.

O executivo explica que houve um ajuste das participações dos fundadores na holding que controla a empresa - um vendeu parte de sua participação para o outro. Mas, segundo Luiz, não mais que meia dúzia de investidores ligou para a área de relações com investidores pedindo esclarecimentos sobre a operação.

Dentre os formulários examinados pelo Valor, os divulgados pela aérea Gol foram os que mais esclareceram os investidores. Em janeiro de 2010, está lançada a transferência de uma ação e está explicado que a operação aconteceu por conta da chegada de um novo membro ao conselho. No mês de outubro, aparecem a compra de 21,8 mil ações e está esclarecido que as operações foram feitas pela Aller Participações, empresa vinculada ao diretor-presidente e conselheiro Constantino Oliveira Junior.

Rodrigo de Macedo Alves, diretor de mercado de capitais da Gol, destaca que as empresas brasileiras têm o dever de divulgar essas informações em função de a estrutura societária do país ainda ser muito baseada no controlador. "Lá fora o controle é pulverizado e as fatias de cada um são menores. Aqui, essa informação fica mais relevante", diz. (APR)

Fonte: Um Investimentos

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