11/08/2011

Crise expõe previsão furada de analistas, que esperavam Bolsa em até 122 mil pontos

As projeções dos analistas de mercado para o desempenho da Bolsa estão longe de bater com a realidade. Mesmo tendo errado suas previsões em 2010, boa parte do mercado manteve expectativas bastante otimistas para a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) neste ano.

A maioria previa o Ibovespa (principal índice de ações da Bolsa paulista) acima dos 80 mil pontos em dezembro de 2011 –chegou-se a cogitar até 122 mil pontos.

A vida real, no entanto, parece não imitar as projeções. Na verdade, o Ibovespa só passou de 70 mil pontos este ano por 12 vezes, todas elas em janeiro.

Em meio à crise global, a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) chegou a cair abaixo de 49 mil pontos nesta semana –fechou aos 48.668,29 pontos na segunda-feira (8). Mesmo com uma retomada no dia seguinte, com alta de 5,10%, a Bolsa ainda acumula uma queda de 26,09% no ano.

Até a última sexta-feira (5), a queda acumulada da Bovespa ao longo de 2011 (-23,60%) era bem maior que a média dos mercados financeiros globais mais importantes, segundo avaliações feitas pela consultoria Tendências. Chegava perto até do resultado na Bolsa de Valores da Grécia, país que vive uma aguda crise econômica.
O que deu errado, afinal, com as projeções?

"Essas projeções são construídas com base em dados das empresas, mas há um elemento subjacente, que é o cenário econômico doméstico e global", explica Rogério Mori, professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

No final de 2010, segundo ele, havia uma perspectiva de que a economia seguiria se recuperando e os riscos de uma recessão eram moderados. "Agora, esses riscos voltaram de forma considerável e, por isso, o mercado está revendo para baixo suas expectativas de resultados."

A variação entre o que foi projetado e o que acontece no mundo real, segundo Mori, é um reconhecimento de que a economia não vai crescer tanto, e isso deve se refletir nas empresas. "As projeções serão revistas porque o cenário mudou."
Veja as projeções que tinham sido feitas para 2011

No final do ano passado, analistas, estrategistas e gestores de fundos estavam otimistas quanto a uma melhora do cenário externo em 2011, que se traduziria em um período mais positivo para o mercado acionário doméstico.

Por isso, se arriscaram a dar palpites que iam de 75 mil até impressionantes 122 mil pontos. Essa avaliação entusiástica foi feita em novembro de 2010 por Bem Laidler, do JPMorgan, levando em conta uma alta dos fluxos estrangeiros e remoções de fatores que pesaram sobre o índice em 2010.

Algumas corretoras, como Santander e Link, fizeram projeções "bottom up" para o índice –ou seja, considerando os preços justos calculados para as ações que compõem o benchmark. Nessas avaliações, o target do Ibovespa sobe –no caso do Santander, a projeção fica em 95 mil pontos; na Link, a variação frente à projeção tradicional é menor, ficando em 85 mil pontos.

Houve também quem traçou diversos cenários para o índice no ano. A Prosper, por exemplo, previu um "cenário referencial", em que o Ibovespa atingiria 79.200 pontos recompondo ganhos, mantendo a elasticidade histórica em relação ao custo de oportunidade da taxa de juros; no front macro, o cenário considerava uma elevação da taxa Selic para 12,25% ou 12,50% ao ano até dezembro e a Europa ainda passando por um momento adverso.

Já no caso do cenário "nicho Brasil", o Ibovespa chegaria a 85 mil pontos, em meio a uma melhora na economia dos EUA e da Europa, trazendo ao índice "uma elasticidade mais elevada característica de períodos com crescimento econômico real do PIB igual ou superior ao potencial"
Em 2010, projeções também não bateram com a realidade

Os receios com a recuperação dos Estados Unidos, a crise fiscal da Europa e o aperto monetário na China fizeram a Bovespa terminar 2010 com desempenho distante das previsões de analistas.

Muitos previam ao longo do ano passado que o Ibovespa conseguiria novos recordes históricos, e encerraria 2010 entre 74 mil e 75 mil pontos. Mas o Ibovespa terminou 2010 com 69.304 pontos, ou alta de 1% no ano.

Outro fato que não colaborou para que as projeções "dessem certo" foi o fraco desempenho das ações da Petrobras, que sofreram em meio ao longo processo de capitalização da estatal. As ações preferenciais da empresa amargaram queda de 23% em 2010.

Mas o fato de o Ibovespa não ter atingido --nem chegado perto-- das projeções para 2010 não desanimou os analistas. Mesmo com o índice ainda abaixo do patamar dos 70 mil pontos, a maior parte do mercado "previu" o Ibovespa acima dos 80 mil pontos em dezembro de 2011.

É pagar para ver.

(Com informações de InfoMoney e Reuters)

Fonte: Uol

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