SÃO PAULO - A fragilidade da economia norte-americana e o risco do entrar em nova recessão, somado ao cenário preocupante da crise fiscal na Zona do Euro, devastaram os principais índices de ações globais na sessão desta quinta-feira (4). Enquanto em Wall Street o pânico dos investidores fez o índice Dow Jones chegar a sua maior queda diária desde dezembro de 2008, por aqui o Ibovespa atingiu sua mínima desde 17 de julho de 2009, aos 52.811 pontos.
Com a bolsa em queda, há quem acredite que este é o momento oportuno para os investidores entrarem em determinados papéis, comprando-os com preços baixos para vendê-los em uma onda de alta. Por outro lado, como o cenário ainda imprime cautela e as perspectivas para o futuro mudam a todo momento, há quem também acredite que ficar fora do mercado seja a melhor opção, por ora. No geral, a dica de quem entende do assunto é que este é o momento certo para que o investidor reveja suas prioridades.
"O investidor que já estiver dentro do mercado deve ficar. Ele não deve vender seus ativos, a não ser que esteja precisando de dinheiro", avaliou o analista fundamentalista Pedro Galdi, da SLW Corretora. "Mas, quem estiver fora e querendo entrar, eu recomendo que espere", completou.
Segundo ele, o investidor precisa saber investir em um ativo que, apesar de ter caído na onda do mercado, deve mostrar uma retomada mais lá na frente. "Ele pode, porém, entrar se o intuito é aproveitar oportunidades pensando no longo prazo", complementa Galdi.
Ações de menor risco
A equipe de análise da XP Investimentos avalia que, neste caso, o investidor deve procurar por ações de menor risco e que não estejam diretamente ligadas ao cenário externo, como aqueles papéis de empresas com atividades nos EUA ou muito dependentes de exportações. "Esse investidor pode procurar por papéis de companhias de seneamento, telefonia, energia elétrica, concessões rodoviárias. Todos esses setores estão voltados ao mercado doméstico, menos passivos de riscos. É uma estratégia mais defensiva para o investidor que deseja aproveitar essas oportunidades do momento", ponderou.
Mesmo assim, a XP não recomenda que os investidores que estejam de fora da bolsa neste momento entrem no mercado. "É díficil a gente dizer se esse é um bom momento para entrar na bolsa ou não. Por exemplo, 2008 foi um bom ano para entrar na bolsa, pois, após o colapso do Lehman Brothers, os mercados ficaram muito baratos e depois se recuperaram. Mas, não podemos prever se é isso que está acontecendo agora. Se você me perguntasse em 2008 se aquele era um bom ano para entrar na bolsa, provavelmente eu diria que não", disse.
Queda irracional
De acordo com Galdi, a queda do mercado nesta quinta-feira foi irracional. "Os investidores estão precificando uma piora no quadro norte-americano. Então, alguém vê que as coisas estão feias lá fora, faz um resgate no fundo aqui e gera uma reação em cadeia, porque todo mundo vai começar a querer resgatar seus investimentos também e o gestor vai ser obrigado a vender os ativos para poder arcar com os resgates. É claro que essa venda vai acontecer pelo preço que o mercado está pagando, ou seja, muito baixo", explicou.
Segundo o analista da SLW, os investidores em um momento como esse se deixam levar pelo pânico generalizado e "vendem suas ações antes que suas perdas sejam ainda maiores do que já estão". O analista mencionou o forte volume movimentado na bolsa brasileira nesta quinta-feira, de cerca de R$ 10 bilhões, reflete esse comportamento dos investidores.
"O volume ficou bem acima do que a média dos últimos pregões. Pelo menos R$ 5 bilhões desse total foi de stop loss", disse Galdi, tendo em vista que muitos investidores deixam o stop loss, daí quando a ação bate nesse patamar é acionada automaticamente a venda do ativo.
Sexta-feira: o que vem pela frente?
Nesta sexta-feira (5), os olhos estarão voltados para a divulgação do relatório de emprego nos EUA. "Se ele trouxer dados positivos, pode ser que haja um alívo nos mercados. Mas, se os números forem negativos, então os investidores devem ampliar o pessimismo sobre a economia norte-americana e isso pode trazer ainda mais queda para os mercados acionários internacionais", explica Galdi.
Para a XP, não apenas a questão norte-americana deve continuar pressionando as bolsas globais, como também os desdobramentos da crise na Europa. De acordo com a corretora, o principal impacto negativo neste caso seria de um possível fim da Zona do Euro.
"Nunca houve isso antes na história, por isso não podemos nem imaginar a reação dos mercados. Mas, achamos que isso não deve acontecer de fato. No máximo pode haver uma cisão do bloco, com a saída de algumas economias periféricas. Isso até poderia ser visto como algo positivo, já que o bloco da Zona do Euro ficaria mais saudável financeiramente falando e os países que fossem eventualmente excluídos teriam a chance de fazer pacotes econômicos que fosse mais eficientes em suas recuperações", completou a equipe de análise da XP.
Fonte: InfoMoney
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